Folha de S.Paulo

O sonho de Pérola Negra, uma cantora gospel

- WILLIAN VIEIRA

FOLHA

Quando a voz grave ecoou no estúdio, o empresário viu na negra de cabelos fartos uma sambista por despontar. Era 1967. Não era seu sonho ser cantora, brilhar nos palcos? “Tem que entrar na onda quem quiser se arrumar”, dizia a música de Jair Gonçalves que ela gravou naquele mesmo ano —um “samba com iê iê iê”. Romântica, ela acharia seu lugar de estrela na melancólic­a seresta e na canção sertaneja do interior.

Não só porque Carmen Sebastiana Silva de Jesus nascera em Veríssimo (MG). A filha de agricultor­es pobres tinha sonhos grandes. Da lida na roça fugiu, não para ser doméstica em São Paulo, mas para ser diva. Enquanto limpava e cozinhava, cantava — até que venceu o concurso de calouros na TV. Em 1971 gravou “Adeus Solidão”, sucesso imediato. Tinha uma carreira à frente, finalmente, a menina cujo primeiro par de sapatos calçou aos 15 anos.

Em 1972, seu disco “A Pérola Negra” foi bem comentado pela crítica. Com hits como “Ser sua namorada” e “Espinho na cama”, gravou, além de inúmeros compactos, 17 álbuns até os anos 90. “Minha mãe cantou em mais de 50 países”, conta a filha, Karla. Até que a carreira declinou, Carmen visitou a filha nos EUA e de lá retornou evangélica e cantora gospel. “Ela recebeu Cristo”, diz Karla.

No milionário mundo gospel, foram três álbuns pelo selo de R. R. Soares, líder da segunda maior igreja neopenteco­stal do Brasil. “Segura na Mão de Deus” era a primeira canção do primeiro deles. “Nova vida” era a última. Vendeu cem mil cópias, ganhou disco de ouro. Ali, seria para sempre uma estrela.

Após 2008, gravou o último álbum com o missionári­o (a primeira canção: “Contrato Fechado”), apareceu na TV, deu o ar de sua graça e parou. Morreu dia 26, de parada cardíaca. Tinha 71 anos. Diz a filha que ela preparava outro álbum. Não deu tempo. Sambista, seresteira, diva gospel, Carmem Silva se despedia em silêncio. coluna.obituario@grupofolha.com.br

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