Hesitação dos poemas visuais de ‘Taturana’ não depõe contra o livro
FOLHA
Fazer do poema um objeto-útil. Um produto de consumo, concebido a partir de formas claras e racionalmente planejadas, capaz de integrar a poesia à sociedade de massas que então surgia e nivelá-la com outras artes funcionais da modernidade como a arquitetura, a publicidade e o design. Esse era um dos projetos mais audaciosos da poesia visual do séc. 20.
Mas que, não raro, esbarrou num obstáculo inerente à sua visão entusiasmada do progresso: o risco de converter seus poemas-objetos em mera mercadoria cultural, de teor kitsch.
“Taturana” é o sétimo livro de poemas de Felipe Fortuna e sugere não fazer muito caso disso, ao tomar o poema visual como inspiração.
Para Fortuna, o “visual” não se resume à sua história, sendo, antes de tudo, “um objeto em trânsito”, sempre em busca de “provocar as regras (os semáforos, as faixas de pedestre, as placas)”, onde quer que se insinue.
Até aí, de acordo. Exceto pelo fato de o aspecto gráfico não ter um papel decisivo em muitos poemas de “Taturana”, sendo meramente decorativo. Daí o poeta preferir buscar a metáfora do seu livro na natureza, e não na sociedade pósindustrial em que vive: “a taturana sabe como o / poema queima onde toca / por onde passa”, “qui/sera o meu poema [fosse] o mesm/o rastro o mesmo veneno”. Essa hesitação não depõe contra o livro. Antes, o explica.
Isso porque o melhor de Taturana está justamente nos trechos que mais acentuam essa tensão entre a depuração técnico-formal do poema e as formas de vida que, calcadas sob a beleza gráfica da página, parecem repeli-la.
É o caso, por exemplo, dos poemas que tratam da recente situação política do país,