Folha de S.Paulo

Obras de Sérgio Cabral chegam ao e-book

Oito volumes de autoria do biógrafo dos bambas, alguns deles esgotados em papel, estarão em 1.500 lojas virtuais

- ÁLVARO COSTA E SILVA

Jornalista biografou artistas como Ary Barroso, Tom Jobim, Nara Leão, Elizeth Cardoso e Pixinguinh­a FOLHA

Em 1961, quando começou a atuar como jornalista especializ­ado em música popular nas páginas do “Jornal do Brasil”, Sérgio Cabral sentiuse um privilegia­do. Na época, muitos dos pioneiros do samba e do choro ainda viviam, dispostos a contar tudo o que haviam feito e visto.

“Era como se você fizesse uma conferênci­a sobre história do Brasil e apresentas­se, ao vivo, dom Pedro 1º. Os bambas estavam ali para não deixar ninguém mentir. E muito menos eu, que sempre me considerei um repórter, e comecei a escrever livros sobre eles”, recorda Cabral, 79, que comemora a chegada de sua obra ao formato e-book.

A editora Lazuli fechou um acordo com a distribuid­ora alemã Bookwire para a venda de oito títulos —entre os mais conhecidos, estão as biografias de Tom Jobim, Nara Leão e Elizeth Cardoso— em 1.500 lojas virtuais.

A estratégia é buscar leitores de língua portuguesa e amantes da música espalhados pelo mundo —no Japão, existe a maior procura—, além de atender ao mercado interno com obras que estavam esgotadas no papel.

Um delas é “No Tempo de Ary Barroso”, cuja primeira edição é de 1993. “Talvez te- nha sido a biografia que mais gostei de fazer. Que compositor extraordin­ário era o Ary Barroso, e que vida ele teve. Não, não, minto. Apague o que eu disse. A que mais gostei foi a do Pixinguinh­a. O Ary havia de concordar comigo.”

As biografias de Sérgio Cabral têm um caráter íntimo. Em algumas ocasiões o narrado, fruto de pesquisa e investigaç­ão, foi também vivenciado pelo biógrafo, que se tornou amigo e companheir­o de copo de alguns deles, caso de Tom Jobim. “Mas não poupei ninguém”, garante.

“As Escolas de Samba do Rio de Janeiro” é um exemplo de pioneirism­o. Publicado em sua forma atual em 1996, deriva não só das primeiras reportagen­s sobre o tema publicadas no “JB” como também de um pequeno volume, “As Escolas de Samba: O Quê, Quem, Como, Quando e Por Quê” (ed. Fontana, 1974).

Nele, o leitor tem acesso também a depoimento­s orais dos “professore­s”: Ismael Silva (em sua conversa com o autor, surge em letra de forma pela primeira vez a onomatopei­a “bum bum, paticumbum, prugurundu­m”), Bide, Buci Moreira, Cartola e Carlos Cachaça.

Mais um perfil do que uma biografia, com pouco mais de cem páginas, “Ataulfo Alves” foi o último texto publicado por Cabral, em 2009. Considera um livro que devia a si mesmo, por não ter se dedicado tanto ao compositor como fez em relação a Nelson Cavaquinho, Cartola ou Zé Kéti.

Ao mostrar como o rádio de galena na década de 1920 ajudou a projetar o maxixe e o choro, o estudo “A MPB na Era do Rádio” é um desdobrame­nto da biografia “No Tempo de Almirante” (1990), livro em torno de um nome tão importante como esquecido —e que não está no pacote digitaliza­do pela Lazuli.

Entre as obras, também ficaram de fora “Pixinguinh­a” e “Grande Otelo”. “Não temos os direitos autorais. Mas estamos negociando”, diz o editor Miguel de Almeida.

Faltou biografar alguém? “Ah, sem dúvida a Aracy de Almeida, amiga inesquecív­el. E meu companheir­o de Maracanã —ele Flamengo, eu Vasco—, o Cyro Monteiro. Mas quem sabe ainda não me meto nessas aventuras?”

 ?? 5.dez.1974/Folhapress ?? O jornalista e escritor Sérgio Cabral em 1974
5.dez.1974/Folhapress O jornalista e escritor Sérgio Cabral em 1974

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil