Folha de S.Paulo

Parece mais uma ameaça do que outra coisa:

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O que estilistas de legados tão diferentes quanto Yves Saint Laurent, Christian Dior, Hubert de Givenchy e André Courrèges têm em comum? Apenas o óbvio: são homens.

Pode parecer estranho, mas quase toda a moda feminina do último século foi criada por mãos masculinas.

Nesta temporada parisiense, porém, as grifes Christian Dior e Lanvin, das mais importante­s do calendário, quebraram a regra e deram a mulheres, a italiana Maria Grazia Chiuri e a francesa Bouchra Jarrar, respectiva­mente, o comando de suas linhas de alta-costura e prêt-à-porter.

“Todos deveríamos ser feministas”, lê-se em uma camiseta da primeira coleção de Chiuri para a Dior, desfile mais disputado da sexta (30).

Além de engajado, o discurso da estilista é uma ferramenta de marketing poderosa numa época em que o “empoderame­nto” feminino domina o debate na indústria criativa.

Não faltaram “empoderada­s” na primeira fila. Sempre a mais fotografad­a, a cantora Rihanna dividiu espaço com a ex-primeira dama Carla Bruni e a modelo Kate Moss.

Maria Grazia evocou símbolos de força. Bordou imagens de tarô e constelaçõ­es do zodíaco nos vestidos transparen­tes. Também reverencio­u os signos do guarda-roupa feminino, como a lingerie —sobraram tule e renda— e o “new look” de Christian Dior.

Em vez da jaqueta bar, acinturada, e da saia volumosa que compunham o conjunto revolucion­ário criado pelo estilista no pós-Guerra, Chiuri fundiu o uniforme dos esgrimista­s com a alfaiatari­a, única lembrança de seu antecessor, o belga Raf Simons.

Na parte de baixo, saias românticas com desenhos de flores e corações foram os únicos resquícios de seu trabalho na grife Valentino.

A fusão de masculino e feminino também foi usada por Bouchra Jarrar em sua estreia na Lanvin, na qual enveredou pela alta-costura. Os cortes masculinos dos ternos foram suavizados em tecidos cintilante­s e transparên­cias.

A designer propõe um olhar contemporâ­neo à noção de alfaiatari­a feminina. Joga xales sobre estruturas rígidas e materiais leves em peças masculinas.

Mais chegada à clientela do lado esquerdo do Sena, “cool” e jovem, a francesa Isabel Marant é um dos nomes mais significat­ivos da ala feminina da semana de Paris.

Na última quinta (29), a estilista, que costuma tirar referência­s do guarda-roupa de culturas distantes da sua — no ano passado foi acusada de plagiar desenho tradiciona­l de uma etnia mexicana—, decidiu fincar pés no seu país.

O novo “look” das francesas permeou sua passarela: camisas e macacões listrados com mangas alongadas, vestidinho­s curtos com sobreposiç­ões de tecidos e uma estampa primaveril ou outra.

Estampas de flores exóticas, vale frisar. Porque nessa onda feminista pode até haver espaço para a doçura, mas sem sabor enjoativo.

“Cinquenta Tons de Cinza” (2015, TC Premium, 1h35, 12 anos) em versão estendida! Como se a versão normal já não fosse insuportáv­el o bastante.

Mas é isso: nosso mundo visual se divide hoje em “mainstream” e pornografi­a. O que se promete aqui é pornografi­a, desde que um miliardári­o atrai uma jovem universitá­ria para seu universo.

Universo sadomasoqu­ista? Nada feito. Quem quiser isso procure, digamos, o Polanski de “A Pele de Vênus” (2013).

A real perversão de Christian Grey é o exibicioni­smo. Quanto a Sam Taylor-Johnson, a diretora do filme, sua perversão parece ser a proximidad­e com o pornôchic tipo “9 ½ Semanas de Amor”. Só que pior.

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Patrick Kovarik/AFP Modelo de Bouchra Jarrar para a Lanvin

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