CRÍTICA Britânicos tentam reverter a maldição dos 100 anos de vida
Livro mapeia rotas para uma era de carreiras e aposentadorias incertas
Uma certeza e uma dúvida assombram quem tem menos de 50 anos e vive de trabalho.
A certeza é que foi-se a época de se formar aos 20, fazer carreira e se aposentar aos 60.
A dúvida é que trabalho vai existir nos muitos anos que faltam antes de conseguirmos garantir a velhice tranquila.
Robôs e computadores vão substituir quais funções? A economia colaborativa acabará com empregos formais? Qual o impacto da tecnologia nos negócios e nas profissões?
E, se teremos que trabalhar até mais tarde, que tipo de saúde e vida social nos restará quando finalmente conseguirmos a aposentadoria?
O fato de que a vida humana durará cem anos é, afinal, bênção ou maldição? BÊNÇÃO OU MALDIÇÃO? Essa é a linha central de “The 100-Year Life” (“A Vida de 100 Anos”, lançado em junho e ainda sem tradução para o português), escrito por Andrew Scott e Lynda Gratton, professores da London School of Economics.
A mensagem é que ainda há tempo para criar um pla- no B. Como exemplo, traçam cenários para três personagens arquetípicos, Jack, que nasceu em 1945, Jimmy, nascido em 1971, e Jane, de 1998.
Jack formou seu patrimônio durante 40 anos, aposentou-se aos 62 e morreu aos 70.
No seu tempo, fazia-se carreira numa só empresa, e a fidelidade era recompensada com previdência corporativa.
Ele pôde contar com uma Previdência sustentada pela força de trabalho jovem e bem mais ampla que a parcela de idosos. Precisou poupar só 4% do salário para complementar a aposentadoria. HORA DE VIRAR A MESA Quando Jimmy chegou ao mercado de trabalho, porém, estabilidade deixara de ter valor. Com ela, minguaram os incentivos corporativos. A população envelheceu, e governos do mundo todo endureceram a aposentadoria.
Aos 45 anos e com expectativa de viver até os 85, Jimmy se dá conta de que, para se aposentar aos 62, como Jack, precisaria ter poupado mais de 17% do que ganha.
Com a economia instável e mudanças tecnológicas aceleradas, precisa dar uma guinada se quiser ter habilidades e saúde para os 25 anos de trabalho que ainda faltam.
Scott e Gratton fazem simulações para mostrar que Jimmy não precisa necessariamente ter um final de vida melancólico, caso tome a iniciativa de se “reinventar” já. JANE NA ERA DOS ROBÔS Já o que pode acontecer a Jane, que nem saiu da faculdade, depende muito das premissas dos autores para o futuro. Uma delas é que profissões baseadas em criatividade são as mais propensas a sobreviver na era dos robôs.
Por isso, e porque Jane viverá até os cem, ela não entrará direto no mercado de trabalho, como Jack e Jimmy.
Jane precisará de conexões sociais, flexibilidade e senso empreendedor. Passará ao menos dez anos viajando, fará trabalhos avulsos e parcerias, inventará novos serviços e modelos de negócios.
Durante cerca de 60 anos, experimentará várias fórmulas: emprego formal, empresa própria, terceiro setor, consultoria, pausas para estudar o a mistura de todas elas.
Demorará muito mais para acumular patrimônio e precisará cuidar melhor da saúde física, mental e social para aproveitar das décadas de vida que terá a mais. DESIGUALDADE À VISTA O livro acende alertas para pessoas físicas e para empresas, mas o recado mais importante —e pouco explorado— visa os formuladores de políticas públicas.
Se tudo se passar como os autores imaginam, a desigualdade aumentará muito nas próximas décadas.
Boa parte do trabalho braçal e parcela relevante do intelectual serão exercidas por máquinas. Diferenças de acesso a educação e capital social terão efeito cada vez maior nas oportunidades de emprego e na renda.
Famílias mais pobres não conseguirão poupar uma reserva para a velhice e devem empobrecer ainda mais com aposentadorias minguantes.
Sem saúde preventiva e bons tratamentos, terão ainda mais dificuldade para se manter ativos nas décadas de trabalho que a longitude da vida tornará obrigatórias. Andrew Scott e Lynda AUTORES Gratton EDITORA Bloomsbury Publishing QUANTO R$ 83 (280 págs.) ou R$ 36 na versão eletrônica AVALIAÇÃO regular ECONOMIA BRASILEIRA Como Matar a Borboleta-Azul AUTORA Monica Baumgarten de Bolle EDITORA Intrínseca QUANTO R$ 39,90 (272 págs.)
Economista examina as medidas do governo da ex-presidente Dilma Rousseff com uma linguagem coloquial. Descreve as ações como bem-intencionadas e desastrosas. MEMÓRIAS Against All Odds AUTORES Jorma Ollila e Harri Saukkomaa EDITORA Maven House QUANTO R$,90,70 (livro impresso na Amazon; 400 págs.)
Presidente da Nokia entre 1992 e 2006, Jorma Ollila descreve como a companhia se tornou líder em inovação durante o período. CARREIRA Gerações — Encontros, Desencontros e Novas Perspectivas AUTOR Sidnei Oliveira EDITORA Integrare QUANTO R$ 39,90 (240 págs.)
Sintetiza conteúdo de três obras publicadas pelo autor sobre a geração Y (nascidos a partir dos anos 1980), descrevendo sua origem, comportamento e impacto no mercado. COMPORTAMENTO The New Better Off AUTORA Courtney E. Martin EDITORA Seal Press QUANTO R$ 75,50 (Livro impresso na Amazon; 304 págs.)
Autora afirma que ideais de sucesso e felicidade vêm sendo redefinidos. Diz que objetivos como ter uma casa ou trabalho estável são impactados por novas formas de consumo.