Expectativas econômicas se descolam da realidade no país
Otimismo com o futuro aumenta, mas saída da recessão ainda é lenta
As expectativas dos brasileiros em relação ao futuro da economia do país se descolaram da realidade.
Consumidores e empresários têm se tornado otimistas sobre as perspectivas para os próximos meses, embora reportem uma situação corrente de melhora muito lenta ou ainda de retração.
Esse retrato começou a ser revelado pelas pesquisas de confiança dos últimos meses e se consolidou com as sondagens divulgadas nesta semana pela FGV.
Nos setores de comércio e construção, os índices que medem a expectativa em relação ao futuro estão aproximadamente 20 pontos acima dos que aferem a percepção da situação atual dos negócios. É a maior diferença registrada em ambas as séries históricas, iniciadas em 2010.
A esperança de recuperação do consumidor brasileiro supera em 22 pontos o sentimento em relação ao presente, o hiato mais significativo desde fevereiro de 2008.
Um detalhe interessante é que as expectativas do consumidor subiram em setembro, embora sua percepção atual tenha piorado.
O otimismo pode ser um importante motor de recuperação se redundar em consumo e investimentos. Mas para que isso ocorra as expectativas precisam ganhar lastro na realidade, o que ainda não tem acontecido.
“A percepção da situação atual está muito descolada da expectativa com o futuro. Em períodos de normalidade, esses indicadores andam juntos”, diz o economista Igor Velecico, do Bradesco.
O descasamento entre expectativas e realidade pode ser explicado pela intensidade da recessão vivida pelo Brasil nos últimos dois anos.
Embora haja alguns sinais de retomada, esse processo ainda é marcado por altos e baixos. Depois de ensaiar uma recuperação, a indústria, por exemplo, voltou a dar sinais de queda de produção em agosto. E o desemprego ainda está aumentando de forma disseminada.
O Bradesco, que esperava uma estabilização da atividade econômica no terceiro trimestre deste ano e uma leve recuperação no quarto, reduziu as duas projeções.
“O investimento ainda está com mais cara de estabilidade do que de crescimento”, afirma Velecico.
O economista menciona a produção de cimento —indicador da atividade na construção civil—, que caiu, por exemplo, em agosto.
Segundo Felipe Salles, economista do Itaú Unibanco, é comum que, em momentos de início de recuperação, os indicadores não progridam de forma linear.
“O importante é que estamos em um momento de inflexão”, afirma.
Mas ele ressalta que, para que a tendência de retomada ganhe fôlego, é importante que o governo aprove as medidas para controlar o crescimento do gasto público.
O Itaú Unibanco espera que, depois de contrair 3,2% neste ano, a economia brasileira cresça 2% em 2017 e 4% em 2018, principalmente por causa da alta ociosidade gerada pela recessão.
“Para continuar crescendo no ritmo de 4% depois, serão necessárias reformas para atacar problemas como a burocracia e o sistema tributário complexo”, diz Salles.
“
Daqui a seis, sete anos, quando eu, aposentado, for ao governo para receber o meu cartão, o governo não terá dinheiro para pagar
MICHEL TEMER
presidente da República