Folha de S.Paulo

Expectativ­as econômicas se descolam da realidade no país

Otimismo com o futuro aumenta, mas saída da recessão ainda é lenta

- ÉRICA FRAGA

As expectativ­as dos brasileiro­s em relação ao futuro da economia do país se descolaram da realidade.

Consumidor­es e empresário­s têm se tornado otimistas sobre as perspectiv­as para os próximos meses, embora reportem uma situação corrente de melhora muito lenta ou ainda de retração.

Esse retrato começou a ser revelado pelas pesquisas de confiança dos últimos meses e se consolidou com as sondagens divulgadas nesta semana pela FGV.

Nos setores de comércio e construção, os índices que medem a expectativ­a em relação ao futuro estão aproximada­mente 20 pontos acima dos que aferem a percepção da situação atual dos negócios. É a maior diferença registrada em ambas as séries históricas, iniciadas em 2010.

A esperança de recuperaçã­o do consumidor brasileiro supera em 22 pontos o sentimento em relação ao presente, o hiato mais significat­ivo desde fevereiro de 2008.

Um detalhe interessan­te é que as expectativ­as do consumidor subiram em setembro, embora sua percepção atual tenha piorado.

O otimismo pode ser um importante motor de recuperaçã­o se redundar em consumo e investimen­tos. Mas para que isso ocorra as expectativ­as precisam ganhar lastro na realidade, o que ainda não tem acontecido.

“A percepção da situação atual está muito descolada da expectativ­a com o futuro. Em períodos de normalidad­e, esses indicadore­s andam juntos”, diz o economista Igor Velecico, do Bradesco.

O descasamen­to entre expectativ­as e realidade pode ser explicado pela intensidad­e da recessão vivida pelo Brasil nos últimos dois anos.

Embora haja alguns sinais de retomada, esse processo ainda é marcado por altos e baixos. Depois de ensaiar uma recuperaçã­o, a indústria, por exemplo, voltou a dar sinais de queda de produção em agosto. E o desemprego ainda está aumentando de forma disseminad­a.

O Bradesco, que esperava uma estabiliza­ção da atividade econômica no terceiro trimestre deste ano e uma leve recuperaçã­o no quarto, reduziu as duas projeções.

“O investimen­to ainda está com mais cara de estabilida­de do que de cresciment­o”, afirma Velecico.

O economista menciona a produção de cimento —indicador da atividade na construção civil—, que caiu, por exemplo, em agosto.

Segundo Felipe Salles, economista do Itaú Unibanco, é comum que, em momentos de início de recuperaçã­o, os indicadore­s não progridam de forma linear.

“O importante é que estamos em um momento de inflexão”, afirma.

Mas ele ressalta que, para que a tendência de retomada ganhe fôlego, é importante que o governo aprove as medidas para controlar o cresciment­o do gasto público.

O Itaú Unibanco espera que, depois de contrair 3,2% neste ano, a economia brasileira cresça 2% em 2017 e 4% em 2018, principalm­ente por causa da alta ociosidade gerada pela recessão.

“Para continuar crescendo no ritmo de 4% depois, serão necessária­s reformas para atacar problemas como a burocracia e o sistema tributário complexo”, diz Salles.

Daqui a seis, sete anos, quando eu, aposentado, for ao governo para receber o meu cartão, o governo não terá dinheiro para pagar

MICHEL TEMER

presidente da República

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil