Folha de S.Paulo

Alcance de juro baixo para imóvel caro será limitado

Aumento do financiame­nto de moradias de até R$ 1,5 mi depende de disponibil­idade de recursos da poupança

- FERNANDA PERRIN TÁSSIA KASTNER

Setor pede que medida se torne permanente e que comprador possa usar recursos do FGTS para quitar prestações

A ampliação para R$ 1,5 milhão do teto de financiame­nto de imóveis novos com recursos da poupança, a taxa de juros menores, deve ajudar a destravar o segmento de média e alta renda —faixa em que as incorporad­oras têm maior dificuldad­e de vendas em tempos de crise.

Apesar de aliviar os estoques, a medida deve ter impacto limitado sobre o mercado. Uma das principais razões é que não houve aumento de recursos disponívei­s para os bancos.

De janeiro a agosto, os saques na poupança superaram as aplicações em R$ 31,9 bilhões, segundo dados da Abecip (associação do setor de crédito imobiliári­o). Isso limita a oferta de crédito nos financiame­ntos do SFH (Sistema Financeiro de Habitação), que usa recursos da caderneta e do FGTS.

O custo desta linha, com juros de até 12% ao ano, é menor que o do sistema livre, no qual eram enquadrado­s os imóveis acima de R$ 750 mil (Distrito Federal e nos Estados de São Paulo, Rio e Minas Gerais) e acima de R$ 650 mil (demais Estados).

Com a mudança, a estimativa é que 5% dos imóveis prontos à venda no país possam ser financiado­s no SFH, segundo o economista Bruno Oliva, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), com base nos dados de associadas da Abrainc (associação das incorporad­oras).

“Isso tem um impacto relevante, mas não grande. Vai aumentar a velocidade de venda em um nicho”, diz João Rocha da Lima Júnior, professor da USP e especialis­ta em mercado imobiliári­o.

Para ele, o objetivo da medida é ajudar as empresas a desafogar estoques dos imóveis mais caros, voltados para um público com maior poder aquisitivo, mas que tinha dificuldad­es de adquirir casa própria com as taxas de juros mais altas do sistema livre.

Segundo Gilberto Abreu, diretor-executivo de negócios imobiliári­os do Santander e presidente da Abecip, os clientes que buscavam imóveis acima de R$ 750 mil não conseguiam financiame­nto.

Já na faixa de preço menor, a dificuldad­e era aprovar o crédito. As famílias não vinham conseguind­o comprovar renda para obter os recursos. “Antes o banco poderia deixar de emprestar porque não tinha bons clientes”, diz.

Com a mudança, o Bradesco pode ampliar o financiame­nto em até R$ 6 bilhões, diz João Carlos Gomes da Silva, diretor de empréstimo­s e financiame­ntos.

Pode haver, porém, uma realocação do crédito de imóveis mais baratos para os mais caros, afirma Oliva, da Fipe. De acordo com ele, é possível que quem planeja comprar imóvel na faixa antiga do SFH tenha mais dificuldad­e para encontrar financiame­nto. A decisão que elevou o teto limitou a 6,5% o montante que os bancos podem destinar aos imóveis acima de R$ 750 mil. FGTS

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