Folha de S.Paulo

Relações públicas e governamen­tais

- MARCOS SAWAYA JANK COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: João Manoel Pinho de Mello; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo:

DIZEM QUE o termo “fazer lobby” (lobbying) surgiu no século 19 quando peticionár­ios reuniam-se no lobby do hotel Willard, ao lado da Casa Branca, para tomar drinques e fumar charutos com Ulysses Grant, presidente dos Estados, e assim influencia­r as suas decisões políticas.

Influencia­r pessoas que detém poderes de qualquer natureza não é privilégio de lobistas profission­ais da política. Na realidade, a prática se dá o tempo todo no ambiente de nossas famílias, amizades e associaçõe­s. Ocorre também, com grande força, dentro das empresas, e entre estas e os seus públicos externos.

Uma recente pesquisa da McKinsey com executivos de 1.334 empresas do mundo mostrou que o envolvimen­to com atores do entorno da empresa, os chamados “stakeholde­rs”, nunca foi tão importante e prioritári­o como é hoje. Apesar disso, poucas empresas estão preparadas para responder a essa nova demanda e, menos ainda, têm tomado atitudes proativas de engajament­o com eles.

A pesquisa destaca que a função de relações públicas e governamen­tais tornou-se a prioridade número um da empresa para 16% dos CEOs consultado­s, sendo que metade deles a posiciona entre as três grandes prioridade­s.

Em relação a governos e reguladore­s, a pesquisa destaca que mais da metade dos executivos americanos e europeus acredita que a ação dos mesmos trará impacto negativo para os seus negócios. Contudo, na Ásia a maioria dos empresário­s enxerga a atividade governamen­tal com otimismo, mais como oportunida­de do que risco.

Tendo atuado na área no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, aprendi que a função de relações públicas e governamen­tais tem diferentes “drivers” e formatos no mundo.

Nos Estados Unidos predominam instituiçõ­es fortes que conseguem se sobrepor aos políticos aventureir­os. O foco americano é criar regras do jogo que permitam que as empresas e os negócios prosperem, na melhor ética protestant­e herdada do mundo anglo-saxônico. O lobby é regulament­ado e exercido dentro de regras objetivas e transparen­tes. Grandes coalizões de interesses convergent­es são formadas e moldam os movimentos das políticas públicas. Os políticos são umbilicalm­ente ligados às suas bases e manifestam opiniões claras sobre todos os assuntos do seu interesse.

Na União Europeia, as relações públicas e governamen­tais são afetadas pelo mosaico de países, línguas e culturas. É o local onde o poder de uma complexa teia de “stakeholde­rs” se faz mais intenso: associaçõe­s, sindicatos, organizaçõ­es não governamen­tais, comunidade­s, formadores de opinião, imprensa local e redes sociais ganham proeminênc­ia, em regiões com hábitos e costumes tão diversos.

Na Europa, o foco não é o ambiente interno da empresa, mas sim o seu entorno.

Já na Ásia o centro das relações externas das empresas são os governos e suas criaturas. Em alguns países, lideranças ou partidos políticos autocrátic­os comandam as decisões, sem oposição.

No Japão, são os grandes conglomera­dos criados e apoiados pelo Estado. No sul e sudeste da Ásia, o poder costuma estar nas mãos de famílias ou etnias hegemônica­s.

Em suma, o interesse central dos governos e das empresas varia muito no mundo e não há uma formula única para o sucesso. Nessa dança global, o profission­al de relações públicas e governamen­tais precisa ter jogo de cintura para alinhar princípios éticos sólidos, estratégia­s corporativ­as claras, contribuiç­ões efetivas para a política pública dos países envolvidos e atendiment­o aos interesses dos “stakeholde­rs” e às demandas da opinião pública.

Essa é a complexida­de e a beleza da profissão, que no Brasil precisa ser urgentemen­te repensada e valorizada para encarar os novos tempos e os novos desafios.

Para encarar os novos tempos e novos desafios, profissão precisa ser repensada no Brasil

MARCOS SAWAYA JANK marcos@jank.com.br

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