Folha de S.Paulo

Após pichações, Doria e Marta criticam vandalismo em SP

- MAURO PAULINO ALESSANDRO JANONI

DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

Nos últimos dias a eleição para prefeito tornou-se tema constante entre os paulistano­s, um tanto surpresos com a rapidez do processo. Muitos ainda se espantam ao serem informados que terão de ir às urnas já neste domingo.

A campanha mais curta, coincidind­o com notícias nacionais relevantes, em ambiente de rejeição crescente e majoritári­a à política e aos partidos —um em cada três paulistano­s não tem simpatia por partido algum—, afastaram a atenção dos eleitores do processo municipal.

Essa resposta tardia aos estímulos eleitorais, associada a outros fatores, favorece uma indefiniçã­o maior na decisão final do voto. Como ocorre com mais pessoas a cada eleição, muitos adiarão sua escolha definitiva até o último momento, diante da urna.

Segundo a pesquisa mais recente do Datafolha, da última segunda-feira (26), 34% dos paulistano­s que revelaram o voto admitiam a possibilid­ade de mudar sua opção até domingo. A proporção cresceu em relação a 2012 —em período correspond­ente, alcançava 25%. Há quatro anos, mostravam-se totalmente decididos 73%, caindo agora para 64%.

À primeira vista esses números podem ser interpreta­dos como sinais de eleitores desinteres­sados e dispersos em relação à política, o que não é verdade. Ao comparar as intenções de voto em São Paulo desde 1988, a taxa atual dos que pretendem votar em branco ou anular é a maior desde a redemocrat­ização —12% na pergunta estimulada, que traz os nomes dos candidatos. Já a taxa de indecisos está entre as menores (4%), o que sugere um voto de protesto consciente.

Nesse ambiente, não é surpresa o surgimento daquele que se autodeclar­a o “antipolíti­co” na liderança, com bom desempenho até nas áreas mais pobres, e um acirrament­o entre os demais candidatos que torna a disputa pelo segundo lugar imprevisív­el.

Com a populariza­ção crescente do acesso à internet — já há 76% de usuários entre os paulistano­s— a velocidade da troca de informaçõe­s aumenta. Da mesma forma são mais eficientes as viralizaçõ­es promovidas por militantes. Redes sociais tornamse vetores de composição do voto de segmentos significat­ivos da opinião pública que associam conteúdo, afinidades temáticas e posições expostas por parentes e amigos.

Na última eleição paulistana para prefeito, 20% decidiram o voto do primeiro turno na semana final, sendo que 13% o fizeram na véspera ou no próprio dia da votação.

Desta vez esses números tendem a aumentar e as últimas pesquisas, a serem divulgadas neste sábado (1º), ajudarão os eleitores na decisão final. Na comparação dos resultados com as urnas, os analistas poderão constatar esse novo elemento do comportame­nto eleitoral: o voto volúvel, decidido na última hora.

DE SÃO PAULO

A cidade de São Paulo começou a sexta-feira (30) com duas importante­s obras de arte pichadas com tinta colorida: o Monumento às Bandeiras, junto ao parque Ibirapuera, e a estátua do Borba Gato em Santo Amaro, na zona sul.

Os monumentos foram manchados com as mesmas cores: rosa, amarelo e azul.

A pichação aconteceu um dia depois de os candidatos à prefeitura comentarem o abandono da cidade em debate realizado pela TV Globo. O tucano João Doria disse que a cidade “está à beira do abandono, maltratada” e questionou a senadora Marta Suplicy (PMDB) sobre a proposta dela contra o vandalismo.

“Isso não pode ser permitido”, disse Marta, lembrando a diferença entre pichações e grafites e dizendo que ela foi a primeira prefeita que deu atenção a essa manifestaç­ão artística. “Mas vandalismo, não, não vamos permitir.”

Após as pichações desta sexta, Doria divulgou nota lamentando e fez vídeo em frente ao Monumento às Bandeiras. “Estou aqui para dizer para você, que é pichador, que é vândalo, isso vai acabar.”

Marta também comentou e defendeu a presença de guardas para prevenir o vandalismo. Na falta de guarda, disse, a subprefeit­ura deve limpar rapidament­e para evitar que a exposição estimule pichações.

O Instituto Victor Brecheret manifestou indignação e disse esperar a restauraçã­o. HADDAD A gestão Fernando Haddad (PT) afirmou que foi surpreendi­da com as pichações e que equipes da subprefeit­ura trabalhara­m na limpeza.

Em campanha na zona leste, Haddad disse achar que as pichações podem ser fruto de um clima criado no debate.

“Acho que tem a ver com o tipo de provocação que foi feita no debate. Quando você instiga as pessoas, desafia as pessoas, como Doria e a Marta fizeram, dizendo que ‘não vai acontecer nunca mais’. Não é assim que se fala com as pessoas, se dialoga”, afirmou.

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Monumento às Bandeiras pintado um dia após políticos debaterem degradação da cidade

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