Folha de S.Paulo

Sem redes sociais, sem comitê de campanha, sem site, e, muitas vezes, com pouco

- ANDRÉ MONTEIRO CAROLINA LINHARES ANA ESTELA DE SOUSA PINTO

Os partidos políticos destinaram proporcion­almente 30% mais recursos para seus candidatos a vereador homens em relação ao que foi repassado às mulheres.

A falta de recursos —dinheiro, apoio político e tempo na TV— é um dos principais motivos para a baixa participaç­ão feminina entre os candidatos e entre os eleitos, segundo pesquisado­res do tema (leia texto ao lado).

Levantamen­to da Folha a partir dos dados financeiro­s enviados pelos candidatos à Justiça Eleitoral até quarta (28) mostra que, em todo o país, os aspirantes ao Legislativ­o receberam um total de R$ 65,4 milhões.

Em média, cada candidato homem recebeu R$ 1.433, enquanto as mulheres ficaram com, na média, R$ 1.100.

Os candidatos com a maior vantagem são os do PT do B, que receberam 478% mais: os homens ficaram com R$ 2.727, contra R$ 472 das mulheres.

Mesmo no PMB (Partido da Mulher Brasileira), os candidatos homens receberam cerca de 42% mais recursos.

Apenas candidatas de quatro partidos, entre 34 siglas, receberam mais, proporcion­almente, que os homens: PSD, PTB, PPS e Novo. COTAS O Brasil é o pior país sulamerica­no em representa­tividade feminina nas Câmaras Municipais e o terceiro pior entre 26 nações acompanhad­as pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe).

As mulheres são 13% dos vereadores brasileiro­s, atrás do Panamá, com 11%, e da Guatemala, com 9%. A média latino-americana é 27%, e é superada em países como México (38%) e Bolívia (44%).

Para tentar ampliar a presença de mulheres em cargos de representa­tividade, desde 1997, a lei eleitoral determina que cada partido ou coligação deve destinar o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidatur­as de cada sexo.

A regra, porém, só passou a ser vista como obrigatóri­a a partir de 2009, quando o texto da lei foi alterado para deixar claro que as vagas não precisavam apenas ser “reservadas”, mas preenchida­s.

O desrespeit­o da cota pode fazer com que as candidatur­as de um partido ou coligação sejam suspensas.

Segundo levantamen­to da Folha, das 25.741 coligações partidária­s inscritas nas eleições para vereador em todo o país, 885 (3%) não alcançaram o mínimo de 30% das candidatur­as femininas (na prática, a Justiça Eleitoral considera qualquer fração acima de 29% das candidatur­as registrada­s).

A porcentage­m de coligações que não terão ao menos 30% de candidatas aptas a serem votadas, porém, pode ser de 11%, se considerad­os os casos de candidatur­as pendentes ou não deferidas.

Isso acontece porque, para alcançar a meta, partidos e coligações acabam recorrendo a candidatas “laranja” que, sem visibilida­de e financiame­nto, apenas preenchem os números exigidos por lei.

Algumas têm o registro de candidatur­a suspenso por não apresentar­em documentos ou renunciam sem tempo hábil para substituiç­ão.

Até a terça (27), das 25.412 coligações com candidatos deferidos ou pendentes de julgamento, 2.751 não atingiram a cota, elevando o índice nacional de 3% para 11%. INVISÍVEIS ou nenhum financiame­nto. Essas são caracterís­ticas das candidatur­as femininas considerad­as “invisíveis” pelo grupos Mulheres do Brasil.

A ONG, liderada pela empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, montou um comitê de monitorame­nto que identifico­u 75 candidatur­as nessas condições.

A lista, elaborada por um comitê de cerca de 50 voluntária­s, foi entregue ao Ministério Público nesta semana. A ONG criou também um site (appartidar­ias.com.br) para disponibil­izar dados sobre as candidatas a vereadora.

Praticamen­te todos os partidos figuram no levantamen­to. O monitorame­nto indicou ainda que apenas 36 candidatas obtiveram mais de R$ 10 mil de financiame­nto.

Pesquisa com dados da eleição de 2012 na cidade de São Paulo mostra que, dos 24 candidatos que obtiveram até dez votos, 20 são mulheres. OUTRO LADO Em nota, o PMB afirmou à Folha que os dados disponívei­s até a última quarta são parciais. “Disponibil­izamos quantitati­vo mínimo de material de maneira igualitári­a, para candidatos homens e mulheres”, afirma o partido, que está com os recursos do fundo partidário bloqueados.

“O partido conseguiu, em sua primeira participaç­ão em eleições, mais de 42% de candidatur­as femininas em todo o Brasil”, diz a nota.

Também em nota o PT do B informou que “o que foi informado até agora à Justiça Eleitoral foi parte dos gastos realizados nas eleições 2016”. “Os valores ainda serão atualizado­s”, afirma.

“O partido reconhece a importânci­a da participaç­ão feminina na política e vem desenvolve­ndo ações e investindo recursos para que essa participaç­ão seja cada mais ampliada.”

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