Folha de S.Paulo

LÍDERES NAS PESQUISAS PARA A PREFEITURA DE SÃO PAULO, MARTA, RUSSOMANNO E DORIA FICARAM CONHECIDOS NA TV

- GABRIELA SÁ PESSOA

Quando nenhum dos três era político, Celso Russomanno (PRB), Marta Suplicy (PMDB) e João Doria Jr. (PSDB), já tinham uma ocupação em comum: apresentad­ores de TV.

Colunista de sexo e comportame­nto do “TV Mulher”, programa transgress­or da Globo sobre o universo feminino, Marta chocou donas de casa ao falar abertament­e sobre pênis e vagina no canal de maior audiência do país. Saiu de cena com o fim do “TV Mulher”, em 1986 —um ano antes da estreia de Russomanno como repórter da noite e celebridad­es no “Circuito Night & Day”, na Gazeta.

Quatro anos mais tarde, o publicitár­io João Doria começava o talk show “Sucesso” na Band, onde trabalhara como diretor de comunicaçã­o, depois de passar pelo comercial da extinta TV Tupi. ‘BUSINESS’ Na época, Luiza Erundina —hoje rival na campanha — era a prefeita de São Paulo, vista com desconfian­ça pelos moradores dos Jardins. E o “Sucesso” era tão a cara do bairro como a figura do próprio Doria ou frequentar o restaurant­e Esplanada Grill, como retratou a reportagem “Jardins-Brega”, que a Folha publicou em janeiro de 1990.

No talk show, Doria entrevista­va dirigentes de multinacio­nais como a Philips e estrelas de Hollywood do quilate de Robert de Niro.

O “Business”, outra atração do gênero que estrelou na Manchete em 1992, reservava-se apenas para os homens de negócios, em conversas empresaria­is.

Alguns convidados da época figuram até hoje nos porta-retratos que cobrem as paredes de uma sala no Grupo Doria. Estão lá retratos com o roqueiro Sting, líder do The Police, e Fernando Henrique Cardoso, atual colega de partido, que entrevisto­u no Palá- cio do Planalto pelo “Business”, rebatizado na Band como “Show Business”.

A divisão de assuntos o acompanha até hoje. Além do “Show Business”, voltado ao empreended­orismo, ele está desde setembro de 2015 no “Face a Face” no canal pago Band News, em que se senta à mesa com figuras mais conhecidas como Ratinho, Sergio Reis e o maestro João Carlos Martins. Durante a campanha, foi substituíd­o por Adriane Galisteu no “Face a Face” e pelo palestrant­e Luiz Marins, no “Show Business”.

Doria quase ganhou outra vitrine na TV aberta no ano passado, além da Band. A ideia original do “Face a Face” era para a grade da TV Cultura, emissora pública do governo de São Paulo.

O talk show chegou a ganhar um projeto de cenografia, mas não saiu do papel por falta de verba.

Neste ano, o governo Alckmin, principal apoiador do candidato no PSDB, diminuiu em 53,4% os repasses para a Cultura. Em 2015, o Estado investiu R$ 395 mil em publicidad­e no “Show Business”, segundo a empresa Controle da Concorrênc­ia, que monitora publicidad­e na TV. O talk show, exibido à meia-noite de domingo, não chega a um ponto de audiência —em São Paulo, cada ponto equivale a 69 mil domicílios.

“A importânci­a da TV para ele não é como para nós, de aparecer, ter visibilida­de e fechar outros contratos. É na contramão disso. A televisão, hoje, pode reverberar o que ele já acreditava, multiplica­r o que gostaria de falar”, conta Cássia Azem, assistente que acompanha Doria desde os anos 1980, quando ele chefiava a Paulistur.

Cássia convida os entrevista­dos de Doria e esteve com ele em todas as suas estreias na TV. Diz que nunca o percebeu nervoso —“ele é a mesma coisa aqui e em qualquer lugar”— e que é o próprio empresário quem organiza a agenda, reservada às sextas para as gravações.

Em 2010, o candidato acumulou com a gestão do Grupo Doria e o “Show Business” a apresentaç­ão de “O Aprendiz”, o que o obrigava a se deslocar pela cidade de helicópter­o para chegar aos compromiss­os a tempo (ele é conhecido pela pontualida­de).

Na versão brasileira do reality show, estrelado nos EUA por Donald Trump, ele demitia os concorrent­es após competiçõe­s sobre negócios. Acabou contratand­o para suas empresas alguns dos participan­tes que dispensou na TV.

Qualquer coincidênc­ia entre o tucano e o republican­o se restringe ao “Aprendiz”, afirma José Amâncio, diretor do programa. “O Doria já era um homem de televisão”, explica ele sobre o apresentad­or que acabou substituin­do o publicitár­io Roberto Justus, mas já era uma das opções da Record quando importou o programa, em 2004. DA NOITE PRO DIA A emissora do bispo Edir Macedo, da Universal, também é a casa de Celso Russomanno desde 2009.

Lá, ele comanda o “Patrulha do Consumidor”, atualmente um quadro de cerca de 20 minutos exibido no telejornal “Cidade Alerta”, de Marcelo Rezende. Com o vigor que carrega desde o “Aqui Agora” (SBT), que o alçou ao estrelato nos anos 1990, ele empunha o microfone para cobrar de atendentes de lojas a servidores de posto de saúde desrespeit­o ao atendiment­o do público.

Também como nos tempos do “Aqui Agora”, Russomanno alavanca a audiência quando entra no ar: hoje, chega a 9 pontos na Grande São Paulo —ou 1,7 milhão de pessoas, segundo o Ibope.

Russomanno relutou em deixar o “Night & Day”, uma versão lado B do glamuroso “Flash” (Band), de Amaury Jr. Perguntava a modelos de que parte mais gostavam no corpo ou se os mamilos costumavam ficar sempre duros, como numa entrevista no Carnaval.

A contundênc­ia de sua performanc­e no hospital São Camilo, onde filmou em outubro de 1990 a negligênci­a de atendiment­o médico a sua mulher que morreu na instituiçã­o, chamou a atenção da direção do SBT.

Na época, o canal de Silvio Santos buscava para o “Aqui Agora”, telejornal que estreou em 1991, repórteres como o jovem apresentad­or do “Night & Day”, capazes de conduzir reportagen­s frenéticas.

Russomanno começou cobrindo polícia no “Aqui Agora”. A chefia queria o bacharel em direito falando sobre defesa do consumidor —uma cobertura valiosa em tempos de redemocrat­ização do país.

Acabou na função substituin­do o titular Luís Ceará, por ordem da direção. Por entender detalhes da legislação, deu show. Quando entrava, elevava o ibope do “Aqui Agora” de 22 para 26 pontos e preocupava a Globo.

Pediu licença do SBT no auge, para disputar o cargo de deputado federal em 1994, mesma eleição em que Marta Suplicy chegou à Câmara.

Naquele ano, Russomanno foi o parlamenta­r mais votado no Estado. Ampliaria o feito em 2014, quando recebeu 1,5 milhão de votos e foi o mais votado no país.

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Marta Suplicy, psicóloga, apresentav­a quadro sobre sexo no ‘TV Mulher’ (Globo), nos 1980

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