Quire uma relação de afetividade com o espaço, porque ele tem uma história”, diz.
DE SÃO PAULO
Garimpar imóveis velhos e adaptá-los aos tempos modernos,preservandoalgumas de suas características originais, é o lema de paulistanos que buscam viver em espaços amplos e bem localizados — de preferência em edifícios históricos, assinados por arquitetos famosos.
A economista Ana Paula Rapolli, 37, é um exemplo disso. Há quatro anos, mudouse do Butantã (zona oeste) para o edifício Paulicéia, construído na década de 1950 na avenida Paulista (região central). “Eu gosto de imóveis velhos. Os novos têm muitos cômodos e pouco espaço.”
Ela comprou o apartamento, de 91 metros quadrados, por R$ 700 mil e investiu cerca de R$ 120 mil na reforma, que durou seis meses e incluiu a renovação de instalações, troca de revestimentos e alteração de portas. A única coisa mantida foi o piso de peroba-rosa, que ficava encoberto pelo carpete.
“Foi divertido reformar, o mais chato foi esperar. Hoje, tenho muito mais qualidade de vida”, conta Rapolli, que também tem uma quitinete de 28 m² no Copan (região central), edifício projetado por Oscar Niemeyer e finalizado em 1966.
Além de espaços amplos, há outros pontos positivos nas plantas construídas até a década de 1970. Pé-direito alto e lajes mais espessas —que ajudam no isolamento sonoro—, estão entre eles, afirma Ênio Moro Júnior, professor de arquitetura do Centro Universitário Belas Artes.
“O morador também adidade INVESTIMENTO A arquiteta Patrícia Diana, 39, viu potencial no negócio de relíquias urbanas e decidiu investir nisso com o marido, o administrador Otávio Leite, 39. Há cinco anos, criaram a Animacasa, empresa especializada em garimpar imóveis antigos, reformá-los e revendê-los.
Mais de cem apartamentos foram revitalizados pela empresa desde o início. O casal vive em um deles: um imóvel cm 170 m², construído da década de 1950 em Higienópolis (região central).
Para conquistá-los, os prédios devem ter boa localização e, de preferência, ter sido projetados por arquitetos de
As vantagens e desvantagens de comprar um imóvel antigo
renome. “Os edifícios abandonados se tornam assustadores com o tempo, mas nós conseguimos ver potencial e comprar por um preço bom”, afirma Diana. Segundo ela, o valor da reforma é de, em média, R$1.500/m² e valoriza o imóvel entre 30% e 40%.
A imobiliária Refúgios Urbanos, que atua somente em São Paulo, segue a mesma linha: é “feita para amantes da arquitetura”, segundo o engenheiro Octavio Pontedura, um de seus sócios. “Nossa intenção é resgatar a história e a identidade dos imóveis e trazê-los de volta.”
Nos anúncios de imóveis no site da empresa (refugiosurbanos.com.br), há o nome dos arquitetos que projetaram os edifícios e suas características mais relevantes.
A reforma, dependendo da do imóvel, pode ser radical e demorar vários meses. Mas, segundo arquitetos ouvidos pela Folha, pode sair mais em conta do que comprar um imóvel novo com o mesmo padrão e localização. QUEBRA-QUEBRA Umadasintervençõesmais comuns é a troca das instalações elétricas, explica Rafael Castelo, professor de engenharia civil da PUC-SP.
“A potência e o consumo dos equipamentos hoje são muito maiores que 50 anos atrás. A rede precisa ser atualizada, respeitando o limite de energia do prédio”, diz.
Também é necessário, em muitos casos, trocar as redes hidráulicas da residência, afirma Moro Júnior.
“Muitas tubulações eram de ferro, que não tem a vida útil muito grande. É possível que tenham se deteriorado”, explica. Ele recomenda que os canos sejam trocados por outros de materiais sintéticos mais modernos.
Marcos Carrilho, professor de arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, lembra que os imóveis antigos, em geral, têm menos banheiros e uma maior separação entre os cômodos. Isso pode ser motivo para mais quebra-quebra, porque a integração entre os ambientes virou regra hoje e quase todo apartamento tem suíte.
As mudanças, no entanto, devem respeitar alguns limites técnicos e preservar aspectos arquitetônicos.
“Não podemos apagar o que outros arquitetos fizeram. Temos que valorizar a sua obra, sem abrir mão da condição do seu tempo”, afirma Carrilho.