Folha de S.Paulo

Instituiçõ­es e direitos degradados

O governo atual não tem nada a oferecer, exceto uma repetição do fracasso econômico de longo prazo, que a população não aceitará

- MARK WEISBROT www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Quando Dilma Rousseff foi afastada definitiva­mente da Presidênci­a, em agosto, muitos qualificar­am o ocorrido como golpe.

A presidente não foi acusada de nada que pudesse legitimame­nte ser descrito como crime, e os líderes do impeachmen­t indicaram, em conversas gravadas, que queriam se livrar dela para suspender uma investigaç­ão sobre corrupção na qual eles e seus aliados políticos estavam envolvidos.

Outros avisaram que, empreendid­o esse caminho, ocorreria a seguir uma degradação maior das instituiçõ­es e do Estado de direito. Foi exatamente o que aconteceu, seguido pela repressão política que quase sempre acompanha esse tipo de “mudança de regime”.

No dia 4 de novembro, a polícia invadiu uma escola administra­da pelo Movimento dos Trabalhado­res Rurais Sem Terra (MST) em Guararema, no Estado de São Paulo.

Os policiais dispararam balas reais (não de borracha) e fizeram várias prisões, suscitando condenação internacio­nal. O MST é um movimento social poderoso que conquistou direitos à terra para centenas de milhares de brasileiro­s da zona rural nas três últimas décadas. Foi adversário destacado do golpe de agosto.

A politizaçã­o do Judiciário já era um problema de importânci­a maior no período que antecedeu o afastament­o de Dilma. Agora assistimos a uma corrosão maior das institui- ções, quando um juiz do Supremo Tribunal Federal emitiu uma liminar afastando Renan Calheiros da presidênci­a do Senado.

Calheiros desafiou a liminar e não abandonou o posto. O presidente Michel Temer então negociou com o restante do STF a manutenção de Calheiros no cargo. O grande receio de Temer e seus aliados era que o afastament­o pudesse fazer descarrila­r uma emenda constituci­onal escandalos­a que pretende congelar os gastos governamen­tais reais pelos próximos 20 anos, o que acabou sendo aprovado pelo Congresso.

Consideran­do que a população brasileira está projetada para crescer cerca de 12% nos próximos 20 anos e que a população também estará em processo de envelhecim­ento, a emenda é um inusitado compromiss­o de longo prazo com a pobreza crescente.

Vai “colocar o Brasil numa categoria socialment­e regressiva própria”, observou Philip Alston, relator especial da ONU para a pobreza extrema e os direitos humanos, descrevend­o a medida como um ataque aos pobres. Os cortes que o governo propõe para as aposentado- rias públicas vão atingir mais duramente a classe trabalhado­ra e os mais pobres.

A deterioraç­ão da democracia, do Estado de direito e dos direitos civis é o que ocorre quando uma elite corrupta utiliza uma “mudança de regime” ilegítima para aprovar à força mudanças estruturai­s grandes e regressiva­s para as quais jamais ganharia apoio nas urnas.

A mídia internacio­nal nos diz que o arrocho orçamentár­io é necessário e vai, na realidade, ajudar a arrancar o Brasil da depressão em que se encontra. Mas isso contraria a lógica econômica e contábil básica, além das evidências empíricas, incluindo a experiênci­a desastrosa do próprio Brasil desde o início de 2014.

Os juros exorbitant­es do país representa­m outra política macroeconô­mica fracassada que bloqueia a recuperaçã­o econômica. Esses juros são definidos pelo Banco Central e há décadas estão entre os mais altos do mundo, em termos reais.

O governo atual não tem nada a oferecer, exceto uma repetição do fracasso econômico de longo prazo de 1980-2003, que a população não vai aceitar. Vem daí a degradação que está promovendo das mais importante­s instituiçõ­es políticas do país. MARK WEISBROT CLARA ALLAIN

Além de desonestos, nossos parlamenta­res são mesmo viralatas. Alguns deles receberam R$ 17 milhões em propina para beneficiar a Odebrecht com medidas provisória­s que renderam à empreiteir­a quase R$ 8,4 bilhões. Nem roubar direito eles sabem (“Ação de delator no Congresso rendeu R$ 8,4 bi à Odebrecht”, “Poder”, 20/12).

ANTONIO PEDRO DA SILVA NETO

Salários dos vereadores Na contramão de tudo o que se pretende neste país, categorias mantêm o privilégio de definir seu próprio salário (“Vereadores aprovam aumento de 26% nos próprios salários”, “Cotidiano”, 21/12). Uma aberração! Não acabam nunca as maracutaia­s, os absurdos, os privilégio­s hediondos?

AIRTON KWITKO

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RESPOSTA DO JORNALISTA PAULO SALDAÑA -

Ao contrário do que diz a missivista, a reportagem não afirmou que a execução do orçamento está abaixo da média. Sobre a entrega de leite, a própria gestão admitiu a redução em outubro. Boas Festas A Folha agradece e retribui os votos de boas-festas recebidos de Cristovam Buarque ,senador (PPS-DF) (Brasília, DF), de Dimas Eduardo Ramalho, presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (São Paulo, SP), da Força Sindical (São Paulo, SP), de Stephanie Serino, Christophe­r LaLime, Mirella Carnicelli, Rosa E. Gozález, Claudia Patiño, Japhlet B. Attias e Maiara Montano ,do The New York Times News Service & Sindicate (São Paulo, SP), de Felsberg Advogados (São Paulo, SP) e de Roberto Moreira da Silva (São Paulo, SP).

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