Folha de S.Paulo

O governo federal vai aprovar a renegociaç­ão da dívida dos Estados desde que a recuperaçã­o fiscal seja assegurada.

- RUBENS VALENTE BELA MEGALE CAMILA MATTOSO JULIO WIZIACK

DE BRASÍLIA

Em documento tornado público nesta quarta (21), o DOJ (Departamen­to de Justiça) dos Estados Unidos afirmou que o grupo Odebrecht pagou US$ 599 milhões em propinas para servidores públicos e políticos brasileiro­s (R$ 1,9 bilhão ao câmbio atual) e mais US$ 439 milhões (R$ 1,4 bilhão) para agentes públicos de outros 11 países.

Do total repassado a brasileiro­s, segundo os americanos, US$ 349 milhões saíram da construtor­a e US$ 250 milhões da Braskem, o braço petroquími­co da Odebrecht.

Segundo o DOJ, os valores estão relacionad­os a “mais de cem projetos em 12 países, incluindo Angola, Argentina, Brasil, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guatemala, México, Moçambique, Panamá, Peru e Venezuela”.

Em troca dessas propinas, a Odebrecht obteve pelo menos R$ 12 bilhões, ao câmbio de hoje, em benefícios com contratos dentro e fora do Brasil. O esquema de repasses, de acordo com as autoridade­s americanas, funcionou de 2001 a 2016.

Os documentos foram revelados após a assinatura de um acordo entre Odebrecht, Braskem e Justiças americana e suíça.

O acordo faz parte da leniência, espécie de delação premiada da pessoa jurídica, que foi assinada no último dia 1º com membros do Ministério Público Federal do Brasil responsáve­is pela Lava Jato.

Na negociação, a Odebrecht se compromete­u a pagar R$ 6,9 bilhões em 23 anos. O montante será dividido entre Brasil, que ficará com 80%, EUA e Suíça, que ficarão com 10% cada.

Em comunicado, o DOJ informou que o valor da multa a ser pago pelo grupo baiano pode chegar a US$ 3,5 bilhões, com juros embutidos no período de 23 anos.

Os nomes dos países e os valores envolvidos eram desconheci­dos no Brasil até a publicação do DOJ. Alegando sigilo, a PGR (Procurador­ia-Geral da República), que conduz as delações dos funcionári­os da Odebrecht desde meados deste ano, nunca havia divulgado as informaçõe­s. ACORDO BILIONÁRIO Odebrecht e Braskem assinam acordo com EUA e Suíça Na Suíça Odebrecht reconhece que deixou de tomar medidas para evitar crimes, pagou propina para agentes públicos brasileiro­s usando bancos suíços e lavou dinheiro. Contas eram abertas só para repasse de suborno. A Braskem é acusada dos mesmos crimes

Os dados constam do documento “Informaçõe­s Odebrecht”, que acompanha o acordo assinado entre Brasil e EUA e é assinado por dois investigad­ores do governo norte-americano, Robert L. Capers, procurador de Justiça, e Andrew Weissmann, chefe da Seção de Fraude da Divisão Criminal do Departamen­to de Justiça. PERU E EQUADOR O documento descreve o pagamento de propinas em cada país, mas sem citar os nomes dos políticos envolvidos. Depois do Brasil, a Venezuela aparece como o país que mais recebeu propinas, cerca de US$ 98 milhões, seguida pela República Dominicana, com US$ 92 milhões.

Na Venezuela, diz o docu- Nos EUA A Braskem, que negocia ações na Bolsa de Nova York, é acusada de fraudar o preço de suas ações e violar normas do mercado de capitais. A Odebrecht é acusada de violar lei que proíbe empresas que mantém negócios lá de pagar suborno no exterior, chamada de FCPA (Lei Anticorrup­ção no Exterior) mento, a Odebrecht pagou “um intermediá­rio para ajudá-la a obter contrato com companhias estatais e controlada­s pelo Estado”.

O DOJ afirma que, na Argentina, a Odebrecht desembolso­u mais de US$ 35 milhões “em pagamentos corruptos para intermediá­rios com a compreensã­o de que esses pagamentos seriam repassados, em parte, para funcionári­os do governo”.

O documento descreve que, no Equador, a empreiteir­a pagou US$ 33,5 milhões em propina de 2007 a 2016. Entre 2007 e 2008, a Odebrecht “passou por problemas relativos a um contrato de construção, e concordou com um funcionári­o do governo equatorian­o que tinha controle sobre contratos públicos a fazer Maiores acordos já fechados nos EUA Em US$ milhões Siemens (2008) 800 Alstom (2014) 772 Halliburto­n/KBR (2009) 579 BAE Systems (2010) 400 pagamentos corruptos para servidores a fim de resolver os problemas”.

No período citado pelo documento, a Odebrecht teve sérios atritos com o presidente Rafael Corrêa, que acabou por determinar a “expulsão” da empreiteir­a do país por supostas falhas na construção da usina hidrelétri­ca San Francisco. Dois anos depois, em 2010, a Odebrecht foi autorizada a regressar ao país.

Sobre o Peru, os EUA disseram que foram pagos US$ 29 milhões em propina para funcionári­os do governo a fim de “assegurar contratos por obras públicas” de 2005 a 2014. A Folha apurou que uma das obras sob suspeitas é a construção da rodovia Transoceân­ica.

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