Folha de S.Paulo

Braskem falsificou registros para ocultar suborno

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DE BRASÍLIA

Segundo os documentos das autoridade­s americanas, a Braskem, braço químico da Odebrecht, “falsificou livros e registros” para ocultar os destinatár­ios de US$ 175 milhões dos US$ 250 milhões (R$ 813 milhões atuais) pagos em propina a brasileiro­s.

Os recursos pagos identifica­dos foram, ainda segundo o Departamen­to de Justiça dos EUA, indevidame­nte justificad­os por “contratos fictícios”.

De acordo com os americanas, a petroquími­ca pagou o montante a governador­es, membros do governo federal, congressis­tas e executivos em troca de benefícios de US$ 289 milhões (R$ 963 milhões).

Foi paga propina até para renovar contratos com a sócia Petrobras. Em 2005, a petrolífer­a e a Braskem discutiam parceria em um megaprojet­o petroquími­co no Rio de Janeiro. Ambas tinham contratos assinados, mas funcionári­os da Braskem descobrira­m que a Petrobras queria substituíl­a. Por isso, a empresa pagou para continuar na parceria.

Na sequência, a petroquími­ca passou a renegociar com a Petrobras a renovação do contrato de fornecimen­to de nafta (matéria-prima).

O assunto era prioritári­o porque poderia compromete­r o futuro da Braskem. Sem esse contrato, ela perderia competitiv­idade e seu valor de mercado despencari­a.

Nas negociaçõe­s, a Petrobras apresentou índices de cálculo do preço da nafta favoráveis à estatal. As conversas seguiram de 2009 a 2011 e a Braskem, dizem os EUA, pagou US$ 12 milhões (R$ 40 milhões em valores atualizado­s) a integrante­s do governo e altos executivos da Petrobras.

Segundo as investigaç­ões americanas, a maior parte das vantagens obtidas pela Braskem surgiu a partir da aprovação de quatro leis que garantiram desoneraçõ­es fiscais.

Por essas medidas, a empresades­tinouR$76,3milhõesem propinas a parlamenta­res. Parte foi paga por doação oficial de campanha e outra via caixa dois, relata a investigaç­ão.

Nos Estados, de acordo com os documentos, pelo menos quatro governador­es aceitaram propina via doa- ção de campanha em troca de novos investimen­tos e a manutenção do regime tributário que garantia à petroquími­ca pagar menos imposto.

O DoJ não mencionou os nomes dos envolvidos. Menciona que para um dos governador­es, a Braskem doou R$ 800 mil, sendo R$ 200 mil na campanha de 2006, e R$ 600 mil na de reeleição, em 2010.

Ainda segundo os EUA, a empresa se compromete­u a pagar US$ 957,6 milhões em indenizaçõ­es e multas. Desse total, 70% ficarão no Brasil (US$ 442,8 mi), 15% nos EUA e 15% na Suíça (US$ 94,8 mi cada). A SEC, regulador do mercado de capitais dos EUA, receberá US$ 365 milhões. (BELA MEGALE, CAMILA MATTOSO, JULIO WIZIACK E RUBENS VALENTE)

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Divulgação Refinaria da petroquími­ca Braskem em Triunfo, no RS

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