Folha de S.Paulo

É preciso ter controle sobre notícias falsas, afirma estudioso

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Professor da Universida­de Oxford sugere ‘filosofia da internet’ para evitar manipulaçõ­es

DE MADRI

O italiano Luciano Floridi, professor na Universida­de de Oxford, tem trabalhado na última década no projeto que passou a chamar de sua “filosofia da internet”: uma abordagem ética para os debates on-line.

Os comentário­s na internet deveriam, afirma, ser como os parques públicos: assim como não podemos levar os nossos cachorros a alguns gramados, tampouco deveríamos poder dizer o que bem entendemos em uma notícia que lemos na rede.

Tampouco deveria ser possível, ou permitido, circular notícias falsas na internet — como aquelas que marcaram 2016, especialme­nte na campanha eleitoral nos EUA.

“A questão é que, no contexto da democracia liberal, as pessoas pensam que têm o direito de dizer o que querem. Como no parque ou no trânsito, isso não é verdade”, diz em entrevista à Folha. Folha - As notícias falsas são um problema recente?

Luciano Floridi - Não. Elas existem desde que começamos a escrever. Mas, se você observar a história da imprensa e da comunicaçã­o de massa, sempre houve muito controle. Não necessaria­mente qualidade, e sim filtros. Hoje há meios sem controle. Mais pessoas têm a oportunida­de de causar estrago, e há interesse financeiro em sites de notícias falsas. na decisão pelo “brexit” no Reino Unido?

O impacto foi significat­ivo. A diferença entre ambos os lados não era tão grande e, se as mídias sociais influencia­ram em 10% dos votos, já pode ter sido determinan­te. As notícias falsas assustaram as pessoas e motivaram o voto. O risco das notícias falsas é especialme­nte grande agora, em comparação com o passado?

Esse é um momento doloroso de anarquia em que qualquer pessoa pode dizer qualquer coisa sem sofrer consequênc­ias diretas. No futuro, o controle de qualidade terá mais papel. Não de censura. Mas há regras nos parques públicos —poder levar animais ou não—, e a mídia social tem que ser igual. Precisamos ter uma troca de ideias de maneira civilizada, com bom comportame­nto. Neste momento, ainda estamos no meio do processo, aprendendo as lições para ter uma internet melhor. O que o senhor pensa sobre os comentário­s nas notícias on-line?

No contexto da democracia liberal, as pessoas pensam que têm o direito de dizer o que querem. Como no parque ou no trânsito, isso não é verdade. As pessoas têm o direito é de serem respeitada­s.

Li os comentário­s no meu artigo publicado pelo “The Guardian” e são, no mínimo, pouco educados. Se eu fosse o jornal, não permitiria.

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