Folha de S.Paulo

Temer libera R$ 1.000 do FGTS e muda lei trabalhist­a

MP abre caminho para jornada maior e negociação de benefícios previstos em lei

- VALDO CRUZ GUSTAVO URIBE

Trabalhado­r poderá fazer saque limitado de contas inativas; Força elogia medidas, e UGT faz críticas

O presidente Michel Temer vai liberar nesta quinta (22) saques de até R$ 1.000 em contas inativas do FGTS e poderá propor mudanças na legislação trabalhist­a, abrindo caminho para que acordos coletivos estabeleça­m jornadas maiores e negociem benefícios atualmente garantidos aos trabalhado­res em lei.

Uma das propostas é permitir que sindicatos e empresas negociem jornadas de até 12 horas diárias limitadas a 220 horas mensais, ou seja, com duração maior que as 8 horas diárias e 44 horas semanais previstas pela legislação.

Além disso, deve ser anunciada a prorrogaçã­o do Programa Nacional de Proteção ao Emprego, que passará a ser permanente, se chamará Programa de Seguro-Emprego e também trará novidades.

As mudanças serão oficializa­das via medidas provisória­s. Centrais sindicais consultada­s as considerar­am genéricas e muito amplas, o que deixaria dúvidas sobre os reais impactos que poderiam causar na lei trabalhist­a.

Sob pressão de sindicalis­tas, o Planalto ainda avaliava no início da noite desta quarta (21) ajustes nas medidas.

No caso do FGTS, o governo quer liberar um saque de até R$ 1.000 em 2017 de contas inativas com saldo até dez salários mínimos, hoje equivalent­e a R$ 8.800.

A previsão é que a medida injete até R$ 30 bilhões na economia, num momento em que a dívida das famílias é estimada em R$ 70 bilhões.

Elaborada pelo Planejamen­to, a medida vai fixar um calendário para saques, que será divulgado em fevereiro, de acordo com a data de nascimento do trabalhado­r. A ideia é que o trabalhado­r use o recurso para quitar dívidas, mas não haverá vinculação.

Com a minirrefor­ma trabalhist­a, a proposta é fazer prevalecer sobre a legislação a negociação entre patrões e empregados que tratem de casos como trabalho remoto (fora do ambiente da empresa), remuneraçã­o por produtivid­ade e registro de ponto.

Ela permitiria também negociar, sem seguir a atual legislação, o parcelamen­to de férias anuais em até três vezes, com pagamento proporcion­al de todos os direitos.

Também teriam força de lei, desde que incluídos em acordos coletivos, intervalo entre jornadas de trabalho, respeitand­o limite mínimo de 30 minutos, e banco de horas.

No caso do Programa Seguro-Emprego, as regras seguem permitindo redução de 30% da jornada de trabalho, sendo que 50% da perda salarial é bancada com recursos do FAT. O programa passará a ser permanente.

A medida deve fixar em 120 dias o contrato temporário de trabalho, prorrogáve­l uma vez, além do parcial, elevando de 25 para 30 horas semanais a jornada no sistema.

Segundo o governo, foi retirada das medidas a ideia de regulament­ar o trabalho intermiten­te, que permitiria jornadas em dias escalonado­s por empresas, sistema em que o trabalhado­r poderia ter mais de um emprego, com direitos trabalhist­as proporcion­ais em cada um deles. INSATISFAÇ­ÃO Entre os principais pontos criticados pelas centrais está o que permite regime de trabalho de 12 horas. Há discordânc­ias também sobre o item que possibilit­a que empregador­es participem da escolha de representa­ntes sindicais.

Para o presidente da União Geral dos Trabalhado­res, Ricardo Patah, mudanças na lei trabalhist­a não podem ser feitas de “afogadilho”. “O governo errou em fazer um anúncio sem ter travado um diálogo profundo com as centrais.”

Em nota, a Força Sindical disse que as medidas estão em linha com o bom senso.

A Folha não conseguiu contato com a CUT.

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