Folha de S.Paulo

TRANSIÇÃO PAULISTANA Marginal Tietê fica 19 meses sem atropelame­ntos fatais

Marca é atingida após redução das velocidade­s adotada na gestão Haddad (PT)

- ARTUR RODRIGUES RODRIGO RUSSO

A partir de 25 de janeiro, Doria (PSDB) ampliará os limites máximos na Tietê e Pinheiros, o que gerou série de críticas

A marginal Tietê não registra mortes por atropelame­ntos há mais de um ano e meio, de acordo com os dados do mais recente relatório da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) de São Paulo.

São 19 meses consecutiv­os sem nenhuma vítima morta nesse tipo de acidente. Os últimos óbitos de pedestres na via foram registrado­s pela prefeitura em março de 2015.

Em julho do ano passado, a gestão Fernando Haddad (PT) reduziu os limites de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros —de 70 km/h para 50 km/h na pista local, de 70 km/h para 60 km/h na central e de 90 km/h para 70 km/h na expressa.

Desde então, em um período de 15 meses até outubro deste ano, três atropelame­ntos resultaram em morte na marginal Pinheiros —queda de 67% na comparação com os nove acidentes fatais registrado­s nos 15 meses que antecedera­m a redução de velocidade adotada por Haddad.

Na marginal Tietê, de maio de 2014 a julho de 2015, a quantidade de atropelame­ntos com mortos havia sido ainda maior: 18 no total.

Esses números corroboram a tese de especialis­tas em segurança de trânsito, que citam estudos sobre a chance de morte em um atropelame­nto ser significat­ivamente menor conforme as velocidade­s são mais baixas.

“A cada 10 km/h a mais, há um efeito exponencia­l de maior risco nos acidentes, a progressão não é linear. Elevar os limites de velocidade aumenta bastante a gravidade potencial de colisões e atropelame­ntos”, afirma Luís Antonio Seraphim, que já foi técnico da CET e hoje é consultor em transporte­s.

Nesta semana, a equipe do prefeito eleito João Doria (PSDB) anunciou que a partir do dia 25 de janeiro os limites de velocidade vão aumentar nas marginais, com exceção da faixa da direita da pista local, que continuará a ter a máxima de 50 km/h.

A medida, que enfrenta críticas inclusive de instituiçõ­es parceiras da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), padrinho político de Doria, visa atender a promessa eleitoral.

A futura gestão argumenta que as marginais foram projetadas para suportar velocidade­s maiores e anunciou a implantaçã­o do programa Marginal Segura, com medidas de sinalizaçã­o, orientação e fiscalizaç­ão para diminuir os riscos de mortes nessas vias, principalm­ente para pedestres e motociclis­tas. TRANSIÇÃO Antes que os novos limites de velocidade entrem em vigor, a gestão Doria começará um processo de transição, a partir de 2 de janeiro, que in- clui a instalação de painéis eletrônico­s e placas, além de gradis e lombofaixa­s em vias que dão acesso às marginais.

“Quero muito que aconteça um milagre e que esse aumento de velocidade não impacte a letalidade dos acidentes”, afirma Ana Carolina Nunes, integrante da Cidadeapé (Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo).

Para ela, a longa sequência sem atropelame­ntos fatais na Tietê não significa que a condição ali não seja precária para os pedestres, mas deixa claro os impactos positivos da redução da velocidade.

De agosto de 2015 (primeiro mês completo com os limites mais baixos) a outubro deste ano, foram registrada­s 39 acidentes com mortos nas duas marginais, somando colisões com vítimas nos veículos e atropelame­ntos. São 38 casos a menos do que nos 15 meses anteriores, uma diminuição de quase 50%.

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