Vencida a questão logística das férias, ou seja, quem fica com as crianças e onde, pais
enfrentam novo dilema: o que fazer com elas na cidade?
Contornar o apelo da tríade TV, videogame e shopping, além da tentação de abarrotar a agenda dos filhos com atividades ao longo do dia, requer não criatividade, mas um retorno à simplicidade do brincar, apontam especialistas.
“A criança contemporânea que mora na cidade grande e vai pra escola desde cedo precisa de tempo e espaço para ser criança”, explica a diretora pedagógica Josiane Pareja, da escola Ateliê Carambola. “O brincar é a linguagem genuína da infância e nasce do ócio e da observação.”
Para a psicóloga e colunista da Folha Rosely Sayão, “as crianças são muito dirigidas o tempo todo”. “São poucas que conseguem, no meio de tantos comandos, descobrir o que gostam de fazer. Períodos de tédio e ócio permitem criação e encontro consigo.”
Segundo Josiane, para isso, é importante evitar espaços estressantes e cansativos. De acordo com a pesquisa “A visão da sociedade sobre o desenvolvimento da primeira infância”, do Instituto Maria Cecília Souto Vidigal e do Ibope, 81% dos pais brasileiros não sabem que brincar é importante para o desenvolvimento da criança.
“Nossa missão é conscientizar adultos sobre a importância do brincar e dar soluções práticas para que as crianças brinquem mais”, diz Patrícia Marinho, criadora do blog “Tempojuntos” e autora do livro “100 Brincadeiras Incríveis para Fazer com seus Filhos em Qualquer Lugar”.
No blog e no livro, ela cria propostas de brincadeiras simples, com copos descartáveis, fitas crepe e outros objetos não estruturados, como parte dos materiais recicláveis que iriam para o lixo. ESTAR JUNTO “Para mim, as férias das crianças são o momento mais esperado do ano”, diz a assessora Cristina Guimarães, mãe de Antônio, 8, Miguel, 6 e João, 5. “Trabalho em casa e tiro férias com eles. Devolvo eles para a escola, no final de janeiro, triste porque queria que as férias continuassem.”
O fisioterapeuta Alexandre De Maior também consegue se planejar para passar as férias com o filho Eduardo, 11. “Sempre quis participar do desenvolvimento dele, e as férias são a grande oportunidade de termos mais tempo juntos.”
Cristina diz notar certo desespero em outros pais com a chegada das férias. No primeiro dia do recesso escolar, ela e os filhos fazem juntos um planejamento do que eles querem realizar no período. A programação é escrita em uma cartolina, que é colada na sala. “Meu desafio é deixá-los o menor tempo possível na TV ou com eletrônicos”, diz.
Com sua “tropa”, como diz, Cristina usa a primeira semana de férias para colocar em dia dentista, oculista e pediatra. Depois, procura programas sem custo na cidade, como certas sessões de cinema e dias em museus.
Em casa, faz pintura no azulejo do box do banheiro, arrumação das fantasias e dos brinquedos, e bolos.
“Cada dia que passa é um dia vencido.”(FERNANDA MENA)