Folha de S.Paulo

Trama sobre eutanásia beira o melodrama, mas comove

- MARINA GALEANO

Park Chan-wooko. Se o horror é sua atração principal, ele é também porta de entrada para outras formas de medo que prolongam seu poder de corrosão depois que as luzes se acendem. (CÁSSIO STARLING CARLOS)

FOLHA

Aos 92 anos, Madeleine (Marthe Villalonga) já riscou do seu caderninho “subir escadas”, “dirigir” e outras tarefas cotidianas que a velhice lhe roubou. Disposta a “morrer de pé” e sem sofrimento, a lúcida senhora informa a família que decidiu quando e como vai partir.

Inspirado no livro autobiográ­fico da filósofa Noëlle Châtelet, sobre os últimos três meses de vida de sua mãe, Mireille Jospin, “A Última Lição” traz o espinhoso tema da eutanásia sob uma perspectiv­a honesta, direta, dura e, ao mesmo tempo, delicada.

Cansada das dores e dissabores decorrente­s da idade, Madeleine anuncia a polêmica decisão. Seu discurso, porém, desencadei­a uma série de conflitos familiares que expõem as fragilidad­es das relações e dos próprios indivíduos.

A primeira a tentar entender e aceitar a escolha de Maddie é a filha Diane (Sandrine Bonnaire). Embora tomada pela angústia diante da iminente morte da mãe, a professora reúne forças para apoiá-la e para reconstrui­r a história das duas, baseada em muito afeto e cumplicida­de.

Permeado por um contexto tão comovente, o filme não consegue se livrar do exagero. Em diversos momentos, a diretora francesa Pascale Pouzadoux pesa a mão no melodrama e chega perto da pieguice. Mas a parceria afinada entre Bonnaire e Villalonga se sobrepõe às escorregad­as.

Apesar dos deslizes, “A ÚltimaLiçã­o”,transmiteu­mamensagem tocante, especialme­nte àquelesque­convivemco­mpessoas de idade avançada.

Uma identifica­ção de provocar nó na garganta e de fazer pensar sobre como cada um enxerga seus velhinhos e seu próprio futuro. Caso não convença o espectador por esse viés, o longa ainda é válido por abordar um assunto controvers­o de maneira sensível e isenta de carga religiosa. (LA DERNIÈRE LEÇON) DIREÇÃO Pascale Pouzadoux ELENCO Marthe Villalonga, Sandrine Bonnaire, Antoine Duléry PRODUÇÃO França, 2016, 14 anos QUANDO estreia nesta quinta (22) AVALIAÇÃO bom

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