DA BARRA AOS MILAGRES
São Miguel dos Milagres e Barra de São Miguel têm paisagens parecidas, mas agradam turistas de perfis diferentes
As duas cidades levam São Miguel no nome, estão próximas de Maceió, em Alagoas, e têm populações que não vão além de 8.000 pessoas.
Ambas exibem ainda praias com areia branca e águas claras, que oscilam entre o azul e o verde. Nelas, recifes formam piscinas naturais.
Não são poucas as semelhanças entre São Miguel dos Milagres e Barra de São Miguel, mas as diferenças também saltam à vista.
A 100 km ao norte da capital, a primeira possui estrutura de hospedagem baseada em pequenas pousadas. De modo geral, é frequentada por casais ou famílias que buscam tranquilidade.
Já a segunda, a 30 km de Maceió, apresenta maior variedade de opções para receber os visitantes, o que inclui resorts e hotéis. As praias são mais movimentadas.
Em suma, Milagres é pra quem está atrás de água, areia, gastronomia e serenidade. Já Barra do São Miguel atende melhor àqueles que buscam praia sem abrir mão de agito e aventura.
Algumas das mais sublimes praias de Alagoas ficam em Milagres. Toque, Porto da Rua e Patacho guardam em comum as águas cristalinas, os coqueirais que contornam as faixas de areia e o vaivém ainda moderado de turistas, mesmo na alta temporada.
Na praia do Toque, jangadeiros com boas histórias pra contar levam pequenos grupos até as piscinas naturais.
Não é preciso ser expert em mergulho para observar peixes, corais, estrelas-do-mar. Basta um snorkel, fornecido pelo jangadeiro.
Aliás, no dia anterior ao passeio, veja com ele o horário ideal para a saída, que costuma mudar toda semana, conforme as marés. À medida que ela sobe, as águas se tornam mais turvas, comprometendo a visibilidade.
Ao menos por um par de horas, troque a água salgada pela doce. Um barco a remo conduz os visitantes ao chamado Santuário do Peixe-Boi, um trecho do rio Tatuamunha onde estão cerca de 70 desses mamíferos. Eles representam 10% do total desse bichos que vivem no Brasil.
No dia da visita da reportagem ao local, uma fêmea com cerca de 350 kg, Joana, subiu calmamente à superfície e se aproximou algumas vezes do barco.
São só dez passeios por dia, o que equivale a, no máximo, 70 pessoas. É preciso agendar com antecedência (associacaopeixeboi.com.br).
Tantos os jangadeiros quanto os guias da Associação Peixe-Boi demonstram cuidado para que as ações do turismo não prejudiquem a natureza da região.
Essa consciência, na verdade, parece prevalecer entre todos os setores que lidam com a visitação. “O objetivo não é restringir o turismo, mas ordená-lo”, afirma Taschi Greenhut, sócio da pousada da Amendoeira e um dos responsáveis pelo Instituto Yandê, ONG que promove na cidade ações educativas ligadas ao ambiente.
Esse zelo se mostrou menos evidente entre os motoristas que levam as pessoas às falésias na praia do Gunga, em Barra de São Miguel.
Ao menos no dia da visita da reportagem, quando veículos da empresa que possui a concessão para explorar o turismo de aventura na região percorriam as trilhas em meio aos coqueirais em velocidade acima do razoável.
À parte esse contratempo, as falésias merecem a visita. São grandes formações rochosas, de cores variadas.
Não se trata de cenário único (há outras falésias com essas características em Alagoas), mas as formações do Gunga se destacam pela monumentalidade.
Perto dali, na praia que leva o nome da cidade, partem barcos de pequeno porte rumo às piscinas naturais.
Boa opção é estender o passeio até a lagoa do Roteiro. Ao lado de um dos bem preservados manguezais da região, ocorre a pesca de ostras, a cargo dos moradores da comunidade de Palateia.
O azul sem fim do mar, visto a partir da lagoa, é dessas experiências inesquecíveis do litoral alagoano.
Naquilo que oferecem para a contemplação, as cidades voltam a se assemelhar.