Folha de S.Paulo

Capital alagoana surpreende com boa gastronomi­a

Primeiro restaurant­e peruano do Brasil e casa com cozinha regional contemporâ­nea são os destaques

-

DO ENVIADO A MACEIÓ

Como Floriano Peixoto, o segundo presidente da história do Brasil, está ligado a um dos melhores restaurant­es de Maceió? Que tipo de influência Gastón Acurio, o maior chef peruano, tem sobre a capital alagoana?

O circuito gastronômi­co da cidade de pouco mais de 1 milhão de habitantes reúne uma porção de curiosidad­es, mas não só. Há mais qualidade nos pratos do que o eixo RioSP costuma imaginar.

Se tiver que escolher só um restaurant­e em Maceió, vá de Wanchako (nome de uma praia no norte do Peru). No bairro da Jatiúca, a casa sustenta sua excelência nas referência­s variadas que guiam a chef Simone Bert, 55.

A começar pelo pai, João Simões, que deu a ela —ainda jovem— dicas de como conduzir uma pescaria. Depois, vieram as aulas de cozinha do Peru com a sogra, Carlota, após Simone se casar com o peruano radicado em Maceió José Luís, com quem comanda o restaurant­e.

Antes de abrir a casa, em setembro de 1996, ela ainda passou algumas semanas ao lado de Gastón Acurio, que é hoje o nome de maior prestígio da gastronomi­a peruana.

A chef não tem dúvida de que o Wanchako foi o primei- ro restaurant­e peruano no Brasil, pioneirism­o que teve custo alto na fase inicial.

Nos três primeiros anos, poucos se aventurara­m a conhecer a casa. “Naquela época, ninguém sabia o que era pisco”, conta Simone sobre a aguardente de uva, típica do Peru e do Chile.

Com o passar do tempo, contudo, o restaurant­e se consolidou como uma referência nacional. O cuidado na escolha de peixes e frutos do mar, e o fascínio da chef pelas receitas originais do país vizinho ficam evidentes em opções do cardápio, como o festival de ceviches (R$ 98, para até quatro pessoas).

Essa reverência ao Peru não a impede, contudo, de cometer atreviment­os, como o pulpo trujillano (R$ 80 para duas pessoas), um polvo suavemente grelhado, acompanhad­o de pasta de macaxeira, como o Nordeste e o Norte se referem à mandioca.

Situado na Jatiúca, assim como o Wanchako, o Maria Antonieta é uma casa italiana com ambiente sofisticad­o.

No cardápio do chef Breno Gama, 48, com cerca de cem pratos, uma boa pedida é o ravióli dos sonhos (R$ 65), recheado com mascarpone e coberto por camarões. No entanto, embora bem-sucedida, a cozinha não é o que a casa oferece de mais interessan­te. A adega se sobressai. O Maria Antonieta tem a melhor carta de vinhos de Maceió, com cerca de 500 rótulos. ‘MACARAJÉ’ O tour gastronômi­co em Maceió não deve, porém, se restringir a Jatiúca. Vale a pena se afastar 20 km dali e conhecer o bairro de Ipioca, onde está o Vila Chamusca, da chef Silvana Chamusca, 56.

Nascida na Bahia, mas de família alagoana, ela deixou uma carreira bem-sucedida na Petrobras para se dedicar à gastronomi­a.

Tinha um diploma do Senac debaixo do braço e a convicção de que era hora de abrir seu restaurant­e. Onde? “Quando subi o morro de Ipioca, eu enlouqueci”, conta ela sobre a vista de uma das praias ao norte de Maceió.

Com casas modestas e ruas estreitas, Ipioca é o bairro onde Floriano Peixoto nasceu, em 1839. O segundo presidente do Brasil foi batizado na simpática capela Nossa Senhora do Ó, que fica a poucos metros do restaurant­e.

A visita de Silvana ao bairro ocorreu em 2002 e, após quatro anos, nasceu o Vila Chamusca, que ela define como “cozinha regional contemporâ­nea”.

Não faltam bons pratos, como o filé de lagostim (R$ 120 para duas pessoas), mas as melhores pedidas estão nas extremidad­es: uma entrada e uma sobremesa.

O acarajé, como se sabe, tem como base massa de feijão-fradinho. Frito no azeite de dendê, como o quitute que o inspirou, o “macarajé” é feito com macaxeira e pode ser recheado com camarão, siri ou bacalhau. Servido como entrada (R$ 28, oito unidades), a invenção virou uma marca de Chamusca.

Outra prova do talento da chef para lidar com sabores nordestino­s é o pudim de queijo de coalho com calda de mel de engenho (R$ 11).

A gastronomi­a da região, aliás, é bem explorada em outras casas de Maceió, como o Picuí, de acento mais tradiciona­l, com foco no sertão, e o Akuaba, de raízes baianas, muito voltado aos pescados.

Um conselho? Reserve tempo e dinheiro para o turismo gastronômi­co na capital alagoana. (NAIEF HADDAD)

 ??  ?? Orla de Maceió
Orla de Maceió
 ??  ?? Porção de ‘macarajé’, acarajé com massa de mandioca, criação da chef Silvana Chamusca
Porção de ‘macarajé’, acarajé com massa de mandioca, criação da chef Silvana Chamusca
 ??  ?? Festival de ceviches do restaurant­e peruano Wanchako, que inclui robalo e camarão
Festival de ceviches do restaurant­e peruano Wanchako, que inclui robalo e camarão
 ??  ?? Sururu, marisco muito encontrado em Alagoas, no preparo da professora Tina Purcell
Sururu, marisco muito encontrado em Alagoas, no preparo da professora Tina Purcell

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil