Artistas, intelectuais e escritores agitaram a cultura da cidade
Autores como Graciliano Ramos e Jorge de Lima formaram grupo entre os anos 20 e 30
No final dos anos 20 e na primeira metade da década de 30 do século passado, Maceió tinha cerca de 100 mil habitantes, analfabetos em sua maioria.
Prevalecia na capital uma sociedade conservadora, que vivia basicamente em função das atividades agrárias.
É nesse lugar e nessa época que, surpreendentemente, forma-se um grupo de intelectuais de alto quilate, batizado posteriormente como “A Roda de Maceió”.
Entre eles, estavam os romancistas Graciliano Ramos e José Lins do Rego, o poeta e também romancista Jorge de Lima e o filólogo e ensaísta Aurélio Buarque de Holanda. Todos alagoanos, com exceção de Lins do Rego, que viera da Paraíba, eles ganharam projeção nacional nas décadas seguintes.
Em 1931, Jorge de Lima mudou-se para o Rio, mas nem por isso o grupo se enfraqueceu. Recebeu reforços de outros Estados nordestinos, como a escritora cearense Rachel de Queiroz e o artista gráfico e cenógrafo paraibano Tomás Santa Rosa.
Eles se reuniam principalmente no Ponto Central, um trecho da rua do Comércio, a via mais movimentada da cidade na época.
Conforme conta Dênis de Moraes em “O Velho Graça Uma Biografia de Graciliano Ramos” (editora José Olympio), os amigos passavam horas falando sobre literatura. Um dos temas corriqueiros era a Semana de Arte Moderna, de 1922, em São Paulo —Graciliano era especialmente crítico ao movimento.
A cidade de Maceió surge com nitidez em obras esboçadas ou escritas ao longo destes anos, como “Angústia”, uma das obras-primas de Graciliano, e “Calunga”, de Jorge de Lima. CONTRA GETÚLIO Em meio a goles de café ou cachaça no bar do Cupertino (onde hoje funciona uma ótica), no Ponto Central, eles também discutiam política.
Todos se opunham a Getúlio Vargas, de acordo com texto do jornalista Luis Gustavo Melo na revista “Graciliano”, dedicada à história e à cultura de Alagoas.
Em 1936, o autor de “Vidas Secas” foi preso pela ditadura Vargas sob acusação de ligação com o Partido Comunista e levado para o Rio. Outros expoentes da Roda de Maceió deixaram a cidade em busca de centros maiores.
Infelizmente, pouco resta da Maceió desta época. O Memorial Jorge de Lima, na praça Sinimbu, no centro, está em reforma. É nesse sobrado que o autor de “Invenção de Orfeu” viveu nos anos 20.
Como forma de lembrar esse passado, esculturas em bronze de outros alagoanos notáveis foram colocadas na orla em 2015, quando Maceió completou 200 anos.
Ambas são de autoria do mineiro Leo Santana, que havia feito a escultura de Carlos Drummond de Andrade, instalada no calçadão de Copacabana, no Rio.
Com um jeito circunspecto e um cigarro na mão esquerda, Graciliano mora no calçadão da praia de Pajuçara, uma das principais da área urbana. Já Aurélio, com um livro sob a mão esquerda, vive na praia vizinha, Ponta Verde. (NH)