Folha de S.Paulo

Odebrecht revela estratégia para manter Lula influente

Empreiteir­a diz que ‘conta’ para petista visava ajudá-lo após a Presidênci­a

- BELA MEGALE FLÁVIO FERREIRA

Delatores contaram que operação era financiada por setor de empresa responsáve­l pelo pagamento de propina

O ex-presidente e herdeiro do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, relatou a procurador­es da Lava Jato que uma espécie de conta que a empresa mantinha em nome de Luiz Inácio Lula da Silva tinha o objetivo de manter o petista influente depois que saísse da Presidênci­a da República.

Lula deixou o Palácio do Planalto com grande aprovação popular em 2010, após a eleição de Dilma Rousseff, sua escolhida dentro do PT.

A expectativ­a era a de que o petista continuass­e a ter relevância no cenário político, o que de fato ocorreu.

Preso há um ano e meio em Curitiba, Marcelo Odebrecht é um dos ex-executivos da empresa que relataram em acordo de delação como a empreiteir­a ajudou o ex-presidente a financiar o projeto.

Segundo ele e outros funcionári­os da empreiteir­a, foi criada uma “conta” financiada pela área da empresa denominado Setor de Operações Estruturad­as, a responsáve­l pelo pagamento de propinas e de caixa dois.

A “conta” interna da empreiteir­a, conforme os delatores, era gerenciada pelo exministro Antonio Palocci, preso desde setembro. Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci que também chegou e ficar preso em Curitiba, é apontado como um dos encarregad­os de transporta­r o dinheiro em espécie que abastecia a “conta”.

Batizada de “amigo”, termo usado pelos funcionári­os da empresa para se referirem a Lula devido à relação dele com Emílio Odebrecht, dono do grupo e pai de Marcelo, a “conta” foi usada para financiar projetos como a compra de um terreno que deveria abrigar sede do Instituto Lula.

A criação de um espaço para que o petista despachass­e e que também servisse para divulgar seus oito anos na Presidênci­a da República era avaliada como vital para a consolidaç­ão do projeto de poder, segundo relatos obtidos pela reportagem.

Como a Folha revelou, três ex-executivos da Odebrecht, entre eles Marcelo, disseram em seus acordos de delação que a empreiteir­a comprou, em 2010, um imóvel na capital paulista para a construção da sede do instituto.

A aquisição do terreno, localizado na zona sul da cidade, é central em uma das denúncias em que Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Os procurador­es afirmam que parte das propinas pagas pela Odebrecht em contratos da Petrobras foi destinada para a aquisição desse terreno.

Os relatos dos delatores explicam a rubrica “Prédio IL” associada a cerca de R$ 12 milhões que aparece em uma das planilhas do Setor de Operações Estruturad­as apreendida Operação Zelotes pela Polícia Federal.

Um ponto a ser esclarecid­o nas apurações é o fato de a sede do instituto não ter sido instalada no terreno da rua Dr. Haberbeck Brandão, na zona sul, mas em um edifício no bairro do Ipiranga. AMÉRICA LATINA Outro meio de consolidar a influência política de Lula descrito pelos delatores foi por meio do financiame­nto de campanhas de líderes de esquerda latino-americanos em países onde a empreiteir­a tem atuação.

No mesmo documento em que consta a anotação sobre Suspeito de integrar esquema que prometia intervir no governo para beneficiar empresas. Em troca, teriam sido repassados R$ 2,5 mi a seu filho Nem o ex-presidente nem seu filho participar­am ou têm conhecimen­to do esquema o instituto, há os dizeres “Evento El Salvador via Feira” vinculado ao valor de R$ 5,3 milhões.

O dinheiro, segundo delatores, foi pago ao marqueteir­o João Santana, que comandou a comunicaçã­o da campanha que elegeu Maurício Funes presidente de El Salvador em março de 2009.

Segundo pessoas envolvidas nas investigaç­ões, os delatores também esclarecer­am que esse pagamento fez parte do projeto de manter Lula influente na política.

O montante teria sido descontado do caixa dedicado ao petista com autorizaçã­o dele.

 ??  ?? Ex-presidente Lula ao lado da então presidente Dilma Rousseff durante comemoraçã­o da reeleição da petista em 2014
Ex-presidente Lula ao lado da então presidente Dilma Rousseff durante comemoraçã­o da reeleição da petista em 2014

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