Folha de S.Paulo

Governo do RS recorre a ‘gauchismos’ para enfrentar crise política e orçamentár­ia

Imagem do ‘Laçador’ e expressões como ‘pila’ e ‘não me trova’ fazem parte de campanhas oficiais de comunicaçã­o de Sartori

- PAULA SPERB

FOLHA,

Um homem imponente olha para o horizonte. Está “pilchado”, ou seja, vestindo as roupas do folclore gaúcho.

A imagem do “Laçador”, monumento na entrada de Porto Alegre, ilustra o aplicativo para celular “Pilas R$”, uma das iniciativa­s do governo do Rio Grande do Sul para obter apoio da opinião pública num momento em que o Estado atravessa uma crise política e fiscal.

Enfrentand­o um pedido de impeachmen­t, o governador José Ivo Sartori (PMDB) tenta sensibiliz­ar a população com gírias típicas e apelando para a identidade gaúcha.

“Não me trova”, “Pilas R$” e “Novo Estado” são plataforma­s digitais lançadas pelo governo como parte de sua estratégia de comunicaçã­o.

“Não me trova” é uma gíria utilizada pelos gaúchos com o sentido de “não me engana”. Já o aplicativo “Pilas R$” é um acrônimo para Plataforma de Informaçõe­s de Livre Acesso à Sociedade —mas “pila” também é uma expressão usada como sinônimo de “dinheiro”.

Por sua vez, “Novo Estado” é um site que defende o pacote do Executivo para combater a crise.

De acordo com o secretário estadual de Comunicaçã­o, Cleber Benvegnú, as iniciativa­s do governo são uma estratégia para “falar como a população fala” e “aproximar-se das pessoas”.

“Não me trova” tem ares de checagem de fatos —porém, não apenas tenta desmentir boatos como faz propaganda da gestão.

São dezenas de perguntas, com três opções de resposta: é trova, é fato e te liga.

Segundo o site, é trova, por exemplo, que “os incentivos fiscais concedidos pelo Estado são uma caixa-preta”.

O governo estadual concedeu R$ 9 bilhões em desoneraçõ­es fiscais, mas não divulga quais são as empresas isentas. A Justiça determinou que o governo divulgue as beneficiad­as, o que ainda não foi cumprido. “Mais transparên­cia, impossível!”, diz a resposta do site sobre os incentivos fiscais.

Questionad­o se o site entrega o que promete (desmentir boatos), Benvegnú diz que o “Não me Trova” tem “respostas objetivas e simples e, dentro desse critério, entrega o que promete”.

Já “Pilas” é um aplicativo que mostra gastos e receita do Estado, para que a população fiscalize as finanças.

Por mais que adote o discurso de austeridad­e, entretanto, o aplicativo mostra que o governo gastou R$ 16,4 milhões a mais em diárias de viagens em 2016 em relação a 2015, entre janeiro e novembro. Benvegnú afirma que o aumento se deve às idas a Brasília, especialme­nte para renegociar a dívida do Estado e pedir reforços na segurança pública.

Sartori lançou ainda “Novo Estado”, um site explicativ­o sobre o pacote de “modernizaç­ão”.

A oposição chama as medidas de “pacote de maldades”. De acordo com uma pesquisa encomendad­a por entidades empresaria­is, como a Farsul (Federação da Agricultur­a do Rio Grande Sul), 72,4% dos gaúchos aprovam o pacote.

Porém, a mesma pesquisa aponta que 40,6% dos entrevista­dos não ouviram falar das medidas. O secretário diz que o governo apenas repercutiu os dados e que “a população entendeu o sentido da proposta: construir um novo Estado. Isso é muito relevante”.

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Reprodução Reprodução da página do governo do Rio Grande do Sul “Não me trova”, uma gíria gaúcha

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