Bombas brasileiras mataram civis no Iêmen, diz ONG
Segundo Human Rights Watch, munição de fragmentação da Avibras, proibida em mais de cem países, foi usada por coalizão saudita
Bombas de fragmentação (cluster) fabricadas no Brasil pela Avibras teriam causado a morte de dois civis e deixado seis feridos, entre eles uma criança, em um ataque no dia 6 de dezembro no Iêmen, segundo relatório divulgado nesta sexta-feira (23) pela ONG Human Rights Watch.
As bombas de fragmentação contêm explosivos menores que se espalham e matam de forma indiscriminada. Além disso, muitas dessas bombas menores não explodem na hora, causando mortes de civis posteriormente.
Uma convenção de 2008, assinada por 119 países, proíbe a fabricação, venda e uso de armas e munição de fragmentação, mas o Brasil não é signatário.
Mais de 10 mil pessoas já morreram no Iêmen desde março de 2015, quando uma coalizão liderada pela Arábia Saudita começou uma ofensiva contra rebeldes xiitas (houthis) e forças leais ao exditador Ali Abdullah Saleh, que querem tomar o país.
Segundo a HRW, a coalizão usou os foguetes contendo as bombas de fragmentação brasileiras na cidade de Sadaa.
“O Brasil precisa saber que seus mísseis estão sendo usados em ataques ilegais na guerra do Iêmen”, disse Steve Goose, diretor da Seção de Armas da HRW. “O país deveria se comprometer imediatamente com a suspensão da produção e exportação de bombas de fragmentação.”
“De um lado, a diplomacia brasileira se empenha por resolução de conflitos; por outro, o Brasil viola direitos humanos ao vender bombas de fragmentação a países em guerra”, disse à Folha Nathan Thompson, pesquisador do Instituto Igarapé.
Também foram identificadas na guerra do Iêmen bombas de fragmentação fabricadas pelos EUA e pelo Reino Unido. Mas os americanos, que também não são signatários da Convenção, suspenderam em maio a transferência dessa munição para a Arábia Saudita.
Em 19 de dezembro, a coalizão anunciou que pararia de usar as bombas feitas no Reino Unido —mas não excluiu a possibilidade de continuar usando bombas fabricadas em outros países.
Armas brasileiras já haviam sido localizadas no Iêmen. Em outubro de 2015, a Anistia Internacional divulgou relatório afirmando que bombas de fragmentação do Brasil haviam ferido ao menos 4 pessoas em um ataque no norte do país.
Contatada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Avibras não havia se pronunciado até a conclusão desta edição.