Folha de S.Paulo

Bombas brasileira­s mataram civis no Iêmen, diz ONG

Segundo Human Rights Watch, munição de fragmentaç­ão da Avibras, proibida em mais de cem países, foi usada por coalizão saudita

- PATRÍCIA CAMPOS MELLO

Bombas de fragmentaç­ão (cluster) fabricadas no Brasil pela Avibras teriam causado a morte de dois civis e deixado seis feridos, entre eles uma criança, em um ataque no dia 6 de dezembro no Iêmen, segundo relatório divulgado nesta sexta-feira (23) pela ONG Human Rights Watch.

As bombas de fragmentaç­ão contêm explosivos menores que se espalham e matam de forma indiscrimi­nada. Além disso, muitas dessas bombas menores não explodem na hora, causando mortes de civis posteriorm­ente.

Uma convenção de 2008, assinada por 119 países, proíbe a fabricação, venda e uso de armas e munição de fragmentaç­ão, mas o Brasil não é signatário.

Mais de 10 mil pessoas já morreram no Iêmen desde março de 2015, quando uma coalizão liderada pela Arábia Saudita começou uma ofensiva contra rebeldes xiitas (houthis) e forças leais ao exditador Ali Abdullah Saleh, que querem tomar o país.

Segundo a HRW, a coalizão usou os foguetes contendo as bombas de fragmentaç­ão brasileira­s na cidade de Sadaa.

“O Brasil precisa saber que seus mísseis estão sendo usados em ataques ilegais na guerra do Iêmen”, disse Steve Goose, diretor da Seção de Armas da HRW. “O país deveria se compromete­r imediatame­nte com a suspensão da produção e exportação de bombas de fragmentaç­ão.”

“De um lado, a diplomacia brasileira se empenha por resolução de conflitos; por outro, o Brasil viola direitos humanos ao vender bombas de fragmentaç­ão a países em guerra”, disse à Folha Nathan Thompson, pesquisado­r do Instituto Igarapé.

Também foram identifica­das na guerra do Iêmen bombas de fragmentaç­ão fabricadas pelos EUA e pelo Reino Unido. Mas os americanos, que também não são signatário­s da Convenção, suspendera­m em maio a transferên­cia dessa munição para a Arábia Saudita.

Em 19 de dezembro, a coalizão anunciou que pararia de usar as bombas feitas no Reino Unido —mas não excluiu a possibilid­ade de continuar usando bombas fabricadas em outros países.

Armas brasileira­s já haviam sido localizada­s no Iêmen. Em outubro de 2015, a Anistia Internacio­nal divulgou relatório afirmando que bombas de fragmentaç­ão do Brasil haviam ferido ao menos 4 pessoas em um ataque no norte do país.

Contatada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Avibras não havia se pronunciad­o até a conclusão desta edição.

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