POLÍTICA EM CENA
Os recentes fatos da política nacional ressoaram nos palcos, seja em peças que debatiam o país, como “Nós”, do Grupo Galpão, seja em protestos em cena, com cartazes de “fora, Temer” e de crítica ao impeachment de Dilma Rousseff —caso da performance “Contra o Golpe no Brasil”, de Lia Rodrigues, encenada na Alemanha. Numa sessão de “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos” em março, Claudio Botelho fez um improviso em cena criticando Dilma e Lula. O público reagiu, gerando um bateboca entre ator e plateia. Chico chegou a desautorizar o ator de usar novamente sua obra na peça, mas voltou atrás após um pedido de desculpas de Botelho. “Exhibit B”, que recria os zoológicos humanos do século 19, com atores interpretando negros em situação de opressão, foi alvo de protestos e depois cancelada pela MITsp —apesar disso, seu diretor, o sul-africano Brett Bailey, diz se tratar justamente de uma obra antirracista. Depois, na mostra, artistas fizeram performance contra o racismo. Em outubro, o Condephaat (órgão do patrimônio histórico do Estado) deu, pela primeira vez, parecer contrário à construção de prédios ao lado do Teatro Oficina pelo Grupo Silvio Santos, proprietário do terreno. A disputa entre a companhia do diretor Zé Celso e o setor imobiliário dura ao menos 35 anos. Este foi um ano de perdas para a dramaturgia: o Nobel italiano Dario Fo, o americano Edward Albee, o inglês Peter Shaffer e os brasileiros Naum Alves de Souza, Consuelo de Castro e Carl Schumacher. Além do crítico de teatro Sábato Magaldi, do ator e palhaço Domingos Montagner e da atriz transexual Phedra de Córdoba. Com elenco majoritariamente negro e latino e fazendo uso de ritmos de rap e hip-hop para contar a história do primeiro secretário do Tesouro americano, o musical “Hamilton”, de Lin-Manuel Miranda, virou um fenômeno pop —com sessões disputadísimas. Levou o Pulitzer de teatro e 11 prêmios Tony. Entre as interpretações que marcaram o ano está a transformação da atriz Juliana Galdino no centenário decrépito Eulálio D’Assumpção de “Leite Derramado”, adaptação do diretor Roberto Alvim (da companhia Club Noir) para o livro de Chico Buarque. Pelo papel, Galdino concorre a um Prêmio Shell.