Folha de S.Paulo

As previsões e os fatos

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BRASÍLIA - “Rombo nas contas do governo é o maior em 20 anos”. “Utilização de capacidade da indústria cai à mínima histórica”. “Pela primeira vez em 12 anos, shoppings fecham mais lojas do que abrem”. “Varejo tem queda no Natal”. “Mercado reduz projeção do PIB”. “Desemprego deve subir ainda mais em 2017”.

Todas as manchetes acima foram recolhidas no noticiário on-line desta segunda (26). Elas ilustram o desânimo da economia brasileira na reta final do ano, em que os fatos insistem em contrariar as previsões oficiais.

No início de 2016, era comum ouvir que o impeachmen­t resultaria na retomada imediata do cresciment­o. Em março, o empresário Flávio Rocha, da Riachuelo, dizia que a volta dos investimen­tos seria “instantâne­a”. Em setembro, o ministro Eliseu Padilha se gabava: “A esperança está se convertend­o em confiança”.

Os dois parecem ter confundido desejo com realidade. Os investimen­tos sofreram um tombo de 3,1% no terceiro trimestre, segundo o IBGE, e a confiança da indústria acaba de registrar o menor índice em seis meses, de acordo com a FGV.

As previsões róseas se baseavam na crença de que bastava trocar de presidente para tirar a economia do atoleiro. Com lama pelas canelas, os mais otimistas deveriam dar uma olhada no exemplo da Argentina.

Quando Michel Temer nomeou sua equipe econômica, os entusiasta­s da “fada da confiança” festejaram semelhança­s com o time ultraliber­al de Mauricio Macri. Nesta segunda, o presidente argentino demitiu o ministro da Fazenda. Se é possível fazer alguma previsão para o início de 2017, é de que a pressão sobre Henrique Meirelles vai aumentar.

É incrível que Fernando Haddad se recuse a comentar a pesquisa Datafolha que expressa a opinião dos paulistano­s sobre seu governo.

Se as derrotas servem para ensinar alguma coisa, parece que o prefeito se recusa a aprender.

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