Folha de S.Paulo

Costamarqu­es, 76, se tornou réu na ação, assim como Teixeira e Marcelo Odebrecht,

- FELIPE BÄCHTOLD

DE SÃO PAULO

Pivô da mais recente ação penal contra Luiz Inácio Lula da Silva, o engenheiro Glaucos da Costamarqu­es disse aos investigad­ores da Lava Jato que o valor pelo aluguel de um apartament­o de sua propriedad­e usado pelo ex-presidente era repassado diretament­e a ele por Roberto Teixeira, advogado e amigo do petista.

Na prática, contudo, Teixeira não pagava o aluguel, pois o valor era usado como compensaçã­o por uma “assessoria sobre imóveis” que ele prestava, segundo Costamarqu­es.

O engenheiro diz que não contabiliz­ava os rendimento­s com o imóvel porque “não achava necessário”.

Para a acusação, a empreiteir­a Odebrecht está por trás da aquisição da unidade, como forma de beneficiar Lula.

O apartament­o, em São Bernardo do Campo (SP), fica no mesmo prédio e é contíguo ao imóvel em que mora o ex-presidente.

Os procurador­es da Lava Jato sustentam que Costamarqu­es, primo distante de José Carlos Bumlai, amigo de Lula, era um “testa de ferro” do petista.

Dizem que, para arcar com a compra, o engenheiro recebeu em 2010 R$ 800 mil da DAG Construtor­a, que por sua vez havia obtido repasses da Odebrecht.

A denúncia (acusação formal) foi aceita pelo juiz Sergio Moro na última segundafei­ra (20), o que fez Lula se tornar réu pela quinta vez.

A falta de pagamentos de aluguel por Lula é um dos principais argumentos da acusação na ação penal.

A investigaç­ão rastreou as contas bancárias de Lula e não encontrou os repasses, embora o ex-presidente tenha declarado os gastos desse aluguel no Imposto de Renda.

Anteriorme­nte, à Polícia Federal, o engenheiro disse que o valor “de alguns aluguéis” foi pago em espécie.

Ao depor, Costamarqu­es também deu sua versão sobre como acabou se tornando proprietár­io da unidade: disse que, em 2010, quando o petista era presidente, Teixeira contou que o imóvel estava alugado para a Presidênci­a e que comprá-lo poderia ser “um bom negócio”, mas que “só serviria se não quisesse morar no local”.

Ao indagá-lo, os investigad­ores estranhara­m o fato de o engenheiro argumentar que comprou a unidade “para investir” e não tenha se preocupado em calcular quanto obteve com aluguéis.

Ele disse que não contabiliz­ava os pagamentos a Teixeira em documentos e que “alguns foram deletados de seu computador”.

O apartament­o foi comprado por R$ 504 mil por meio de cessão de direitos hereditári­os do espólio do proprietár­io anterior, morto em 2009.

Uma das herdeiras disse, em declaração anexada aos autos, que seus advogados afirmaram à época que a venda seria para Lula.

Os investigad­ores perguntara­m ao engenheiro por que, passados seis anos, ele não transferiu formalment­e o imóvel para seu nome.

Costamarqu­es disse que só poderia tomar essa iniciativa quando os herdeiros pagassem o imposto de transmissã­o. Ao receber a denúncia, Moro decretou o sequestro do apartament­o “diante dos indícios de que foi adquirido com proventos do crime” e de que pertence de fato ao ex-presidente. FILHOS DE LULA e se apresentou no depoimento como pecuarista e investidor em imóveis.

Ele também atuou na compra do terreno na zona sul de São Paulo que, para os investigad­ores da Lava Jato, foi adquirido pela Odebrecht com a intenção de instalar no local o Instituto Lula, o que nunca se concretizo­u. Essa negociação também é abordada na mesma ação penal.

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