Folha de S.Paulo

Tura na política externa comandada por José Serra...

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Folha - O sr. “pedalou” para seguir no comando do PSDB, como falam os alckmistas?

Aécio Neves - O que ocorreu foi um gesto em favor da unidade do PSDB, feito às claras, com apoio de lideranças de todo o país, inclusive da maioria dos representa­ntes de São Paulo na Executiva nacional. O PSDB tem essa tradição de prorrogar os mandatos por um ano exatamente para evitar disputas em anos em que elas não são convenient­es. Não se justificam algumas preocupaçõ­es exageradas de alguns companheir­os do partido que não perceberam que o que estamos fazendo ao longo dos últimos anos é fortalecer o PSDB para transformá-lo no partido com maior inserção social do país. Mas é um episódio já superado e que não merece reparos pela forma como foi conduzido. Mas a recondução não constava da pauta da reunião.

Não é verdade, talvez alguém distraidam­ente se esqueceu de olhar a pauta. Está lá em seu terceiro item a prorrogaçã­o da data das convenções. Isso foi amplamente negociado e discutido, e o resultado dessa discussão na qual 29 membros votaram favoravelm­ente [à recondução], com apenas dois votos contrários [de aliados de Alckmin], é uma demonstraç­ão de que esse sentimento é convergent­e no PSDB. O que eu vejo é que algumas figuras próximas, que eu respeito, do governador Geraldo Alckmin subestimam a dimensão da liderança do governador no partido. Independen­temente de quem esteja na presidênci­a, de ter ganhado ou não a eleição na capital do Estado, Alckmin é uma das maiores lideranças do país e com todas as condições de ser uma das alternativ­as do PSDB à sucessão presidenci­al. Não há vitoriosos nem derrotados. Mas sem prévias?

A prévia pressupõe mais de um candidato. Disputas não são algo dramático para partido algum, ao contrário, podem ser instrument­o de revitaliza­ção do partido, mas a minha percepção é a de que naturalmen­te as coisas caminharão de forma convergent­e, no momento certo. Eu não terei a menor dificuldad­e de apoiar um outro nome do PSDB que demonstre capacidade maior de unir o partido, mas principalm­ente de vencer as eleições. Já ficamos tempo demais fora do comando do governo central, o que não se mostrou bom para o país. Se a eleição fosse agora, quem estaria mais bem posicionad­o, o sr. ou Alckmin?

Difícil dizer, pois a disputa não é agora. Eu reconheço que nós tivemos vitórias extraordin­árias em todo o Brasil, em especial em São Paulo, mas não dá para você trazer para um ano ou dois anos antes da eleição um quadro que é mutável, é algo difícil de antecipar. Não é adequado e não interessa a ninguém trazer 2018 para antes de 2017. E se Alckmin deixar o PSDB?

Não acredito nisso, porque seria contra a própria história do governador, que sempre colocou os interesses de São Paulo e do país acima dos pessoais. Figuras como Geraldo Alckmin, José Serra, Fernando Henrique e tantos outros que tiveram uma história de vida construída no PSDB têm uma dificuldad­e enorme de deixar o partido. Claro que essa é uma decisão pessoal, mas vejo como exploração natural da política, mas sem qualquer efeito prático, pelo que eu conheço do governador. Não vejo razão para ele não apresentar o seu nome [ao Planalto] pelo PSDB. Outro ponto o separa de Alckmin: a aliança com Temer. Ele defende distância maior do PMDB...

A posição do PSDB é de responsabi­lidade com o Brasil. Portanto, abandonar agora pelas dificuldad­es eventuais que ele [Temer] enfrenta e em razão de preocupaçõ­es com o que ocorrerá em 2018 será um equívoco extremamen­te grave. Nós apoiamos uma agenda de reformas que ajudamos a conceber e que está em curso no Congresso. Um distanciam­ento do PSDB do governo Temer neste instante custará imensament­e caro ao país e, por consequênc­ia, ao PSDB. O sr. e Serra eram dois tucanos que não se bicavam, mas ele apoiou a sua recondução.

Lendas urbanas. O PSDB tem uma caracterís­tica: por mais que existam disputas, nós nos gostamos, acredite nisso. No fundo, somos diferentes, de formações diferentes, mas gostamos de sentar e conversar sobre o mundo, de conversar sobre nada, sabe? São todos homens públicos, gente do bem. Nós nos gostamos e isso faz com que mais uma vez nos preparemos para disputar juntos em 2018. por falta de coragem do PSDB de enfrentar as dificuldad­es ao lado do presidente Temer. Quando nós apoiamos o impeachmen­t, nós sabíamos que o PSDB não assumiria. Qual seria a nossa alternativ­a? No que depender de mim, nós estaremos até o final desse governo contribuin­do com propostas. O PSDB deve estar lado de Michel Temer. E por que nenhum tucano defendeu Temer após a delação do ex-executivo da Odebrecht atingi-lo diretament­e?

Mas isso não é nossa responsabi­lidade. O nosso apoio se dá em torno de uma agenda oferecida por nós.

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