Parentes estão há quase 50 dias sem notícias
Catorze brasileiros que atravessaram de barco ilegalmente das Bahamas para os Estados Unidos estão presos em um centro de detenção em Pompano Beach, na Flórida. Eles usaram a mesma rota ilegal que teria sido utilizada pelo grupo de brasileiros que está desaparecido desde o dia 6 de novembro, segundo informações do Itamaraty.
Como os EUA não fazem notificação compulsória dos detidos —só informam quando há autorização deles—, o número total de prisões pode ser bem maior, de acordo com o ministério.
O governo brasileiro continua sem informações sobre o paradeiro do grupo que teria deixado as Bahamas de barco no dia 6 de novembro. Inicialmente, foi divulgado que eram 19 brasileiros, mas não há confirmação do número.
No dia 15 de novembro, parentes dos brasileiros entraram em contato com a embaixada em Nassau, capital das Bahamas, relatando o desaparecimento. As guardas costeiras dos EUA e das Bahamas estão fazendo buscas e monitorando por satélite. Nenhum naufrágio foi registrado, de acordo com o Itamaraty.
A Folha apurou que as autoridades trabalham com dois cenários mais prováveis. No primeiro, os brasileiros continuam nas Bahamas, de- tidos pelos coiotes, que suspenderam a travessia com medo de serem interceptados e estão mantendo os brasileiros incomunicáveis.
O segundo cenário é o de que eles estariam no barco, à deriva ou ancorados em algum lugar. A distância entre Freeport, nas Bahamas, e Fort Lauderdale, na Flórida, é de apenas 150 quilômetros.
A diretora do departamento Consular e de Brasileiros no Exterior, Luiza Lopes da Silva, disse que muitos brasileiros estão optando pela rota das Bahamas porque a entrada pelo México está cada vez mais perigosa, por causa dos cartéis do tráfico. “A travessia feita a pé pelo deserto também é insegura, e muitos sofrem desidratação.”
Além disso, há um efeito “últimos dias de Obama”. “Muitos brasileiros com quem conversamos lá nos EUA dizem que parentes ou amigos estão acelerando a ida para o país, pois querem chegar antes de Donald Trump assumir, no dia 20 de janeiro”, disse Silva. Trump prometeu endurecer a repressão à imigração ilegal. DESAPARECIDOS Entre os desaparecidos está o casal Sérgio Castelhani Pereira, 33, e Rosineia Vaz Pereira, 30, de Goioerê, cidade de 29 mil habitantes no centro-oeste do Paraná.
A última vez que Robson Pereira, 37, teve notícias de Do Brasil para Nassau (Bahamas) De Nassau para Freeport (Bahamas) De Freeport para Miami (EUA) seu irmão Sérgio foi na manhã do dia 6 de novembro. Por volta das 7h, Rosi mandou uma mensagem das Bahamas via WhatsApp, avisando o cunhado: “Estamos indo”. Eles tinham tentado embarcar no dia anterior, mas a partida tinha sido adiada.
Sergio, que é caminhoneiro, e Rosi, que trabalha em uma loja de produtos de informática, saíram de Goioerê em 27 de outubro, foram para São Paulo e depois a Belo Horizonte, onde teriam se encontrado com o “coiote”. De lá, voaram para o Panamá.
A viagem toda teria custado em torno de R$ 30 mil para os dois, incluindo as passagens aéreas e o dinheiro dado para o coiote para a traves- sia de barco das Bahamas para os EUA. Sérgio teria vendido um carro para cobrir parte da viagem.
Segundo o contador Robson, seu irmão Sérgio já tinha vivido nos EUA por alguns anos. Ele juntou dinheiro por lá mas, na volta, fez investimentos que não deram certo e acumulou dívidas, por isso resolveu ir de novo.
A rota das Bahamas não é nova. Há registro de brasileiros detidos no país desde 2011, acusados de tentar emigrar ilegalmente para os EUA. Foram 65 em 2012; 55 em 2013; 50 em 2014; 56 em 2015 e, este ano, deve haver ligeira alta, chegando a 70. Além desses, há brasileiros que só são presos ao chegar aos EUA.
Dois dos brasileiros desaparecidos, Renato Soares de Araújo e Márcio Pinheiro de Souza, moravam na zona rural de Sardoá, cidade de 5.000 habitantes no leste de Minas. Eles conheceram os coiotes na vizinha Governador Valadares, famosa pelo intenso fluxo de migração aos EUA.
A família de Araújo afirma que ele foi para São Paulo acompanhado de Souza no fim de outubro e, de lá, embarcaram para as Bahamas.
Não foi a primeira vez que Araújo tentou entrar nos EUA. Em junho, arriscou cruzar a fronteira com o México junto com sua mulher e o filho de cinco anos. Ela e a criança conseguiram entrar e vivem em Danbury, no Estado de Connecticut.
Já Araújo ficou preso no Texas durante dois meses. Mesmo detido, mantinha contato com a família. “Ele me ligava todos os dias”, diz seu irmão, Henrique.
Dessa vez, depois de 6 de novembro, perdeu o contato com a família. Os irmãos acham que ele tenha sido preso novamente e têm ligado frequentemente para o Itamaraty em busca de informações.
“A família está desesperada por qualquer notícia. Estamos achando que ele está preso porque a guarda costeira não encontrou sinais do navio. Não acho também que foi sequestrado, porque não pediram dinheiro”, diz Henrique.
Renato Araújo tem 32 anos. Em Minas Gerais, fazia trabalhos temporários na zona rural e decidiu ir aos EUA em busca de “uma vida melhor”.