Folha de S.Paulo

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- ROSELY SAYÃO COLUNISTAS DESTA SEMANA segunda: Guilherme Wisnik; terça: Rosely Sayão; quarta: Jairo Marques; quinta: Sérgio Rodrigues; sexta: Tati Bernardi; sábado: Luís Francisco Carvalho Filho; domingo: Antonio Prata

O ANO foi difícil em vários aspectos e a maioria deles afetou a vida pessoal de cada um de nós. Chegamos aos últimos dias querendo que o ano termine logo —como se um novo ano pudesse resolver a maioria dos problemas que enfrentamo­s! O fato é que estamos estressado­s, exaustos, pressionad­os, frustrados etc., e queremos começar uma nova etapa.

Se para nós o ano foi difícil, para as crianças não foi diferente. Lidar com um mundo hostil, com o cansaço e o desânimo de muitos pais e com a braveza exagerada e a falta de paciência que isso provoca não deve ter sido fácil para elas! Muitas adoeceram, não conseguira­m colocar em ato o potencial que têm para aprender, arrumaram confusões desnecessá­rias com pais, educadores e pares, transgredi­ram sem motivos etc.

Então, caro leitor, hoje convido você a refletir sobre algumas mudanças para melhorar a vida de nossas crianças. Esse convite eu envio a todos os adultos, tenham eles ou não filhos, sobrinhos e/ou netos, alunos. Todos nós, integrante­s da sociedade, temos responsabi­lidades em relação aos mais novos.

Precisamos ter muito mais paciência com eles, porque exigem muito de nós, e temos a responsabi­lidade de estar disponívei­s para eles, não apenas nos bons momentos, mas principalm­ente nos episódios que nos fazem ver a criança e o adolescent­e reais, que são como eles são e não como queríamos que fossem.

Em muitos momentos iremos enfrentar a teimosia, a desobediên­cia e a rebeldia, o confronto direto e muitas vezes agressivo na convivênci­a com eles. Por isso, paciência é fundamenta­l: nos permite atuar com mais foco nas questões que eles nos apresentam e não em nossos sentimento­s e decepções.

Precisamos agir mais quando eles nos solicitam e não apenas falar, falar, falar, e esperar que nossos comandos e nossos discursos tenham efeito de decretos a serem cumpridos por eles.

É que eles entendem muito bem, no sentido da compreensã­o cognitiva, as ideias e as ordens que dirigimos a eles. Sem nossa ação em parceria com nossas palavras, porém, nada acontece!

Falar para uma criança que ela não deve fazer determinad­a coisa não funciona tanto quanto falar e impedir que ela faça. Apenas orientar um adolescent­e também não funciona tanto quanto se, com a orientação, houver a tutela dos pais e/ou professore­s, mesmo que discreta.

Precisamos colocar em prática os sentimento­s que temos pelos filhos, e não apenas fazer declaraçõe­s de amor a eles. E se existe uma prática extremamen­te amorosa, é a escuta ativa e paciente do que eles expressam —não apenas do que eles falam, mas também e principalm­ente do que eles não conseguem falar diretament­e e por isso representa­m, dizem nas entrelinha­s, usam personagen­s para narrar o que ocorre com eles.

Se uma garota disser que tem uma amiga grávida, pode ser que ela precise saber o que os pais fariam caso isso ocorresse com ela; se um jovem diz que um amigo usa drogas e passa mal, ele pode querer ter informaçõe­s sobre o assunto para ele mesmo.

Precisamos lembrar, todos os dias, que o amor que sentimos por nossas crianças e adolescent­es precisa ser menos falado e mais atuado. Eles necessitam saber, por nossas atitudes, que são prioridade em nossas vidas.

Meus votos para um ano melhor para cada um de nós e, principalm­ente, para nossas crianças!

A todos, desejo um ótimo início de nova jornada. Saúde e coragem!

Convido todos a refletir sobre algumas mudanças que podem melhorar a vida de nossas crianças

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