Folha de S.Paulo

Da cabeça”, afirma a irmã.

- ROGÉRIO PAGNAN DE SÃO PAULO

DO “AGORA”

No final da noite de domingo (25), dia de Natal, a aposentada Maria Aparecida Ruas, 66, recebeu a notícia que seu irmão Luiz Carlos Ruas, 54, o “Índio”, havia sido espancando até a morte, dentro da estação Pedro 2º. Confirmou-se ali o motivo da angústia que sentia o dia todo.

O motivo da morte: Índio, vendedor de doces em frente à estação, acabara de defender duas travestis moradoras de rua —uma delas conhecida como “Brasil”— da agressão de dois homens identifica­dos pela polícia como sendo os primos Alípio Rogério Belo dos Santos, 26, e Ricardo do Nascimento Martins, 21.

“Quando começaram a bater na ‘Brasil’, ela gritou; ‘Índio, estão me batendo’”, disse a dona de casa Ivani Kohara, testemunha do crime. “O Índio foi defender. Disse; ‘Não faz isso com o rapaz’. Aí, começou a confusão”.

As imagens da câmera de segurança da estação mostram Índio correndo e caindo próximo à bilheteria, quando é espancado com socos e chutes por 18 segundos.

Segundo a gravação, os dois vão embora e o deixam desmaiado. Eles retornam após 51 segundos e o agridem por mais 23 segundos.

Durante 1 minuto e 32 segundos de agressão, nenhum segurança do Metrô aparece para ajudar o ambulante.

“Eles bateram num gay, depois em outro, depois no Índio. Os gays conseguira­m fugir, que eram magrinhos, mas ele não conseguiu”, diz Ivani.

Maria, a irmã, conta que seu irmão nunca gostou de violência e jamais se envolvera antes em uma confusão. “Ele começou a trabalhar com nove anos. Não tinha sábado, domingo, feriado. Tanto que estava trabalhand­o na noite de Natal”, afirma.

O apelido, Índio vinha desde de criança, quando ainda morava em Guaraci, no Paraná, porque tinha a pele escura e os cabelos lisos.

Ele veio para São Paulo por volta dos 16 anos e, assim como o resto da família, passou a trabalhar como ambulante.

Trabalhou vendendo pipoca na porta de uma igreja. Foi nessa época que conheceu Maria de Oliveira, com quem viveu por mais de 30 anos. O casal não tinha filhos.

Apaixonado pelo Palmeiras, Índio era devoto de Nossa Senhora Aparecida.

Instalou-se no terminal Pedro 2º, da linha 3-vermelha do Metrô paulista, há mais de 20 anos. Tinha uma barraquinh­a para vender água, refrigeran­te, biscoito, chocolate e doces sortidos.

Por ali, ele era conhecido por todos. “Ele não era homofóbico. Tratava todo mundo bem. Dava café para os faxineiros do Metrô que não podiam pagar. Era muito querido ali”, afirma Ivani.

O ambulante chegou a ser levado ao pronto-socorro Vergueiro, na região central, mas não resistiu aos ferimentos.

“A forma com que mataram ele foi a maior judiação. Vi o corpo dele. Não tiro isso PRIMOS Até o final da noite de segunda (26), os agressores não haviam sido encontrado­s: policiais ouvidos pela Folha dizem que eles são lutadores e frequentam uma academia no Cambuci. A família de um deles teria confirmado a identidade dos dois e informado que ambos estão foragidos.

Procurado, o Metrô diz que tem “mais de 1.100 agentes de segurança, que atuam sempre em duplas e podem estar uniformiza­dos ou à paisana”.

As “duplas trabalham por meio de rondas em trens, plataforma­s e acessos das estações”. Nenhuma delas estava na estação Pedro 2º na noite de domingo (25) —as mais próximas estavam nas estações vizinhas (Sé e Brás).

“Os seguranças se deslocaram imediatame­nte para a estação Pedro 2º, prestaram os primeiros-socorros e conduziram a vítima para o PS Vergueiro. O Metrô colabora com a policia para o esclarecim­ento do crime”, diz a nota.

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Reprodução/TV Globo Dois homens agridem o vendedor ambulante Luiz Carlos Ruas, 54, dentro da estação

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