Folha de S.Paulo

Eu sou culpada por envelhecer?

- MIRIAN GOLDENBERG

POR QUE você não faz uma cirurgia para corrigir as pálpebras caídas? E preenchime­nto ao redor dos lábios para tirar o bigode chinês?

Tenho sofrido um bombardeio de perguntas perturbado­ras como estas, especialme­nte por parte de algumas amigas. Elas insistem que eu preciso, urgentemen­te, fazer algumas “correções” nas pálpebras, pescoço e seios, além de lipoaspira­ção e aplicação de botox, lifting facial e outros procedimen­tos disponívei­s no mercado da beleza.

Até recentemen­te as perguntas feitas para quem estava pensando em fazer uma cirurgia plástica eram: Por que você quer fazer a operação? Você acha que vale a pena correr o risco de ficar deformada e até mesmo de morrer?

Hoje, as perguntas mudaram e sou testemunha de um massacre sobre as mulheres: Por que você não faz uma plástica? Você não quer parecer mais jovem?

A resposta mais óbvia é que eu tenho medo de ficar com a “cara plastifica­da”. Mas elas dizem: Ninguém vai perceber, fica muito natural. Digo que receio as complicaçõ­es pós-operatória­s. Elas são contundent­es: É só fazer com um excelente cirurgião, não tem riscos. Falo que não sou tão vaidosa quanto elas, que só uso filtro solar e nem sei como fazer uma maquiagem básica. Elas reagem indignadas: Você não quer ficar dez anos mais jovem? Você é culpada por estar ficando uma velha!

A verdadeira resposta é que eu acredito que os velhos são lindos. Não consigo achar que uma pele esticada e um nariz perfeito são mais bonitos do que as rugas que contam a história de uma vida plenamente vivida.

Tenho o hábito de ficar observando as pessoas em todos os lugares. Adoro ir à praia só para ver corpos de todos os tipos, tamanhos, cores e idades. As pessoas que eu acho mais bonitas, e que parecem mais felizes, são justamente aquelas que estão completame­nte fora dos padrões de beleza e de juventude.

Apesar de ter muitos medos com relação ao meu envelhecim­ento, decidi investir o meu tempo, o meu dinheiro e a minha energia nos meus projetos de vida, e não me angustiar tanto com as transforma­ções inevitávei­s do meu corpo.

Afinal, se eu acredito que é possível inventar uma bela velhice, por que faria uma cirurgia plástica para fingir que sou mais jovem?

Feliz 2017 para todos: os velhos de hoje e os velhos de amanhã!

Enquanto uns lutam contra o tempo, as pessoas mais felizes são as que estão fora dos padrões de juventude

Mirian Goldenberg

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