Folha de S.Paulo

Entre o mar anil e um imenso jardim de coqueiros

Ignorada pelos banhistas que visitam o litoral alagoano, a praia do Morro é um mergulho íntimo na natureza

- ROBERTO DE OLIVEIRA ANDRÉ BARCINSKI

Não é todo o mundo que se dispõe a abrir mão do conforto de uma praia tranquila, a poucos passos da pousada, e sair à procura de um areal à beira-mar longe de tudo e de todos. Numa região onde o que não falta é a generosa sombra dos coqueiros e o repousante mar verde-esmeralda a refletir o sol forte, é difícil não se sentir abençoado.

Ainda assim, há recantos singulares, onde prevalece a sensação de estar mergulhado num infinito particular e de ser ínfima parte da imensidão da natureza. A praia do Morro, no norte de Alagoas, é um desses esconderij­os.

É como um laço bem-feito num pacote de presente. É o arremate de uma viagem que vai muito além de uma simples aventura praiana. O caminho, por si só, já encanta o viajante, que o vai descortina­ndo ao sabor do vento.

Com bancos de areia e a proteção do paredão de corais em alto-mar, a Barra do Camaragibe —ponto de partida da viagem, no início sul da chamada Rota Ecológica— torna-se ainda mais convidativ­a na maré baixa, quando piscinas naturais se formam ao longo da costa.

Para chegar à praia do Morro é preciso atravessar o rio Camaragibe, trecho feito em barquinhos simples de madeira, movidos a braçadas. Não demora nem dez minutos para alcançar o outro lado do velho e castigado rio, onde raízes de mangues, que lembram esculturas saídas de um filme de Tim Burton, dão boas-vindas ao forasteiro.

Conforme a ponta da embarcação desliza na areia até ganhar um leve tranco e, assim, aportar, vislumbra-se uma trilha de areia que corre serpentean­do um jardim de coqueiros. Por dentro dele, caminha-se por cerca de 20 minutos sob flashes de luz solar, filtrados pela folhagem.

Entre os coqueiros, as frestas se abrem e dão vista para uma extensa faixa de areia que corre paralela ao mar.

Na beira da praia, tudo fica mais nítido: de costas, avista-se um corredor de verde intenso, formado pela linha de coqueiros, bem diante de uma longa faixa de areia solitária; de frente, filetes de água trazidos pela maré cheia, a refletir o anil intenso do céu que costuma se juntar ao verde-azul do mar.

De tão transparen­te, a água deixa ver um tapete a flutuar no leito. Ao se aproxima das ondas percebe que ali repousam bolachas-da-praia, parentes de ouriços-do-mar e de estrelas-do-mar.

Ao norte, caminhos levam à foz do Camaragibe, enquanto ao sul se desenha um corredor de areia por onde se alcançam as falésias de cor intensa que separam a praia do Morro da praia de Carro Quebrado, uma das mais famosas do pequenino, contudo grandioso, litoral alagoano.

É possível caminhar por uma hora até as falésias sem dar com vivalma no percurso, apenas na companhia do vento constante que, vez por outra, provoca o farfalhar da folhagem, espécie de trilha sonora da praia do Morro.

É um lugar para ficar à vontade, sem receio nem pudor, pelo menos por enquanto. Há tempos que aquele pedaço ainda protegido da fúria do turismo comercial está na mira de resorts, que, quando ali chegarem, vão transfigur­ar a bela paisagem.

Preocupaçã­o com o horário de volta do canoeiro é coisa que se pode esquecer. Ele estará ali, fazendo a travessia do rio, no momento em que você despontar no meio do coqueiral. No Morro, a natureza trabalha a seu favor.

COLUNISTA DA FOLHA

Não é raro ouvir algum turista dizendo que para encontrar uma boa praia em Paraty é necessário sair de barco ou meter-se na muvuca de Trindade. Qualquer um que conheça a região sabe que isso não é verdade.

O município de Paraty tem, em sua costeira, dezenas de praias maravilhos­as, facilmente acessíveis por carro, ônibus ou bicicleta. Na direção de São Paulo, tem Paraty Mirim; na direção do Rio, há Praia Grande, Iriri, São Gonçalo e São Gonçalinho, entre várias outras.

Uma das praias mais conhecidas da costa paratiense é a Prainha, localizada na Praia Grande, uma bonita e tranquila vila de pescadores no km 565 da Rio-Santos, a 10 km de Paraty, na direção do Rio de Janeiro. Para quem não tem carro, é fácil ir até lá: é só pegar todo ônibus que sai da rodoviária de Paraty na direção do Rio.

Alguns descem até a vila, outros deixam os passageiro­s em um ponto na rodovia, de onde é necessário descer uma ladeira para chegar à Praia Grande. Muita gente também faz o passeio de bicicleta, saindo de Paraty.

Chegando à Praia Grande, o turista precisa caminhar até o fim da vila. O acesso à Prainha se dá por uma trilha fácil, de cerca de 300 metros. A praia tem cerca de 200 metros de extensão, areia branquinha e águas calmas. Não é uma região de mangue, como muitas por ali. Não há árvores próximas, então é bom não esquecer o guarda-sol.

Toda a área em torno da Prainha é muito bonita e rende outros passeios. Bem em frente fica a Ilha do Araújo, uma das mais conhecidas de Paraty, habitada, majoritari­amente, por famílias de pescadores. Do cais da Praia Grande, você pode pegar um barco e atravessar até a ilha, visitando praias como Tapera e Salvador Moreira. A travessia tem cerca de 600 metros e não leva mais de dez ou quinze minutos, dependendo do barco e do destino.

A Ilha do Araújo tem cerca de dois quilômetro­s de extensão, um quilômetro de largura e uma trilha que a circunda por inteiro. Vale a pena tirar duas horinhas para fazer essa caminhada, passando por pequenas praias desertas. No início de junho, a ilha abriga a tradiciona­l Festa do Camarão, que marca o início da pesca do crustáceo. Próximo à igrejinha da vila, barracas vendem vários pratos com o ingredient­e.

Há duas boas opções para comer próximo à Prainha: na própria Praia Grande, há o Quiosque São Francisco, que fica na areia da praia e tem mesas ao ar livre, embaixo de uma grande amendoeira. O lugar serve ótimos frutos do mar, com destaque para as “pranchas” de lula, camarão e polvo, acompanhad­os de pirão e farofa.

Para quem quiser algo mais rápido e barato, a dica é voltar à Rodovia Rio-Santos e andar mais mil metros na direção do Rio de Janeiro até a Toca do Pastel, uma pastelaria localizada num mirante com uma vista espetacula­r da baía de Paraty. Além de um bom pastel (o destaque, claro, é o de camarão), o lugar serve caipirinha­s, sucos e água de coco. Ver o pôr do sol dali é o encerramen­to ideal para um dia na Prainha.

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