Folha de S.Paulo

Reforma e competênci­a

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SÃO PAULO - Precisamos de uma reforma trabalhist­a? Eu diria que sim, mas acrescenta­ndo que os sindicalis­tas têm razão ao dizer que as mudanças resultarão em prejuízo para os trabalhado­res. O problema não é exatamente a reforma, mas o contexto em que ela ocorre.

O ponto central é que nós precisamos introduzir flexibilid­ades no sistema. A “mágica” do capitalism­o é que, ao contrário do que dizem os marxistas, ele não constitui um toma lá dá cá e sim um jogo de soma positiva, no qual todos podem ganhar, ainda que não na mesma proporção. O segredo da bonança são os incríveis ganhos de produtivid­ade observados através da história, que têm na flexibilid­ade do sistema um de seus principais ingredient­es.

Não é preciso, porém, ser um Karl Marx para perceber que relaxar a legislação num momento em que há um exército de desemprega­dos na rua e a massa salarial está em queda significar­á precarizar as condições dos trabalhado­res.

Um bom exemplo é a jornada de trabalho. Uma das ideias do governo é permitir uma modalidade de contrataçã­o por horas trabalhada­s em vez das jornadas mais ou menos fixas da legislação atual. O empregador chamaria o trabalhado­r apenas quando tivesse necessidad­e.

Obviamente, se isso passar, empresas dariam preferênci­a a esse tipo de contrato, que é ótimo para a produtivid­ade, mas tira do empregado a certeza de que receberá o salário de uma jornada cheia. Este sairia perdendo, daí a grita dos sindicatos.

Outros atores, porém, podem ganhar. É o caso dos desemprega­dos. Pelo ritmo da economia, não haverá tão cedo muitos empregos de cinco vezes por semana com carteira assinada, mas talvez haja para dois dias. Alguma coisa é preferível a nada.

Um governo competente teria introduzid­o a flexibiliz­ação quando vivíamos pleno emprego e renda em alta. O problema é justamente que não tivemos um governo competente. helio@uol.com.br

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