Diferenças de peso
Já se disse de tudo sobre a obesidade, incluindo que ela seria epidemia do século 21 (ao menos no Ocidente). A indústria e as modas da dieta ganharam peso desproporcional no cotidiano, a domesticar o apetite com miríades de regras, interditos e contagens de calorias.
Cada início de regime —não raro impulsionado por uma resolução de ano-novo— desperta expectativas quase sempre frustradas, com o retorno inexorável do sobrepeso. O fracasso reiterado se torna então, aos olhos dos outros e do próprio obeso, signo de fraqueza moral e desgoverno das vontades.
Por trás dessa luta de Sísifo diante da balança pode encontrarse um equívoco: que a obesidade seja um fenômeno homogêneo, uma moléstia com etiologia única —a ingestão excessiva de alimentos calóricos. Não é o que parece.
As dietas vão e vêm porque funcionam para alguns e não para outros. O excesso de peso pode ter muitas causas, das genéticas às ambientais, cuja combinação varia bastante de pessoa para pessoa.
Reportagem do jornal “The New York Times” indica que, para Lee Kaplan, diretor da área de obesidade no Hospital Geral de Massachusetts (EUA), haveria nada menos que 59 tipos de obesidade.
Para cada um deles caberia um tratamento diferenciado, associ- ando-se modalidades apropriadas de alimentos, remédios e terapia comportamental.
Não se trata, porém, de ciência exata. A descoberta da abordagem eficaz não se produz de maneira determinística, como um exame de sangue que identifica certa deficiência metabólica e impõe a prescrição desta ou daquela droga.
Mais comum é o processo de tentativa e erro, em que médico e obeso se armam de paciência para encontrar o blend particular de intervenções capaz de romper o ciclo de recaídas. E há, por certo, os casos recalcitrantes, que só se resolvem com recurso à cirurgia bariátrica.
Com toda essa variação, obesidade e sobrepeso terão também efeitos diversos sobre a saúde das pessoas, mas estes dificilmente serão positivos. Por variada que seja, essa patologia continua sendo fator de risco importante para doenças cardiovasculares, por exemplo.
Do ponto de vista da saúde pública, essa visão multivariada da obesidade implica que as clínicas de tratamento precisam elas próprias diversificar-se e arregimentar equipes multidisciplinares.
Já do ponto de vista da cultura, ajudaria muito se essa condição perdesse o estigma atual, e os pacientes deixassem de ser vistos como pessoas dignas de comiseração ou reproche.