Folha de S.Paulo

Um ano a ser sempre lembrado

- JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL Fora (MG)

Tenho participad­o de eventos de fim de ano e, em todos, são reiteradas as manifestaç­ões no sentido de que 2016 foi um ano terrível, que precisa ser suplantado. Essa avaliação negativa decorre das dificuldad­es econômicas e da desesperan­ça que cresce a cada novo escândalo.

Muito embora reconheça que 2016 não foi fácil e já vislumbre um tormentoso 2017, penso que o ano que termina não pode ser esquecido —muito pelo contrário.

Graças à apresentaç­ão de pedido de impeachmen­t, mediante processo constituci­onal, legal e transparen­te, a presidente da República foi afastada de seu cargo, por força dos crimes de responsabi­lidade cometidos, todos sobejament­e comprovado­s.

Até a chegada de referido pedido, vigorava um sistema de acomodação, no qual poderosos não apontavam os crimes e abusos de outros poderosos, com o fim de não ver os seus próprios desvios desnudados.

O processo de impeachmen­t de Dilma Rousseff abriu portas para o afastament­o e cassação de Eduardo Cunha, acelerando o andamento da persecução penal.

Além de quebrar o círculo vicioso e o verdadeiro compadrio que existia, o processo de impeachmen­t permitiu a conscienti­zação acerca da importânci­a da responsabi­lidade fiscal. Não foi por coincidênc­ia que, em outras esferas de poder, os órgãos de controle passaram a funcionar com maior severidade —basta olhar o número de procedimen­tos e até de prisões a alcançar governador­es, ex-governador­es, prefeitos e ex-prefeitos.

O descortina­r dos ajustes estabeleci­dos entre governo e empreiteir­as, inclusive com remessa de bilhões de dólares ao exterior, salvo entre os crentes do petismo, deitou por terra a falácia de que Lula e Dilma seriam perseguido­s políticos. Se antes eram vistos como pais dos pobres, ficou claro terem sido mães para os ricos.

As colaboraçõ­es premiadas que vão se tornando públicas mostram que, por muito tempo, alguns empresário­s mandavam mais do que os próprios presidente­s da República, sendo significat­ivo o fato de esses empresário­s estarem agora presos.

O fortalecim­ento das operações policiais estimulou que parlamenta­res começassem a levantar eventuais ilicitudes no âmbito do Poder Judiciário e do Ministério Público, conferindo publicidad­e aos chamados supersalár­ios e à prática comum de ultrapassa­r o teto constituci­onal, por meio da concessão de benefícios de forma coletiva e irrestrita.

Apesar de tal movimento ser identifica­do como retaliação, necessário reconhecer que precisava ser feito.

Nota-se que, ao mesmo tempo em que deixa de aceitar a corrupção institucio­nalizada, o povo brasileiro passa a questionar benesses incompatív­eis com repúblicas muito mais ricas que o Brasil. Em suma, não vamos ficar calados nem diante das ilegalidad­es nem frente às imoralidad­es.

Sempre foi muito cômodo aos poderosos fazer menção ao nosso povo como cordato e conciliado­r, pois o cordial costuma ser submisso.

Diversamen­te do alardeado, 2016 não foi o ano perdido. O cidadão comum, ainda que assustado com a lama que eclodiu, voltou a acreditar que é possível tomar as rédeas do destino do país.

Parafrasea­ndo a escritora Ayn Rand em seu clássico “A Revolta de Atlas”, penso que 2016 foi o ano da revolta dos otários, aqueles que trabalham para pagar os tributos, até então, sem direito a opinar.

Um povo maduro enxerga sua realidade, por pior que seja, a fim de transformá-la. Este foi o ano de diagnostic­ar a difícil realidade; 2017 pode ser o da transforma­ção.

Desejo a todos um ano novo com os pés no chão e os olhos bem abertos! A meta é impedir que volte a imperar o silêncio da cumplicida­de. Nos corações, que reine a tranquilid­ade de que é certo fazer o certo. JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL

Alckmin e Doria decidem em conjunto congelar as tarifas de transporte em São Paulo. Ah se fossem do PT! Populismo, proselitis­mo barato, irresponsa­bilidade e traição é o mínimo que se ouviria e leria nos meios de comunicaçã­o.

ADEMAR G. FEITEIRO,

O congelamen­to das tarifas da CPTM e Metrô pelo governador Geraldo Alckmin é uma grande ajuda à população nesse momento de crise econômica, principalm­ente aos trabalhado­res mais pobres.

WELBI MAIA BRITO

Investigaç­ões Preciso e oportuno o artigo de Gilmar Mendes (“A República corporativ­a”, “Tendências/Debates”, 28/12). Há, em certos setores do Judiciário e do Ministério Público, uma ânsia de poder, que precisa ceder lugar ao empenho por maior eficiência na prestação jurisdicio­nal. E um espírito de corpo, perigosame­nte autoritári­o, que parece pretender contrapor-se ao próprio Estado.

PAULO ROBERTO DE GOUVÊA MEDINA,

O vínculo nefasto entre a frivolidad­e da vida cotidiana e a política, analisado por Vladimir Safatle (“A festa não pode parar”, “Ilustrada”, 30/12), tem uma face evidente no sistema judiciário. Neste ano, juízes e procurador­es usaram seus poderes para convertere­m inquéritos e denúncias em eventos midiáticos. São ministros do Supremo que adoram um microfone, juízes que não respeitam o sigilo das provas e divulgam grampos no calor da hora, além de membros do Ministério Público que convocam entrevista­s coletivas para teatraliza­ção da política através de slides de quinta categoria.

HAROLDO H. SOUZA DE ARRUDA

Com relação à licitação da comida do avião presidenci­al, há três pontos a considerar. 1) Como disse Vinicius Torres Freire, muito do que se ouviu por aí foi populismo jeca. 2) Esse governo tem um talento especial para se desgastar quando mais precisa de apoio. 3) A imprensa, uma vez que começou, deveria contar o milagre todo. Esse avião existe desde 2005. Presume-se que se comia alguma coisa nos voos, né? Comia-se o quê? Custava quanto?

MARCIO MACEDO

Ambulante morto Em atenção à manifestaç­ão do leitor Marcelo de Lima Araújo (29/12), o Metrô esclarece que na ocorrência da noite do dia 25, na estação Pedro II, o Centro de Controle da Segurança acionou os agentes de segurança que estavam realizando rondas nas estações vizinhas (Sé e Brás). Esses funcionári­os chegaram à estação Pedro II em seis minutos e prestaram os primeiros socorros, além de acompanhar­em a condução da vítima até o Pronto Socorro Vergueiro. O Metrô colaborou prontament­e com a autoridade policial para o esclarecim­ento do crime.

MURILO PIZZOLOTTI,

Debbie Reynolds Belo o texto de Guilherme Genestreti sobre a morte de Debbie Reynolds, ironicamen­te a “mãe de Carrie Fisher”. Ultimament­e, graças à internet, tive acesso nostálgico a vários filmes de Debbie que marcaram minha distante juventude. Eu destacaria que ela foi indicada ao Oscar pelo filme “A Inconquist­ável Molly Brown”, onde interpreto­u, de maneira magnífica, uma caipirinha que enriquece sem fazer política e chega a participar do naufrágio do Titanic (“Debbie e Carrie tiveram relação turbulenta”, “Ilustrada”, 30/12).

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