Folha de S.Paulo

A Braskem, procurada pela

- RUBENS VALENTE

Um documento produzido pela SEC, órgão do governo americano que regula o mercado de ações dos EUA, afirma que a petroquími­ca brasileira Braskem pagou propina de US$ 4,3 milhões (ou R$ 14 milhões, ao câmbio desta sexta-feira, 30) para “um congressis­ta brasileiro” e um funcionári­o da Petrobras que ocupava cargo de chefia.

O objetivo era garantir uma parceria comercial da empresa, braço petroquími­co do grupo Odebrecht, com a Petrobras para a construção de uma unidade de produção de polipropil­eno em Paulínia, no interior de São Paulo.

De acordo com a SEC, esse pagamento foi decidido depois de 2006, quando executivos da Braskem manifestar­am receio de que a Petrobras pudesse não dar seguimento ao acordo.

Os desembolso­s, segundo a SEC, acabaram “descaracte­rizados” pela Braskem em seus registros contábeis como “pagamentos de comissões” e “consolidad­os nas declaraçõe­s financeira­s como custos ou despesas de negócios legítimos”.

A unidade de Paulínia foi inaugurada em 2008 ao custo de R$ 700 milhões. A Braskem anunciou que “originalme­nte” teria 60% de participaç­ão no novo empreendim­ento, a Petroquími­ca Paulínia, enquanto a Petrobras ficaria com 40%.

No entanto, segundo a empresa, um acordo assinado em novembro de 2007 “consolidou a parceria estratégic­a entre as companhias”, permitindo que a Braskem passasse a ter 100% do controle do capital da unidade de Paulínia, enquanto a Petrobras viesse a deter 25% do capital da Braskem.

A Petrobras também se compromete­u a investir US$ 450 milhões em duas unidades de propeno para suprir a matéria-prima necessária para o projeto de Paulínia.

O documento da SEC, assinado pelo chefe assistente David S. Johnson, foi entregue à Justiça de Washington no último dia 21 em uma ação civil movida pelo órgão contra a petroquími­ca. A empresa tem ações listadas na Bolsa de Nova York e, por isso, se submete à fiscalizaç­ão.

As informaçõe­s têm como origem o acordo de leniência fechado naquele mesmo dia pela Odebrecht com Brasil, EUA e Suíça, no qual os empreiteir­os reconhecer­am ter cometido diversos crimes e irregulari­dades.

O pagamento de Paulínia foi citado no documento produzido pelo Departamen­to de Justiça americano que veio a público no dia 21, mas sem a identifica­ção do projeto e do nome da cidade paulistana. OUTROS CASOS A SEC concluiu que a Braskem violou três artigos da lei que regula o mercado de ações dos EUA, como ter “falhado no ato de fazer e manter livros, registros e contas que, com razoável detalhe, precisão e correção refletis- sem suas transações e bens”.

De acordo com a SEC, de 2006 a 2014 a Braskem “pagou propinas” totais de US$ 250 milhões a “partidos políticos e funcionári­os do governo do Brasil”, incluindo “senadores e representa­ntes do Congresso brasileiro e ao menos dois importante­s partidos políticos”.

Em petição no processo, os advogados da Braskem confirmara­m que a empresa “irá admitir que de 2006 a 2014 pagou propinas a autoridade­s do governo brasileiro a fim de obter e manter negócios” e que pagará à SEC, até 30 de janeiro de 2018, um total de US$ 325 milhões correspond­entes POLIPROPIN­A O DOCUMENTO A MOTIVAÇÃO A parceria começou a ser discutida em 2005, mas executivos da Braskem viram risco de a petroleira recuar. Por isso, decidiu-se pelo pagamento. A planta foi inaugurada em 2008 OUTROS CASOS “aos lucros alcançados como resultado das condutas” que foram denunciada­s no processo.

Além de Paulínia, o órgão americano citou os pagamentos de US$ 20 milhões em 2009 por um acordo com a Petrobras para fornecimen­to de nafta, US$ 1,74 milhão em outubro de 2013 para “consultore­s” pela aprovação de uma lei que garantiria vantagens em impostos e mais US$ 29 milhões a partir de 2006 para um partido “usar sua influência” a fim de assegurar impostos mais baixos. OUTRO LADO Folha, afirmou, em nota, que pagará R$ 3,1 bilhões em multa e em indenizaçã­o em seu acordo global de leniência com autoridade­s.

“A Braskem reconhece sua responsabi­lidade pelos atos dos seus ex-integrante­s e lamenta quaisquer condutas passadas. A companhia seguirá cooperando com as autoridade­s e aprimorand­o o seu programa de conformida­de”, diz o comunicado.

A Odebrecht vem reafirmand­o disposição de colaborar com as autoridade­s.

A Petrobras, procurada na quinta (29), não havia se manifestad­o até a conclusão desta edição.

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Julio Bittencour­t/Divulgação Informaçõe­s têm origem em acordo de leniência, fechado neste mês pela empresa também com o Brasil Unidade de Paulínia (a 117 km de São Paulo), citada em documento da Justiça americana

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