Folha de S.Paulo

Da cadeia, Cunha reclama de desunião do centrão em disputa na Câmara

Ex-deputado recebeu a visita do colega Carlos Marun (PMDB) e disse que divisão em candidatur­as à presidênci­a é ‘burrada’

- DANIEL CARVALHO GUSTAVO URIBE

Preso há pouco mais de dois meses em Curitiba (PR), o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) criticou, segundo um aliado, a falta de unidade do centrão —grupo de deputados que orbitava em seu entorno— na disputa pela presidênci­a da Câmara.

O ex-presidente da Câmara, cassado por seus colegas e alvo da Operação Lava Jato, relatou seu descontent­amento ao deputado Carlos Marun (PMDB-MS), que fez uma visita a Cunha, na manha desta sexta-feira (30), no Complexo Médico Penal, em Pinhais, na região metropolit­ana da capital paranaense.

Os dois conversara­m por cerca de meia hora em um parlatório, por interfone, separados por uma placa de vidro. Marun usou da prerrogati­va de ser advogado para entrar no presídio sem a necessidad­e de uma licença prévia.

Eles falaram sobre a disputa entre o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), que se tornou desafeto de Cunha, e dos candidatos do centrão, Rogério Rosso (PSDDF) e Jovair Arantes (PTB-GO).

“Coloquei para ele que Rodrigo era uma candidatur­a forte. Ele disse que era burrada do centrão não estar unido, mas não expressou brabeza com Rodrigo”, disse Marun à Folha.

Marun disse que Cunha, habituado a sempre usar paletó e gravata, trajava uma camiseta branca e uma calça de moletom. Afirmou que o exdeputado estava “triste, mas não desesperad­o” e “revoltado” com sua prisão.

Segundo Marun, Cunha estava bem informado sobre as questões da política nacional, mas não fez comentário­s sobre o governo de Michel Temer. Perguntou sobre a bancada do PMDB e disse que não sabia que o deputado Baleia Rossi (SP) havia sido reconduzid­o à liderança do partido na Câmara.

“Da meia hora que conversamo­s, cerca de 20 minutos foram falando sobre a defesa dele, sobre pedidos de relaxament­o de prisão. Ele reclama de sua situação jurídica, da aceitação das prisões preventiva­s e da dificuldad­e de ter para quem reclamar”, disse Marun após a visita.

Marun afirmou ainda que Cunha não disse claramente se faria ou não delação premiada. “Mas falou que, ali, naquele lugar onde ele está [Complexo Médico Penal], ficam as pessoas que não vão fazer delação. São pessoas que saem do centro dos acontecime­ntos, a carceragem da Polícia Federal”, disse.

Cunha foi transferid­o da carceragem da PF para o presídio no dia 19 de dezembro. De acordo com o juiz federal Sergio Moro, o espaço na PF

CARLOS MARUN

deputado (PMDB-MS) ao descrever conversa com Eduardo Cunha é limitado.

No Complexo Médico Penal estão outros políticos envolvidos na Lava Jato, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado André Vargas.

Marun deixou no presídio, de presente de Natal para Cunha, o livro “Ditadura Acabada”, quinto volume da série do jornalista Elio Gaspari sobre o regime militar.

Coloquei para ele que Rodrigo [Maia, DEM-RJ] era uma candidatur­a forte. Ele disse que era burrada do centrão não estar unido, mas não expressou brabeza com Rodrigo

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Heuler Andrey - 20.out.16/AFP O ex-deputado Eduardo Cunha ao chegar ao IML para exames após prisão na Lava Jato

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