Folha de S.Paulo

Ajuste sobre servidor emperra nos Estados

Dos 64 projetos enviados por MG, RJ e RS a Assembleia­s locais, 36 foram aprovados, e só 7 tratam de funcionali­smo

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Por serem vistas como impopulare­s, medidas que afetam salários e benefícios são evitadas pela classe política

A maior parte dos projetos de ajuste das contas públicas aprovados nos três Estados em pior situação financeira— Rio, Minas e Rio Grande do Sul— não resolve o principal problema que levou os governante­s à atual crise: o aumento dos gastos com pessoal.

Levantamen­to feito pela Folha em 64 projetos enviados pelo Executivo dos três Estados mostra que pouco mais da metade (36) foi aprovada nas Assembleia­s locais.

Apenas sete tratam de salários, previdênci­a e benefícios de servidores públicos. Cinco deles foram aprovados no Rio Grande do Sul.

Considerad­as impopulare­s, medidas de ajuste que recaem sobre servidores costumam ser evitadas pela classe política, pois podem desencadea­r em greves que afetam serviços essenciais.

Talvez por isso a saída preferenci­al das autoridade­s tem sido medidas que alteram o funcioname­nto ou reduzem os órgãos públicos: 22 das propostas aprovadas vão nessa linha. RIO GRANDE DO SUL Um plano com quase 40 medidas, que vão desde a fusão e extinção de órgãos públicos, até mudanças nos repasses aos demais poderes e na Previdênci­a de servidores, que levariam a uma economia de R$ 6,7 bilhões MINAS GERAIS Mudanças na estrutura do Estado, com enxugament­o de cargos vagos e fusão de órgãos públicos

Isso nem sempre significa redução das despesas com funcionári­os públicos já contratado­s. Em Minas, por exemplo, a única medida aprovada que trata do funcionali­smo prevê o corte de 67 mil cargos vagos. O Estado, porém, anunciou a eliminação de 18 mil.

As outras 14 medidas aprovadas no Estado, mapeadas pela reportagem, extinguem fundações e secretaria­s. Os servidores foram realocados.

No Rio, primeiro dos três Estados a decretar calamidade financeira, só 6 de 21 propostas enviadas pelo Executivo à Assembleia foram aprovadas. As demais ou foram rejeitadas ou devolvidas para mudança pelo Executivo.

Entre elas, o adiamento para 2020 de aumentos salariais de servidores previstos para 2017 e 2018. O aumento da contribuiç­ão previdenci­ária dos atuais 11% para 14% foi retirado de pauta por falta de acordo político.

A única medida aprovada no Rio que tratava de salários de servidores —a que reduzia os vencimento­s do primeiro e segundo escalões do governo em 30%— foi vetada pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) nesta sexta (30).

Segundo dados do Tesouro Nacional, o Rio foi o Estado que mais elevou gastos com pessoal entre 2009 e 2015, uma alta de quase 70% já descontada a inflação. O segundo foi Minas Gerais, cujo aumento de despesas com servidores ativos e aposentado­s foi de cerca de 65%. O Rio Grande do Sul ficou no meio da distribuiç­ão, com alta de 39%.

A Assembleia gaúcha foi a que mais aprovou medidas de ajuste que tratam de salários e previdênci­a de servidores até o momento. Duas delas, porém, aumentam os benefícios, como o projeto de lei que cria gratificaç­ão por desempenho a militares. OUTRO LADO Por meio de sua assessoria de imprensa, a Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul afirmou que o Estado vem se empenhando em, na medida do possível, equilibrar as despesas com pessoal.

Entre as ações destacadas, estão o congelamen­to dos reajustes dos servidores públicos em 2016 e 2017.

Via decreto, o Estado também vem fazendo contingenc­iamento de despesas como pagamento de horas extras em 60% do que foi gasto no ano anterior e de despesas de viagens, como passagens aéreas e diárias em hotéis.

As assessoria­s das secretaria­s de Fazenda de Rio e Minas não foram localizada­s nesta sexta (30). (MARIANA CARNEIRO, FILIPE OLIVEIRA, JOSÉ MARQUES, ESTELITA HASS CARAZZAI)

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