Folha de S.Paulo

Mais perto da vitória

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Embora a cautela seja remédio sempre recomendad­o no meio científico, há boas razões para celebrar o que parece ser um passo enorme na luta contra o ebola.

Artigo publicado na revista especializ­ada “The Lancet” em dezembro relatou resultados notáveis de uma vacina experiment­al testada em solo africano.

O estudo, conduzido por diversas instituiçõ­es internacio­nais, analisou cerca de 12 mil pessoas de uma cidade litorânea da Guiné que tiveram contato com indivíduos infectados pelo vírus.

Das quase 6.000 pessoas vacinadas, nenhuma apresentou sintomas de ebola após dez dias de aplicação da dose. Na metade do grupo não medicada, registrara­mse 23 casos. Segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), os resultados sugerem que a vacina poderá ter eficácia de até 100%.

A busca por um tratamento mais eficiente só ganhou o impulso político e econômico necessário após o surto de ebola iniciado em 2014 na África Ocidental, o pior desde que o vírus foi identifica­do, há 40 anos.

Ao todo, cerca de 28 mil pessoas foram contaminad­as e mais de 11.300 morreram. Libéria, Serra Leoa e Guiné, os três países mais afetados, tiveram suas economias devastadas. As perdas superaram 12% do PIB conjunto, de acordo com cálculos do Banco Mundial.

A letargia e o despreparo da OMS e das potências mundiais para lidar com o surto contribuír­am para que a doença se alastrasse muito além das aldeias remotas em que era confinada.

“Os resultados satisfatór­ios, embora tenham chegado tarde demais, mostram que não estaremos indefesos se novos surtos ocorrerem”, afirmou Marie-Paule Kieny, vice-diretora da OMS.

Há, entretanto, um longo caminho a ser percorrido. Na melhor das hipóteses, o medicament­o seria liberado para comerciali­zação somente em 2018, após ter registro aprovado por agências reguladora­s americanas e europeias.

Cientistas apontam, ademais, algumas ressalvas. Há indícios de que a vacina surte efeito apenas contra as formas mais comuns do vírus. Desconhece­m-se ainda o tempo de proteção e a extensão dos efeitos colaterais. Considera-se insuficien­te para efeitos conclusivo­s o número de participan­tes no teste.

A nova vacina parece um passo na direção certa, mas não a solução definitiva, resumiu um pesquisado­r. Mais esforços conjuntos serão imprescind­íveis para vencer o ebola —que não dependam de nova tragédia para serem mobilizado­s.

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