Marinho critica hipótese de impeachment
Petista, que deixa Prefeitura de São Bernardo, diz que cassação de Temer seria ‘golpe 2’ e defende novas eleições
Prolongar situação até 2018 iria ‘sangrar o país’, diz ex-prefeito, que não vê chance de aliança com Ciro Gomes
Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministro no governo do PT, o exprefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), que deixou o cargo neste domingo (1º), defende um pacto político para a antecipação das eleições para o segundo semestre de 2017.
Marinho, 57, se diz contrário ao impeachment de Michel Temer ou à cassação da chapa Dilma-Temer pela Justiça Eleitoral, o que, para ele, seria um “golpe dois”.
Segundo o ex-prefeito, o Congresso deve assumir a responsabilidade de antecipar a eleição. Defende também a candidatura de Lula à Presidência, e diz que a hipótese de apoio a Ciro Gomes (PDT) é “quase zero”. Leia os principais trechos da entrevista. Balanço de 2016 No panorama nacional, do ponto de vista econômico, [2016] foi o pior dos últimos oito anos, desde que estou aqui. O maior problema de 2016 é que não aponta perspectiva. Se 2017 andar de lado, já vai estar bom. Mas o cenário é de piora. O governo Temer não conseguiu resolver os problemas. Crise política O Congresso deveria ter a coragem de chamar a responsabilidade de solução dos problemas políticos, colaborando com a economia, para salvar 2018. Para um momento excepcional, medidas excepcionais. Vejo a necessidade de uma emenda constitucional. TSE [Tribu- nal Superior Eleitoral] cassar a chapa Dilma-Temer é um erro. Novo impeachment, outro erro. Sangrará a economia, como sangrou no impeachment da Dilma, que já foi um erro. O impeachment do Temer seria o erro dois.
[A saída é] uma emenda que anteciparia as eleições. Pode ser para agosto de 2017. Faz um mandato excepcional, de cinco anos. A partir de 2022, 2020, voltaria a normalidade dos mandatos.
Será preciso uma pactuação política entre partidos e líderes políticos. Estamos falando do Brasil, de desemprego, de não enxergarmos saída. Suportar a situação até as eleições de 2018 é sangrar demais a economia. A retomada de normalidade tem que passar por uma repactuação política da sociedade. E dessa forma, se faz uma pactuação nessa coisa de “fora, Temer”, de “não fora, Temer”. O Temer vai governar, mas no período de um ano ou menos. Ele tem que ser grande. Não pode se diminuir, tem que ter essa compreensão de liderança política. Assim como Dilma, Lula, Serra, Aécio, Alckmin, todos os agentes políticos do país. Apoio do PT à proposta O PT tem que dar sua contribuição. É a ideia que serve para as lideranças de todos os partidos. Fala-se em eleições indiretas: não é a solução. Eleição indireta é o golpe dois. Ou golpe três. Não vejo saída que não seja pelo voto direto. Lula deve ser candidato. Na circunstância de ataque, de agressão, de busca de destruição do legado de Lula, ele não tem saída a não ser sair candidato. Lula tem consciência disso. Negociação com Temer O PT não vai se recusar a discutir uma saída para o país. O governo Temer está mostrando que não tem capaci- LUIZ MARINHO ex-prefeito de São Bernardo do Campo dade. Temos que lançar mão dos elementos constitucionais para a saída da crise. Então, quem está forçando a barra da prestação de contas da campanha Dilma-Temer para afastar o Temer para viabilizar uma eleição indireta, esse é outro grande golpe. Golpe dois.
Se o Congresso estiver imbuído da busca de uma solução, a tendência é que as lideranças possam apoiar. Não devemos nos lançar num pro- cesso de revanchismo: porque a Dilma foi cassada, querer cassar Temer. Precisamos de uma saída. Aguentar o governo Temer até 2018 é muito sacrifício para o povo. Possível candidatura ao governo de São Paulo Todo mundo que seria candidato em 2018 concorreria em 2017 [pela proposta]. Até hoje, à exceção de ser presidente de sindicato, não reivindiquei nada. O caminho Parece que querem inviabilizar a candidatura da Lula. Não acredito que vão condenar o Lula e tirá-lo da eleição. Acredito que seja um desejo. A melhor maneira de impedir essa irresponsabilidade é fazer o debate, conforme o Lula está fazendo.
[Moro e os procuradores] poderiam estar na indústria cinematográfica. São ações espetaculosas. Não somos contrários às ações de combate à corrupção. Mas temos que combater toda a hipocrisia presente na sociedade em relação aos sistemas. Para [João] Vaccari estar preso, a rigor, todos os tesoureiros de todos os partidos, com raríssimas exceções, deveriam estar presos. Se não é perseguição contra o PT, parece.
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Não devemos nos lançar num processo de revanchismo: porque a Dilma foi cassada, querer cassar Temer. Precisamos de uma saída