Folha de S.Paulo

Tarifas ajudam bancos a compensar recuo do crédito

Ganhos com cobranças e serviços já são quase 1/3 da receita das instituiçõ­es

- TÁSSIA KASTNER

Produtos como seguros e consórcios não sofrem tanto com crises quanto os empréstimo­s, que recuaram no último ano

Bancos vivem de receber e emprestar dinheiro, mas não só. As grandes instituiçõ­es financeira­s do país têm tentado mostrar a investidor­es que o crédito já não é a principal fonte de lucro delas.

Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco, mostrava a acionistas durante reunião em novembro que a maior parte do retorno ao investidor vinha de serviços e tarifas, como a de manutenção de conta-corrente, seguros e investimen­tos em fundos.

E com a vantagem de que esse segmento é mais estável durante crises. Pessoas deixam de pegar empréstimo se estão endividada­s, mas dificilmen­te fecham a conta.

No último ano, os empréstimo­s recuaram. Ao mesmo tempo, os bancos elevaram tarifas de manutenção de conta e estimulara­m a migração de clientes para segmentos de alta renda —e, consequent­emente, a adquirir novos produtos.

“O mercado ainda olha o Itaú muito como uma empresa de crédito. Temos sim uma carteira de crédito enorme, na casa dos R$ 600 bilhões, e queremos continuar crescendo. Mas nós temos outro negócio, de serviços e seguros, que não está sujeito ao mesmo ciclo do crédito”, disse o banqueiro à época.

Discurso semelhante foi adotado pelo Bradesco, enquanto o Banco do Brasil afirmou que começa a vislumbrar um cenário de menor dependênci­a do crédito.

Com a reabertura do mercado para emissão de títulos de dívida das empresas, o banco ganharia mais prestando esse serviço, e companhias não precisaria­m se financiar tanto via empréstimo­s, disse Paulo Caffarelli, presidente do BB, a investidor­es.

“Nós sempre olhamos o banco como um mix diversific­ado de fonte de resultados. Um terço vem do crédito, um terço da seguradora e outro terço da parte de serviços, que engloba consórcios, cartões”, diz Carlos Firetti, diretor de relações com o mercado do Bradesco.

Cálculos feitos pela Folha mostram que, apesar do cresciment­o do ganho com tarifas e serviços —que supera os 10% entre setembro do ano passado e deste ano—, o cré- dito ainda é a principal fonte de receitas dos bancos trazida por correntist­as e empresas (veja quadro). A conta desconside­ra aplicações no mercado financeiro e outras eventuais fontes de ganho.

Ao longo do tempo, a participaç­ão de receitas de serviços no faturament­o dos bancos oscila, mas não ultrapassa os 30%.

E o crédito pode ser menos rentável que serviços por causa dos custos de captação e da reserva para proteger o banco em caso de calotes.

“Você precisa do empréstimo para oferecer todas as outras coisas. Mas, se comparamos o modelo de banco hoje com o de 50 anos atrás, ele mudou. O modelo hoje é o de ter uma prateleira completa de serviços, que é o que os clientes querem”, afirma Angel Santodomin­go, diretor financeiro do Santander. CRISE Apesar de os bancos afirmarem que a diversific­ação de receitas é uma estratégia de negócio, o movimento fica mais evidente em períodos de crise, quando a oferta de crédito encolhe.

“Esse ciclo de substituiç­ão de receita não é pontual. Em outras crises, os bancos fizeram a mesma coisa. Ganham em tarifas e título público [investindo o dinheiro que não emprestara­m]”, afirma Claudio Gallina, executivo da área de instituiçõ­es financeira­s da Fitch.

“A retomada do crédito é parte importante da nossa operação e é importante no relacionam­ento com o cliente, mas depende também da retomada da economia”, afirma Firetti, do Bradesco.

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