Com apoio de Doria, Milton Leite, do DEM, vai presidir Câmara de SP
Veterano, em 6º mandato na Casa, teve voto de 50 dos 55 vereadores, incluindo petistas e tucanos
Preterido pelo PSDB, Covas Neto discursou contra ‘conluios’; Leite vai defender na Justiça reajuste para colegas
Com apoio do prefeito João Doria (PSDB), o paulistano Milton Leite (DEM), 60, foi eleito presidente da Câmara Municipal de São Paulo para um mandato de um ano.
Em eleição na tarde deste domingo (1º) logo após a posse dos vereadores, ele obteve 50 dos 55 votos da Casa —que manteve 60% dos parlamentares do mandato anterior.
Um dos veteranos da Câmara, Leite foi pivô de um racha dentro do PSDB, ao desbancar o tucano Mario Covas Neto, filho do ex-governador Mario Covas, eleito vereador e que aspirava ao cargo.
Leite defendeu em seu discurso a necessidade de tomar medidas de redução de gastos e “não esperar que os paulistanos procurem a Câmara e, sim, ir atrás dos paulistanos para tomar as decisões”.
Mario Covas Neto (PSDB) e Janaína Lima (Novo) tiveram um voto cada e Sâmia Bomfim (PSOL), dois votos. Juliana Cardoso (PT) se absteve.
Preterido pelo próprio partido, Neto subiu à tribuna para criticar os colegas de legenda. “Foi meu dever dizer que o PSDB deveria ficar com a presidência. Não posso me calar diante dessa postura equivocada”, disse. “Não espere de nós um amém”, afirmou, ao se referir à sua posição na Câmara, em clara mensagem a Doria. “Chega de conluios e compadrios.”
O PSOL criticou na tribuna a decisão dos colegas de Legislativo de elevar os próprios salários em 26% na última sessão do ano passado.
Antonio Donato será o líder do PT e comandará a oposição, composta por 11 partidos —9 do PT e 2 do PSOL.
A Câmara também definiu a mesa diretora. Eduardo Tuma (PSDB) ficou com a vicepresidência e Edir Sales (PSD), com a segunda-vice.
O primeiro-secretário, que cuida dos contratos do Legislativo, será o petista Arselino Tatto. O segundo-secretário será Celso Jatene (PR). INFLUÊNCIA Eleito com mais de 100 mil votos nas últimas eleições, atrás apenas de Eduardo Suplicy (PT), Leite ganhou espaço com Doria ao atuar como cabo eleitoral do tucano no extremo sul da cidade.
Na última campanha, o vereador que entra agora em seu sexto mandato gastou mais do que alguns candidatos a prefeito —declarou um total de R$ 2,3 milhões.
A influência dele sobre os demais vereadores pesou na escolha de Doria, que dependerá da Câmara para viabilizar projetos de seu interesse, como a venda do autódromo de Interlagos e do Anhembi, além da concessão de parques municipais e o remanejamento do Orçamento de 2017 deixado pela gestão de Fernando Haddad (PT).
Leite começará sua gestão no Legislativo em meio a uma disputa judicial na qual terá que defender a Câmara.
O aumento que os vereadores aprovaram em seus salários no final do ano foi barrado por liminar da Justiça.
Na última sessão de 2015, eles aprovaram reajuste de 26% nos ganhos —de R$ 15 mil para R$ 18,9 mil.
Leite, que votou a favor, afirmou que já fez economias em seu gabinete e que vai renunciar ao aumento de seu salário, mas irá recorrer à Justiça em nome da Casa.
O novo presidente da Câmara se autodefine como defensor das antigas cooperativas de perueiros, atualmente nas mãos de empresários.
Também se aproximou de sambistas. Retirou a área de um centro cultural para construir um espaço em escola de samba que ele frequenta na zona sul. A obra, que ficou conhecida como “Camarote Milton Leite”, custou aos cofres municipais R$ 100 mil.
Seu crescimento político desde 1996 (quando foi eleito com 33 mil votos) garantiu a eleição de seus dois filhos —Milton Leite Filho para deputado estadual em 2006 e reeleito nas duas disputas seguintes e Alexandre Leite para deputado federal em 2014.
No currículo, Leite compôs a base aliada de dois prefeitos eleitos pelo PT: Marta Suplicy, de 2001 a 2004, e Fernando Haddad, de 2013 a 2016.
Esta foi a segunda vez que tentou presidir a Câmara. Em 2010, perdeu para José Police Neto (à época no PSDB). Na ocasião, Leite compunha o centrão, grupo de parlamentares que foi pedra no sapato de Gilberto Kassab (PSD). (ARTUR RODRIGUES, GIBA BERGAMIM JR. E EDUARDO GERAQUE) ASSUNTOS QUE DEVEM TRAMITAR NA CÂMARA > Privatização do Anhembi e do autódromo de Interlagos > Concessão do Pacaembu > Ajustes na Lei de Zoneamento e Plano Diretor > Desobrigação de cobradores em ônibus > Flexibilização da Lei Cidade Limpa, sobre poluição visual > Revisão das gratuidades no transporte público para idosos abaixo de 65 anos > Mudanças no orçamento de 2017, que poderão ser feitas até 120 dias após aprovação da lei DESAFIOS > Doria mandou cortar 30% dos cargos comissionados, que costumam abrigar a base aliada > Judicialização barrou projetos de Haddad; oposição pode usar a mesma arma contra Doria > PSDB vai apoiar Milton Leite (DEM) à presidência, que era cobiçada por Mario Covas Neto (PSDB) CUSTOS R$ 520 mi foi o valor das despesas da Câmara em 2015 R$ 18,9 mil será o salário dos vereadores em 2017, que ainda recebem R$ 143 mil para pagar até 20 assistentes R$ 980 mil foi o valor que Doria investiu do próprio bolso na campanha de vereadores