Novos prefeitos falam em aperto e reclamam da crise
Em Porto Alegre, Nelson Marchezan Junior (PSDB) afirma que a situação tem uma gravidade ‘jamais vista’
Eleitos há pouco mais de dois meses, os novos prefeitos assumiram neste domingo (1º) com discurso de crise e promessas de cortes.
Do Sul ao Norte do país, os mandatários destacaram em seus pronunciamentos a dificuldade financeira sem precedentes e o foco no combate às “mordomias”.
Os eleitos assumem em um cenário de contenção de gastos. Como mostrou reportagem da Folha no último sábado (31), as receitas encolheram com a crise, e muitos municípios reduziram obras, investimentos e suspenderam até reajustes salariais nos últimos dois anos.
Os novos mandatários sinalizam continuar com o ciclo de aperto fiscal: ainda antes da posse, diminuíram secretarias e anunciaram cortes de cargos comissionados.
Um dos discursos pela redução de gastos foi o do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), para quem as “mordomias” são um “símbolo execrável” de abuso de poder. “O tempo é de crise. A ordem é não gastar”, disse.
“Estamos enfrentando uma crise de proporções jamais vistas, mas essa é também uma oportunidade de mudar a vida das pessoas para melhor”, disse o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Junior (PSDB).
Segundo ele, o Brasil teve de aprender a lidar com a incompetência na gestão dos recursos, o que teria levado a economia a “ficar de joelhos” e a voltar a ter índices de desemprego há muito tempo não vistos.
A cidade prevê um déficit de quase R$ 260 milhões em 2017, dificultando investimentos em áreas como saúde e educação.
Além disso, a capital dificilmente conseguirá escapar dos reflexos da crise financeira que assola o Estado do Rio Grande do Sul, atualmente comandado pelo governador José Ivo Sartori (PMDB).
Uma das preocupações dos habitantes da cidade é a segurança, agravada pela insatisfação dos policiais militares com as “pedaladas” e as medidas de combate à crise tomadas pelo governador.
O ex-prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), reclamou em seu discurso que os municípios cada vez mais têm que assumir responsabilidades sem contrapartida de investimentos adequados, o que faz, com o passar do tempo, com que as cidades tenham que prestar serviços com menos qualidade. PARENTES Nos discursos, os novos prefeitos também citaram familiares políticos. Marchezan Jr., de Porto Alegre, lembrou do pai, o ex-deputado Nelson Marchezan. Ele também relatou que aprendeu a fazer política em casa, sem aceitar as opiniões apenas dos “que gritam mais alto”.
Em Salvador, o prefeito reeleito ACM Neto (DEM), que obteve 74% dos votos válidos, citou o avô e padrinho político Antônio Carlos Magalhães, ex-governador e senador pela Bahia, morto em 2007. Ele chorou ao lembrar do pai, da avó e familiares.
O atual prefeito lembrou da votação expressiva que teve na disputa de outubro de 2016. Ele atribuiu os números a “recuperação do prestígio da cidade”. E concluiu negando uma frase de mega astro da música mundial. “Ao contrário do que disse John Lennon, ao fim dos Beatles, o sonho não acabou. O sonho de melhorar continua”.
Cotado para a disputa do governo da Bahia em 2018, quando estará no segundo ano do atual mandato, contra o atual governador e rival político Rui Costa (PT), ACM Neto não tocou no assunto durante a posse.
Mas alfinetou o petista: “Enquanto vários lugares do Brasil pioraram, com a crise econômica do país, Salvador melhorou. E sei que isso incomoda muita gente que torce contra”, disse, arrancando aplausos.
O prefeito de Salvador planeja editar um decreto de corte de até 10% no orçamento municipal. Em seus cálculos, representa uma economia de até R$ 6,5 milhões.
ANDRÉ UZÊDA, GABRIEL GALLI, CAMARGOS, DANIEL
DE CURITIBA
Ao tomar posse neste domingo (1º), o prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PMN), 60, prometeu cortar 40% dos cargos comissionados da prefeitura e disse que fará da saúde sua prioridade.
“A prefeitura está abusivamente inchada e partidária”, disse. “Vou reduzir a máquina pública e reerguer a cidade acima das dificuldades.”
Greca afirmou ainda não conhecer a situação financeira da prefeitura, devido a uma “transição sôfrega”, mas prometeu um balanço até dia 10.
Para contornar a crise econômica e a queda de receitas, declarou que irá promover um mutirão nas execuções fiscais do município, que afirmou estarem paradas.
Na saúde, prometeu desafogar as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e criar leitos de UTI para dar retaguarda ao atendimento nos postos de saúde. “UPA não pode ser hospital”, disse.
Greca foi à cerimônia de posse de ônibus —o veículo, elétrico e em fase de testes, foi fretado especialmente para levá-lo, junto ao seu secretariado. O ônibus, da Volvo, ainda não é usado no transporte público da cidade, que é baseado exclusivamente em ônibus e tido como modelo para o país.
Hospitalizado neste sábado (31) após passar mal por falta de ar, Greca usou uma entrada lateral para chegar ao plenário da Câmara.