Folha de S.Paulo

Sobreviven­te baleado se fingiu de morto

- VENCESLAU BORLINA FILHO COLABORAÇíO PARA A EM CAMPINAS PATRICIA PAMPLONA ENVIADA ESPECIAL A CAMPINAS COLABORAÇíO PARA A EM CAMPINAS

FOLHA,

Uma festa de família para a celebração do Réveillon terminou em tragédia em Campinas, no interior de São Paulo. Um homem invadiu a casa, no Jardim Aurélia, bairro de classe média, e matou a tiros sua ex-mulher, seu filho de 8 anos e outras dez pessoas que estavam no local.

Segundo a polícia, o técnico de laboratóri­o Sidnei de Araújo, 46, se matou na sequência com um tiro disparado de uma pistola 9 mm contra a própria cabeça. As demais vítimas morreram com tiros no peito e das costas. Foram baleadas 15 pessoas de três famílias que estavam na casa para a virada do ano.

Das quatro vítimas resgatadas com vida da casa, uma morreu e três seguiam internadas neste domingo (1º) em unidades hospitalar­es, com estado de saúde estável.

Outras três pessoas saíram ilesas da chacina —duas se esconderam em banheiros da casa e a terceira foi poupada pelo atirador. Ela segurava um bebê no colo e teria ouvido de Araújo que “ela nunca havia feito nada contra ele”, segundo informou a polícia.

O crime ocorreu no final da noite deste sábado (31), faltando poucos minutos para a virada do ano. O atirador chegou de carro, pulou o muro da casa e começou a atirar.

O alvo principal era Isamara Filier, 41, sua ex-mulher, que também foi atingida e morta pelos disparos. Ela estava separada de Araújo, que não aceitava o fim do casamento, há cerca de três anos. FOLHA,

A irmã de uma das vítimas sobreviven­tes da chacina em Campinas (interior paulista) na noite de sábado (31) afirmou que Sandro Regis Donato, 44, se fingiu de morto para não levar mais tiros.

Ele foi ferido no abdome e socorrido no hospital municipal Mário Gatti. Segundo a assessoria do hospital, a vítima passou por cirurgia e o estado clínico atual era estável.

“Meu irmão se fingiu de morto para não morrer de verdade. Ele levou o primeiro tiro, caiu e ficou sem se mexer. Parentes do técnico de laboratóri­o dizem que ele se queixava de não poder ver o filho.

Antes de matar a família, Araújo escreveu cartas revelando seus planos, como revelou o jornal “O Estado de S. Paulo”. Uma era direcionad­a ao filho e a outra, à sua namorada, e ambas haviam sido enviadas para amigos.

Nos textos, ele diz que iria morrer por justiça e pelo direito de ser pai. “Filho te amo muito e agora vou vingar o mal que ela nos fez!”, escreve ele. “Quero pegar o máximo de vadias da família juntas.”

A dona da casa onde ocorria Graças a Deus ele está vivo, mas estamos todos muito abalados”, disse a mulher, que não quis se identifica­r.

Ela deu o depoimento no momento em que saía da casa, cena do crime. Ela estava acompanhad­a de mais dois homens. Um deles aparentava estar nervoso e saiu acelerando o carro, o que assustou as pessoas próximas.

O imóvel foi lavado por familiares, e o sangue das vítimas escorreu pela calçada. Um tapete com sangue e quatro sacos de lixo foram amontoados em frente à casa.

A aposentada Antonia Costa Lopes afirmou que conhecia a festa de Réveillon era tia de Isamara e também morreu.

Um adolescent­e de 17 anos que saiu ileso disse à polícia que pensou que o barulho dos tiros era de fogos. Só percebeu que seus parentes estavam sendo mortos quando viu um tio caído. Perdeu a avó e a mãe. O pai foi baleado.

Escondido no banheiro, o adolescent­e conseguiu acionar a polícia por telefone e ouviu Araújo ameaçar Isamara antes de matá-la: “Vou te matar. Você tirou meu filho”.

O jovem também ouviu o desespero do filho do atirador antes de morrer: “Você a dona da casa, Antonia Dalva Ferreira, 62, morta na chacina. Segundo ela, na casa moravam ainda um genro, uma filha e o neto de 17 anos, que conseguiu escapar.

“Estou muito abalada com tudo isso. Estou tremendo, nem consigo falar ou chorar. Eles eram como se fossem da nossa família”, disse a aposentada. “Eles eram unidos.”

A estilista Gláucia dos Santos mora na vizinhança e desceu de seu apartament­o para ver os fogos de perto. “Cheguei a ouvir uns barulhos estranhos, tipo pá pá pá. Mas não vi mais nada e subi de volta.” matou a mamãe”.

Ele ainda informou à polícia que o atirador travava uma batalha na Justiça pela guarda do filho. A separação do casal teria sido motivada por uma suspeita de que o atirador “havia abusado sexualment­e do próprio filho”.

Além da pistola, Araújo carregava dez artefatos explosivos. Ele também deixou um áudio em um gravador no qual se desculpava de “algo que poderia acontecer”, além de insultar a ex-mulher.

Em frente ao local, no momento da chacina, ocorria uma festa no salão de uma igreja presbiteri­ana. “Havia umas cem pessoas. Elas correram pra se esconder no salão”, disse um vizinho.

O laboratóri­o federal onde Araújo trabalhava, o CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), divulgou nota dizendo lamentar “profundame­nte” o crime.

Desde que se separou da ex-mulher, o técnico morava sozinho num apartament­o de classe média baixa. Tanto um vizinho dele quanto vizinhos da casa onde aconteceu o crime ressaltara­m que Araújo era amigável e tranquilo. “Ele era um bom homem, mas agora virou o contrário”, afirmou um homem, que pediu para não ser identifica­do. DHIEGO MAIA SANDRA CAPOMACCIO

Alessandra Ferreira de Freitas, 40

Filha de Antonia e irmã de Liliane

Liliane Ferreira Donato, 44

Irmã de Alessandra; seu marido está hospitaliz­ado

Carolina Batista, 26

Filha de Aparecida, que saiu ilesa, e Luiz João, hospitaliz­ado

Antonia Dalva Ferreira, 62

Mãe de Liliane e de Alessandra

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