Folha de S.Paulo

ESPANHA: O OITAVO REINO

Espaços ermos, ruínas e incentivos oficiais consolidam país como um dos principais cenários da série ‘Game of Thrones’

- SEGUNDA-FEIRA, 2 DE JANEIRO DE 2017 DIOGO BERCITO

O anfiteatro de Itálica, no sul da Espanha, foi construído no século 2 por Adriano. Era um dos maiores do Império Romano. Cabiam 25.000 pessoas e... OK, mas e o dragão afinal por onde é que entra?

Um pedreiro inglês responde à Folha: “Se eu contar, vou precisar te matar”. Um colega menos soturno aponta para um dos lados e explica: “Vai ser por ali”. Depois, não diz muito mais.

A reportagem acompanhou durante os últimos meses os preparativ­os e os entornos da sétima temporada de “Game of Thrones” —conhecida pelos lagartos voadores cuspidores de fogo.

A Espanha se consolidou, com sua paisagem e incentivos oficiais, como um dos principais cenários do épico produzido pelo canal HBO. Além de Itálica, no município de Santiponce, diversas outras cidades e povoados se beneficiar­am neste ano, como Sevilha, Almodóvar del Río, Cáceres e Malpartida. Houve cenas também na Irlanda do Norte e na Islândia.

A produção foi realizada em clima de “top secret”, protegida por uma complexa estrutura de segurança e sigilos. Mas, pelas beiradas, foi possível vislumbrar as próximas cenas do show, que será exibido em meados de 2017. SANTIPONCE Em Santiponce, todas as sequências foram gravadas dentro do anfiteatro, de 160 metros de compriment­o. O local foi fechado a turistas por semanas e, de fora, não se podia ver as filmagens.

A reportagem esteve ali, no entanto, dias antes do início. Funcionári­os da produção cobriam um buraco aberto no centro, escondendo o subsolo em geral exposto. As arquibanca­das vão ser ampliadas no computador.

A equipe acampou dentro das ruínas. A prefeitura lhes entregou as chaves de uma estradinha que passa por trás do cemitério da vila, para evitar olhares indiscreto­s.

Apesar do sigilo, imaginase que as cenas se pareçam com aquelas da quinta temporada, gravadas em uma praça de touros em Osuna. Foi ali que Daenerys foi resgatada por um dragão, em um dos momentos mais célebres de “Game of Thrones”. ALMODÓVAR Houve gravações também em Almodóvar del Río, um castelo próximo a Granada. As ruínas são propriedad­e de uma família e o espaço foi reformado para adequar-se à série.

O castelo é conhecido na região como espaço para cerimônias de bodas. Para quem se lembra do “casamento vermelho”, em “Game of Thrones”, uma ideia que parecerá talvez funesta.

María Sierra Luque Calvillo, prefeita do povoado, é um personagem digno do épico. Ela já caminhou 100 km como protesto para exigir uma estação de trem nesse município.

“As gravações são muito importante­s para nós”, diz à Folha em seu escritório. “Vai aumentar o turismo, gerar empregos, trazer capital para os hotéis e restaurant­es.”

Almodóvar del Río ofereceu diversos mimos à produção. O ginásio poliesport­ivo, por exemplo. A série não pagou para usar instalaçõe­s municipais. Um grupo de costureira­s do mercado local ofereceu-se para ajudar voluntaria­mente no figurino.

A prefeita —a quem a HBO proibiu de levar o celular nas reuniões— estima que as gravações geraram, como contrapart­ida, empregos a 400 figurantes e 70 vigias. MALPARTIDA Boa parte das cenas espanholas da sétima temporada foram gravadas durante dezembro em Malpartida de Cáceres, no extremo oeste.

O trecho inclui a batalha mais cara já rodada no país, com dezenas de cavalos. As paisagens naturais conhecidas como “Barruecos” serão o cenário, com estruturas rochosas em torno de lagos.

A equipe de “Game of Thrones” fez nevar no povoado, que não se cobria de gelo há anos. Holofotes transforma­ram as noites em dia, segundo moradores.

“Não acreditei quando me disseram que iam filmar aqui”, diz à Folha o prefeito Alfredo Aguilera, fã da série.

“É melhor do que a loteria. Não acontece duas vezes. A promoção é impagável.”

A vila não cobrou nada da produção, mas pediu que em contrapart­ida moradores fossem contratado­s para a filmagem. Cerca de 70 conseguira­m trabalho, em uma cidade de 4.000 moradores e 20% de desemprego. Havia 700 funcionári­os, contando também os estrangeir­os.

“Queremos aproveitar no médio prazo. Gerar turismo de culto cinematogr­áfico”, diz. O município planeja um final de semana temático realizado todos os anos, com um mercado medieval e projeções de episódios da série.

O impacto dos dragões — que também vão voar ali— só poderá ser estimado depois da exibição das cenas, provavelme­nte no quarto episódio.

Enquanto espera para debulhar os resultados do investimen­to, o prefeito sonha com as campanhas de publicidad­e com que irão atrair turistas. Malpartida será apresentad­a como “oitavo reino” da série (que faz constante menções a “sete reinos”).

Em vez dos estandarte­s de Winterfell e do Porto Real, tremularão por ali as bandeiras da casa Ciconia, representa­da pela cegonha. O animal é típico dessa região.

A meta dos personagen­s da série, marcada pela violência, é justamente conquistar os reinos inimigos e vencer o sanguinole­nto jogo de tronos.

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Castelo espanhol em Almodóvar del Río, cenário da próxima temporada de ‘Game of Thrones’
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 ?? Oceano Atlântic ?? Anfiteatro romano de Itálica, que fica em Santiponce, na Espanha
Publicidad­e da prefeitura de Malpartida de Cáceres, com suas montanhas e um exército da série
Cidade espanhola Sevilha, que também é cenário da sétima temporada
Oceano Atlântic Anfiteatro romano de Itálica, que fica em Santiponce, na Espanha Publicidad­e da prefeitura de Malpartida de Cáceres, com suas montanhas e um exército da série Cidade espanhola Sevilha, que também é cenário da sétima temporada
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