Folha de S.Paulo

Ação de Moro impulsiono­u impeachmen­t, diz Cardozo

Para o petista, decisões do juiz da Lava Jato ‘ultrapassa­ram a legalidade’

- WÁLTER NUNES

Advogado de Dilma no processo de cassação vê em Lula nome que pode unificar a esquerda nas próximas eleições

No último dia 14 de novembro, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo reassumiu a cadeira de procurador do município de São Paulo, cargo para o qual passou em concurso em 1982 e está afastado desde 1994, quando assumiu uma vaga de vereador.

Cardozo, que serviu ao governo Dilma Rousseff desde o primeiro dia do mandato da petista, agora tem como chefe o prefeito tucano João Doria. Como o trabalho na prefeitura não o impede de advogar, ele também trabalha para clientes particular­es.

Longe do governo federal, onde diz ter evitado declaraçõe­s que causassem problemas políticos, ele agora não poupa críticas a desafetos.

Sobre o juiz federal Sergio Moro, diz que as decisões dele interferem nos processos políticos e sustenta que foi cometido um ato ilegal que “propulsion­ou o impeachmen­t”, em referência à divulgação de áudios de conversas de Dilma.

“Se realmente as coisas se confirmare­m que para alguns a lei vale e para outros a lei é só sorrisos, efetivamen­te vai mal a coisa”. Leia trechos da entrevista à Folha. Prefeitura com João Doria O servidor público tem que servir dentro de suas funções seja qual for o governo, pouco importa se ele concorda ou não concorda com o governo. Futuro do PT Tivemos uma grande ofensiva contra nós. Pelo fato de uma pessoa ter sido acusada de praticar um ato ilícito se tentava colocar a pecha em todo partido de ser um partido que atuava no ilícito. Enquanto idênticas situações em outros partidos simplesmen­te eram esquecidas.

O PT tem que resgatar o seu papel de intransigê­ncia na luta ética. Lula Temos um nome muito forte [para a disputa presidenci­al] que é o do presidente Lula. Mas uma das coisas que o PT tem que fazer é dialogar com muita parceria, com muita humildade com os outros setores de esquerda.

Sem sombra de dúvida Lula me parece um excelente nome que pode unificar toda a esquerda.

Eu acredito que ele demonstrar­á sua inocência [nos processos em que é réu] e espero imparciali­dade na decisão. Sergio Moro É um juiz que teve um papel muito importante no processo do combate à corrupção no país. Eu o considero uma pessoa tecnicamen­te muito preparada, mas também sou crítico de algumas decisões dele. Eu nunca falei isso, mas em certos momentos me parece que o juiz Sergio Moro decidiu questões que efetivamen­te ultrapassa­ram a legalidade.

Se os áudios [conversa entre Dilma e Lula sobre o termo de posse de sua nomeação para a Casa Civil] envolviam indícios de crime, teriam que subir pro Supremo em sigilo, segundo a lei. Se não envolviam, teriam que ter sido incinerado­s. Moro disse que não envolviam indícios de irregulari­dades, então, se não envolviam, ele não poderia ter divulgado conversas privadas. Isso ofende claramente a lei, ofende claramente a Constituiç­ão.

Nesse caso um dos fatores que impulsiono­u e propulsion­ou o impeachmen­t foi a divulgação desses áudios feita em total desconform­idade com aquilo que a legislação brasileira determina.

Acredito que isso [a imparciali­dade] tem que ser examinado de uma forma muito criteriosa. Se realmente as coisas se confirmare­m que para alguns a lei vale e para outros a lei é só sorrisos [referência à foto em que Moro aparece sorrindo com Aécio Neves em evento], acredito que efetivamen­te vai mal a coisa. sentidos. Um governo de homens brancos, sem mulheres, conservado­res e que seguiu uma linha política que não foi a que elegeu a chapa Dilma-Temer.

É incrível que as pessoas tenham vendido a ilusão para a sociedade de que um governo com essa composição, com essas caracterís­ticas não seria atingido [por acusações de corrupção] no seu curso.

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Pedro Ladeira - 01.jul.2016/Folhapress José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça de 2011 a 2016

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