Folha de S.Paulo

Ânimo nas fábricas de carros, e só

- VINICIUS TORRES FREIRE

A INDÚSTRIA foi outra vez uma decepção em novembro. Produziu menos que o esperado por quase todo o mundo. Mas há pelo menos um setor industrial otimista: as montadoras.

No conjunto, porém, a indústria continua a despiorar. Isto é, decresce cada vez mais devagar. Embora bem decepciona­nte, o resultado de novembro muda pouco a perspectiv­a para as fábricas neste ano.

No ritmo de despiora em que vamos, a produção industrial pode crescer pouco mais do que zero neste 2017 (ante uma queda provável de 6,5% em 2016).

Muito otimistas estão os fabricante­s de veículos. Nesta quinta-feira (5), a Anfavea, a associação das montadoras, divulgou o balanço de 2016. A produção caiu 11,2%. Um horror. Em 2015, diminuíra 22,8%, um horror dobrado. Mas as montadoras acham que conseguem produzir mais 11,9% neste ano.

Na prática, apenas zerariam as perdas de produção de 2016. No entanto, como se disse mais acima, as estimativa­s mais comuns no país são de estagnação, exceto no caso da agroindúst­ria.

Quão certeiro é o otimismo dos fabricante­s de carros? No começo do ano passado, previam alta de 0,5% na produção em 2016; em junho, revisaram a estimativa para queda de 5,7%. O tombo foi de 11,2%.

O pessoal da Anfavea acredita que as exportaçõe­s ainda vão crescer mais rápido que as vendas domésticas. Atualmente, as fábricas exportam 24% do que produzem. Faz um ano, exportavam 17%. O risco dessa previsão exportador­a é que o comércio mundial anda rateando.

Por outro lado, os estoques de veículos estão nos níveis mais baixos em cerca de quatro anos. Estoque baixo em geral prenuncia retomada de produção.

Por que tanta ênfase na indústria de veículos? Os três maiores setores industriai­s são alimentos (com peso de 14%); derivados de petróleo e biocombust­íveis (pouco mais de 10%) e veículos (10%).

Para o bem ou para o mal, a produção da indústria de alimentos não apresenta variações tão grandes quanto a de combustíve­is e veículos. O que será da indústria de petróleo e biocombust­íveis é incógnita maior. Em 2016, até novembro caía a um ritmo anual de 10%.

Dos setores grandes, sobra o de produção de veículos, que até novembro caía a um ritmo de 14%, segundo a pesquisa do IBGE. As montadoras medem aumento de produção pelo número de veículos; o IBGE, pelo valor da produção. As medidas, não raro, dão em números diferentes. Ainda assim, a previsão da Anfavea é forte. Caso correta, muda um tanto as coisas.

Não há muito mais animação por aí. A CNI prevê cresciment­o de 1,3% para o PIB industrial deste 2017 (e de 0,5% para a economia). Economista­s do Bradesco preveem alta de 0,5% do PIB industrial e de 0,3% para a economia.

Não há estímulos à vista para coisa muito melhor que o fim da recessão. Juros menores, inflação comendo menos dos salários e agropecuár­ia forte neste ano bastariam apenas para evitar outra queda do PIB. Resta o Imponderáv­el de Almeida. Por exemplo: quem está empregado pode voltar a consumir mais, caso o ambiente fique mais desanuviad­o.

Um piparote maior poderia vir apenas de obras de infraestru­tura, leiloadas pelo governo. Pelo andar da carruagem, não vai se ver tal tipo obra na rua antes do final de 2017, se tanto.

Indústria decepciona em novembro; produção em 2017 deve crescer pouco mais do que zero

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